Fã Fic – 3 irmãos. Um amigo, um cupido e um anjo ( Capítulos 16, 17 e 18)

***

Como se já não bastasse as 12 horas em voo, ainda fiquei 2 horas trancada dentro do avião até o piloto descobrir que o caminhão que estava em nossa frente não descarregava nada, apenas estava parado.
Pego um táxi para chegar no condomínio onde moro, ou morava. Não sei.
Vou, o caminho inteiro, imaginando como será minha vida daqui pra frente, em como mudei, em tudo que estou deixando para trás aqui, mas não me arrependo, não agora, porque sei que vivi todo esse tempo esperando esses dias chegarem e, finalmente, eles chegaram.
Chego em casa exausta e minhas costas doem quando Marina me abraça.
Marina cuida de mim desde os meus 7 anos. Hoje, claro, seus cabelos brancos já querem aparecer, mas a doçura de sempre está ali e a amizade que cresceu conforme eu também cresci. Foi ela quem cuidou da minha casa durante esses 4 meses que estive fora, não saberia o que fazer se não tivesse ela.
Tudo está exatamente como deixei.
Deslizo minha mão pelo sofá, olhando com calma cada detalhe para matar a saudade de cada pedacinho dessa casa.
Admito que a casa é grande demais para mim, mas não costumava ser assim quando meus pais eram vivos. Claro que, depois do falecimento deles, mudei as cores, alguns quadros, cômodos, para me deixar mais à vontade com tudo isso.
A sala é o primeiro cômodo da entrada principal, as paredes são em tom de bege, a estante é cinza, assim como a mesa de centro, a cortina que segue toda a lateral de uma das paredes e as duas poltronas, mas o jogo de sofá é branco e, como sou estranha, sempre deixo almofadas em tom de marrom para dar um destaque em todo esse tom claro. Do lado da sala tem a sala de jantar e a cozinha, tudo , nesses cômodos são divididos em móveis preto e inox com os pisos e paredes brancas. Seguindo o corredor, atrás da sala, tem a biblioteca, que também uso como quarto de música, as paredes, assim como o piso, são brancas, mas as prateleiras, assim como o sofá, a poltrona e a cortina são vermelhos, na parede, ao lado da porta, fica o violão que eu costumava tocar.
Embaixo da escada tem o banheiro, esse, diferente do que tem no meu quarto, está dividido entre as cores cinza, branco e preto.
Subo as escadas, deslizando os dedos entre as portas brancas e as paredes cinza. De um lado os dois quartos e, no fundo, o banheiro, exatamente como o banheiro de baixo. E, do outro lado, meu quarto. Abro a porta e uma explosão de felicidade surge ao ver cada parte. Três paredes são bege, a parede onde a cama esta encostada, assim como o guarda-roupa e a cortina, é vermelha.
Coloco minha bolsa na poltrona e guardo os livros na estante ao lado da cama. Abro a cortina e deixo o espelho sobre a cama refletir a claridade da tarde. O banheiro, aqui, é maior que os outros banheiros da casa, o piso é marrom em um tom claro, as paredes são brancas, o armário embaixo da pia é vermelho, assim como os azulejos da parede onde fica a banheira.
Penso em todas as coisas que tenho que fazer enquanto tomo banho. Quatro dias, apenas quatro dias para pedir demissão, cancelar a faculdade, cancelar os cursos e, o pior, ir no interior da cidade, na fazenda do meu tio, ver o que fazer com o Bicuço que é o cavalo que ganhei de presente dele quando completei 11 anos. Mas o problema não está no Bicuço, e sim no monte de babozeira que vou ter que ouvir quando disser que estou me mudando para um outro país.
Me pego, não com medo, mas imaginando tudo o que não contei pro Ignazio e qual será a reação dele ao saber de tudo isso.

***

Acordo, assustada, com o barulho do celular tocando. A cortina continua aberta, mas ainda não amanheceu. Olho no relógio que marca 05h15.
Estou com sono, não quero, mas atendo a ligação.

