Fã Fic – 3 irmãos. Um amigo, um cupido e um anjo. (Capítulos 21 e 22)

***

Deixo tudo para trás, disposta a começar de novo, do zero.
Não é simples, mas saber que o Ignazio me entende faz com que eu me sinta melhor.
Voltamos à Itália e, como eu esperava, discutimos porque Ignazio quer que eu fique em sua casa, mas insisto para ficar no hotel, e acabo por fazer isso. Mas não por muito tempo.
Logo começo a me enturmar na minha nova forma de trabalho, que, primeiramente, segundo a Bárbara “deveria ser voltada aos fãs” já que, pelo visto sei “lidar muito bem com as pessoas”. Penso, comigo mesma, que isso seja o resultado de todas as vezes que implorei para que eles tirassem foto ou fossem ao encontro de algum fã que chegou a mim pedindo isso. Não sei, e acho que nunca saberei, como negar essas coisas. Então, no início, meu único dever era manter o vínculo, tanto do Ignazio quando de Piero e Gianluca, o mais ativo e vivo possível.
Isso era fácil.
Mas, quando os rapazes se juntaram com a equipe para definir a forma como seria elaborada a turnê pelo exterior e acabei por dar dicas que, devido meu antigo trabalho como organizadora de eventos e estar tão ligada aos fãs agora, foram proveitosas, ganhei trabalho extra.
Hoje me desdobro no máximo possível.
Visivelmente ligada aos fãs 24 horas por dia. Não compreendo todos, claro, não falo todas as línguas. E, entre essas 24 horas encontro tempo para: reuniões com a equipe, com os rapazes, ter ideias novas e elaborar um projeto para levar até eles tentando fazer com que seja aprovado e, claro, correr de um lado para outro atrás de cada um deles, quando possível, para realizar o sonho de cada menina.
Não pensei que seria corrido dessa forma, e Ignazio também não.
Já discutimos sobre isso, é evidente, mas ele, por mais que não queira, está mais atarefado que eu nesse momento.
São dois meses atordoados, de horários desencontrados. Ele dorme e eu paro na frente do computador respondendo e-mails, mensagens e dando vida a ideias; ele acorda e eu vou dormir; ouço sua voz o dia inteiro no fone, mas não é possível acompanhá-lo visivelmente e, quando finalmente encontramos um espaço de uma hora para sair nunca resulta em um encontro a dois.
Lembro de uma noite em que ele me tirou da última reunião antes de iniciar a turnê e da forma mais pura possível me levou para jantar. Estava tudo correndo como o esperado até que o garçom veio até nós pedindo desculpas, mas não sabia mais o que fazer para tirar o grupo de meninas da frente do restaurante e, como sempre, me coloquei em último plano e insisti para que Ignazio fosse vê-las.
Algumas noites antes eu havia prometido que iria sair com eles após a reunião deles com o pessoal do escritório, me lembro de ficar aguardando na sala de espera e, como não dormia direito, acabei dormindo sentada na cadeira. Descobri, no dia seguinte, que foi Ignazio quem me levou pro quarto.
É estranho, é cansativo, é exaustivo mas também é gratificante.
Cada sorriso e cada “obrigado” fazem todos os segundos valerem a pena.

Antes de partimos para iniciar a turnê que está prevista para durar cerca de um ano, Piero revela que irá se casar quando voltarmos, o que já surpreende a todos, e convida Ignazio e eu para sermos padrinhos. Impossível negar um convite desses, e vê-lo feliz faz que eu me sinta feliz também.
Tenho amadurecido, e muito, já se tornou visível. Me esvaziei e deixei que Ignazio, mesmo de longe, me preenchesse, e é isso o que ele tem feito.
Ainda não aprendeu a controlar as mãos, os olhos, os pensamentos… quando estamos a sós. Imagino o quanto é difícil pra ele, mas também o vejo se automodelando para aprender a se adaptar e percebo, cada vez mais presente, o quão Piero estava certo ao dizer que eu faria tão bem ao Ignazio quanto ele faria a mim.
Como ele estava certo.