— Boooom Diaaa -diz Ignazio, em português, da forma mais animada possível, com o sotaque mais lindo do mundo;
— Booom dia pra você também -digo, tentando parecer que estou acordada há tempos.
— Como foi de viajem? Chegou que horas? Fiquei ligando para você mas não completava a ligação. Que horas são aí agora?
— Calma, uma pergunta de cada vez. O celular descarregou, cheguei um pouquinho tarde e aqui são 5 horas da manhã. Mas e você? Como foi na reunião? – Consigo decorar horários e tarefas com facilidade, já tenho costume com isso
— Você quer que eu ligue depois?
— Não! Nunca.
— É ela? Conseguiu? -Escuto a voz do Piero no fundo- Oiiiiiiiii Moooooh, que saudade! Volta logo. Coloca no viva voz, Ignazio. Gianluca, Gianluca, Maanuela no telefone. -Fico rindo enquanto escuto eles discutindo sobre colocar a chamada no viva voz e me bate uma saudade de cada um deles.
— Amore, você tá no viva voz, Piero e Gianluca estão aqui.
— Oiii Moh -diz Gianluca, em português. Que coisa mais linda para escutar nesse horário.
— Mooh, como foi de viajem? Eu disse pro Ignazio que ai é muito cedo, mas ele não quis me ouvir.
— Ciao, Ragazzi. Gian, come stai? A viajem foi ótima Piero, e as coisas por ai? Vocês estão cuidando do Ignazio, né?
— Estamos cuidando sim. Estamos com saudade. -Diz Piero.
— Verdade, mas Ignazio está mais, com certeza. – Diz Gian.
— Também estou com saudade, meninos, mas volto logo, prometo. Vocês estão onde agora? Ignazio conseguiu acordar?
— Acordar não foi problema, amore.
— Claro, ele nem dormiu ainda.
— Gianluca… ma…. Gianluca, perché? -diz Ignazio, de um jeito muito engraçado. Eu não consigo parar de rir.
— Moh, ele não dormiu, conversa com ele. Ele vai te buscar. Ciao, bacio, ti chiamo doppo.

Como assim o Ignazio não dormiu? Ele não fica sem dormir. E que história é essa de “vai te buscar”?. Espero alguém falar alguma coisa, mas o telefone fica mudo e depois de um tempo acabo desligando.
Tento voltar a dormir, mas não consigo, não agora que estou preocupada com Ignazio.
Tento ligar para ele várias vezes, mas não consigo completar a ligação.
Vejo o dia amanhecer.
Ligo a televisão para me distrair. Levanto para preparar o café e em seguida me arrumo para ir na escola onde faço curso para cancelar a matrícula.
Já estou no carro quando Piero me liga.

— Finalmente! Onde está o Ignazio?
— Ele já volta. Desculpa ter desligado o telefone de manhã.
— O que aconteceu?
— Nada de mais.
— Que susto Piero, nunca mais faça isso!
— Calma. Ignazio chegou, vou passar pra ele.
— Amore?
— Ignazio, o que você está aprontando? Você não dormiu? Será que vou ter que pedir pra sua mãe ir ai pra Roma cuidar de você, Ignazio?
— Só se ela for te ver comigo, mas acho que ela não vai querer. Hey, calma, uma pergunta de cada vez, lembra?
— Sei pazzo?  -digo rindo. O escuto rir, e isso me faz sentir saudade de poder tocar seu sorriso- Você me deixou preocupada.
— Amooore?
— Oiii, Amooor? Fala, mas fala logo, o que você aprontou?
— Você nunca me falou como é sua casa.
— Mas você nunca perguntou -digo rindo.
— Se eu for ai você me mostra?
— Ignazio…. Conta logo, rapaz!
— Você me busca no aeroporto às 22h?

Primeiro penso que isso é uma brincadeira, mas acredito quando Gianluca confirma.
Fico muito, muito mais calma em saber que não sou só eu que morro um pouquinho a cada segundo que fico longe de Ignazio, e agradeço imensamente por ser ele quem demonstra isso.
É estranho ficar longe dele, me pego imaginando o que ele faria em uma situação ou outra, mas a vontade de tocar seu rosto enquanto ele sorri, ah, isso está acabando comigo!
Fico girando a aliança no meu dedo, já me acostumei com ela, esperando que os segundos passem mais rápido.
Passo o dia inteiro brincando dos joguinhos que chamo de “Amar Ignazio É..” é ficar imaginando qual roupa ele está usando, é contar os segundos para vê-lo novamente, é tentar calcular o lugar exato onde as covinhas vão ficar de acordo com o tipo de sorriso, é imaginar qual tipo de palhaçada ela vai aprontar, é entregar tudo à ele e o deixar guiar cada passo.
Passo a tarde cancelando meus cursos. Libras, adeus inglês, francês, aulas de violino, ballet e espanhol. Meu espanhol nunca foi bom, mesmo, sempre confundo tudo.
Chego em casa por volta das 17h.
Após o banho mais rápido da minha vida, coloco uma calça jeans cintura alta preta, um bota de cano baixo preta, regata branca, blusa cinza por cima e amarro o cabelo em rabo de cavalo. Pego o papel onde anotei todas as informações de desembarque do Ignazio e tento controlar os batimentos do meu coração, e a minha respiração, enquanto dirijo até o aeroporto.
Dizem que a distância aumenta o amor mas, na verdade, o que a distância aumenta é a saudade.