***

Estou sentada, no camarim, lendo, como de costume, enquanto os rapazes fazem mais um programa ao vivo. O último antes de partimos para o início da turnê.
A Bárbara nunca fica comigo no camarim, acaba sempre acompanhando cada passo dos rapazes, já me acostumei a isso.
Como mania, coloco o fone de ouvido e me concentro no que estou lendo. Na minha frente tem uma televisão, ligada no mesmo programa onde os rapazes estão gravando ao vivo, de vez em quando dou umas olhadas para tentar ter noção do que está acontecendo, mas não dou muita atenção a isso.
Tiro a sapatilha, tropecei ontem ao descer a escada do palco e machuquei o pé, a sapatilha incomoda, mas não tanto quanto o tênia. Visto calça jeans preta e regata branca, sempre tento colocar a roupa mais confortável possível já que ando de cima pra baixo o dia todo, segurando uma fã e correndo atrás de outra.
Estou quase pegando no sono quando alguém abre a porta do camarim e me assusto ao ver um homem segurando uma câmera na minha direção, atrás dele vejo a Bárbara rindo, olho para a televisão atrás de mim quando ela aponta e me vejo na tela. Fico sem reação. Olho pra televisão novamente e vejo Piero rindo, em seguida Gianluca e depois Ignazio, quase que correndo, pelos corredores que não fazem parte do estúdio principal. Não sei o que eles dizem porque abaixei o volume da televisão para me concentrar no livro, mas começo a rir quando vejo Ignazio na porta do camarim.

— Amore, viene!
— Como assim? Vem? Ahn?
— Vem comigo, vem. -Ele estende a mão na minha direção, não dá nem tempo de colocar a sapatilha novamente. Olho de relance para a e não gosto de me ver ali.
— O que você está fazendo, Ignazio. – Falo, quase gritando, mas rindo, principalmente porque estou descalça.
— Não consegui dizer não pro Bruno. Você teria que aparecer em algum programa cedo ou tarde, sabe disso.

Dou risada ao ver suas covinhas, sempre tão fofo. Sim, eu sei, mas penso que nunca estarei pronta para essas coisas.
Ignazio caminha ao meu lado e coloca a mão na minha cintura quando entramos no palco principal.
Vejo Piero e Gianluca sentados no mesmo sofá que vi pela televisão e o sr Bruno na poltrona a frente deles. Câmeras e mais câmeras para todo lado, não me assusto com isso, mas me assusto por estar do lado que está sendo filmado e não do lado que filma, como sempre. Vejo algumas fãs na plateia, as camisetas brancas se destacam no meio de todo o azul do cenário. Me arrependo por sempre optar pela roupa mais confortável já que Ignazio e todos os outros no palco estão vestidos da forma mais formal possível.
Me sinto pior ainda por estar descalça.
Aceno para algumas meninas na plateia quando as ouço gritar meu nome, já me acostumei a isso também. Olho, sutilmente, para os televisores espalhados e me desmonto por dentro ao ver o sorriso do Ignazio, como uma criança quando ganha um doce que quer há muito tempo.

— Então ela é a dona do seu coração, Ignazio? – o Bruno, apresentador do programa, pergunta quando estamos nos aproximando dele.
— Do coração, do corpo, da alma, de tudo.
— Ele está sendo exagerado sr. Bruno, não sou dona de nada, nem dos meus sapatos, como o senhor pode perceber -digo, rindo, enquanto aperto sua mão- é um prazer conhecê-lo.

Em seguida um homem entrega a Ignazio o microfone e ele o coloca em mim, percebo o sorriso aumentar em seu rosto quando ele passa o fio pela minha cintura e para, por tempo maior que o necessário, no início da alça da minha regata ajustando o microfone.
Piero e Gianluca se levantam, como sempre, e me sento ao lado de Gianluca.

— Igny, vai pegar o sapato dela! -Diz Gianluca, enquanto solta gargalhadas.
— Gianluca, vem, senta aqui desse lado – diz Piero- deixe que o Ignazio senta ai.
— Verdade, verdade.