***

Pego trânsito e me atraso para chegar no aeroporto. Na pressa, no nervosismo e na ansiedade acabei deixando o celular em casa.
Começo a roer a unha ao olhar pro relógio na parede e ver que já passou das 22h.
Chego na sessão de desembarque e logo o avisto de costas, com o celular e a mala na mão, a mochila nas costas.
Me aproximo, com cuidado, por trás dele e coloco minhas mãos em seus olhos.

— Adivinha quem é!

Ele se vira tirando minha mão do seu rosto e sorrindo. Como o sorriso dele me desmonta, me desequilibra e faz meu coração bater descontroladamente. Tento tocar seu rosto, mas ele encontra minha boca antes que eu possa fazer o que quero.
Sinto a sensação de vazio dos primeiros dias que o conheci mas, aos poucos, tudo esquenta e arrepia ao mesmo tempo.
Como sempre, sou eu quem me afasto. Ele fecha os olhos enquanto deslizo minha mão pelo seu rosto, o sorriso aparece quando paro meu dedo sobre sua boca e aqui estou eu, tocando seu sorriso novamente. Sinto um arrepio, como um choque, percorrer meu corpo mas ele finge não perceber e continua com os olhos fechados. Quero dizer que confio nele, mas não sei se vou conseguir dizer essas palavras, assim, dessa forma, então decido começar aos poucos.

— Se você soubesse, ah, Ignazio, se você soubesse como amo o seu sorriso, o quão influente ele é sobre mim. Se você soubesse quantos batimentos a mais, quantos arrepios e o tamanho da sensação de vazio. Ah Ignazio, se você soubesse como senti sua falta.

O sorriso dele aumenta, e penso ser de propósito. Ele aproxima o rosto do meu, e agora faz com que eu feche meus olhos, antes que eu me desmonte.

— Ah, Manuela, se você soubesse que entreguei o meu sorriso a você na primeira vez que te vi, que você é o motivo de cada um deles e eu travesso o mundo por você.

O deixo fazer o que ele quer, porque já me acostumei a isso também. Ele beija minha testa e em seguida minha boca. É simples, já não ligo por estarmos em público, não ligo para o que as pessoas vão pensar porque ninguém sentiu o vazio que eu senti desde o momento que entrei no avião para vir ao Brasil, então deixo Ignazio fazer o que quer.
Sinto sua aliança gelada enquanto a mão dele desce pelo meu braço e para na minha cintura. Não é mais estranho, é preenchedor, como se cada parte dele preenche-se a lacuna vazia do meu corpo e da minha vida.

— E eu atravesso o mundo com você e estou pronta para viver os seus voos.

Ele me abraça, forte, e deslizo minha mão por seus cabelos. Sinto as lágrimas percorrendo meu rosto, nunca sei quando ou como elas chegam, só sei que elas aparecem e não tenho como controlá-las. É a minha forma de demonstrar sentimento.

“Ah, Ignazio. Se você soubesse como é difícil para mim dizer que amo alguém, se você soubesse que tenho medo de você ir embora, se soubesse que tudo o que faço é pensando em você, que largo tudo, porque não sei mais viver minha vida sem você. Você assumiu o controle e gosto do rumo que você dá as coisas. Gosto de poder dizer que te amo sem precisar me preocupar se você vai estar aqui amanhã porque eu sei que você vai estar, eu sei que em cada momento poderei ver o seu sorriso e aprender a decifrá-los virou meu hoob. Se você soubesse o quanto te amo, o quanto você me mudou e tudo o que estou disposta a te entregar. Ah, se você soubesse que passei a minha vinda inteira esperando um anjo, e esse anjo finalmente chegou, Ignazio.”

continua…

Um comentário em “Fã Fic – 3 irmãos. Um amigo, um cupido e um anjo ( Capítulos 16, 17 e 18)

Deixe um comentário