Dou risada enquanto Gianluca troca de lugar com o Ignazio.
Cruzo as pernas rezando para meu pé não ter sujado até aqui.
Atrás do Bruno está a plateia e, vejo, no fundo, uma garota segurando um cartaz com o nome do Ignazio. Ela percebe que a olho e acena para mim, vou, um pouco para o lado e encosto a cabeça no ombro de Ignazio para conseguir vê-la melhor e aceno de volta para ela.
A mão de Ignazio aprendeu o meu costume de acariciar seu rosto quando ele deita a cabeça no meu ombro, e é isso o que ele faz.
Aponto para a menina, para que ele a enxergue e também acene para ela. Finjo não a ver chorar com o aceno de Ignazio porque isso parte o meu coração.

— Pela primeira vez, estou certo? -pergunta Bruno, e Piero faz que sim com a cabeça, sempre rindo- você aparece na televisão, Manuela?
— Sim, senhor. -Respondo, sem perceber a formalidade de sempre.
— Não me chame de senhor, me sinto velho. -Ignazio ri alto, mas é Gianluca quem responde.
— Não adianta pedir, Bruno. Ela é quase casada com Ignazio, tem o gênio difícil como o do Piero mas é minha cópia no lado formal, vai demorar um pouco para ela acostumar. -Gianluca pisca e vejo o quanto nossa amizade cresceu durante esses meses, me identifico um pouco com cada um, mas sempre dou risada quando ele fala isso.
— Então vocês já vão casar?
— O quê? Não, não senhor. -respondo, rindo.
— Filhos?
— Estou gorda dessa forma? Por que nenhum de vocês me disseram? Belos amigos vocês são hein! Tenho que ouvir isso logo em rede nacional? Que vergonha. – Bruno ri demais para poder responder alguma coisa, na verdade todos riem.
— Não, Moh, que isso? Você está ótima assim. -diz Piero, ainda rindo.
— Você não está gorda, está linda, como sempre. Com todo o respeito, Ignazio. -balanço a cabeça enquanto sorrio.
— Não quis dizer isso, me desculpe. Você está ótima, como disse Gianluca, com todo o respeito Ignazio -eles riem- Você é brasileira, correto?
— Sim, sim, sou do Brasil.
— E você foi procurar ela no Brasil, Ignazio?
— Não foi preciso. -Ignazio ri e ajeita uma mexa do meu cabelo atrás da orelha- Piero a encontrou aqui para mim.
— Apenas apresentei, o trabalho de conquistar, e olha que não foi fácil, foi todo do Ignazio.
— E como foi isso?

Dou risada enquanto Piero conta, disputando com Ignazio, como me conheceu e a versão do início do nosso namoro do seu ponto de vista. É engraçado.
Quando, entre uma verdade e outra, Piero deixa escapar sua opinião sobre como eu me comportei, Gianluca se levanta para tentar me defender, sempre sendo um exemplo de amigo.

— E vocês já estão juntos a quanto tempo?
— Quase 9 meses -responde Ignazio.
— Então é sério?
— Sempre foi.
— Todos estão comprometidos agora?
— Sim, Gianluca está com a Martina, mas é o Piero quem está com data de casamento marcada. -respondo, rindo. Gianluca fica de fundo, sempre vejo seus sorrisos na televisão atrás de Bruno.
— Então não serão vocês os primeiros a casarem?
— Não. Ainda não. Está difícil, Bruno. -Ignazio diz, rindo.
— Do jeito que a Mph é, com certeza, até o Gianluca vai casar primeiro -diz Piero.
— Tudo bem pra você, Ignazio? -Pergunto.
— Não me pergunta isso não, estamos ao vivo e temos assuntos pendentes para resolver sobre isso. Se seremos os últimos, é melhor mudar uma regra ai.
— Deixa isso pra lá -digo rindo, vejo Gianluca batendo as mãos na frente do rosto para esconder o sorriso. Ignazio me abraça e, como de costume, a barba dele faz cócegas no meu pescoço.

Bruno, sutilmente, consegue mudar de assunto. Em seguida os rapazes cantam uma música e o programa está para encerrar quando ele volta a fazer perguntas.

— E vocês estão com turnê agora?
— Sim. Vamos ficar quase um ano fora, percorrendo várias cidades, no mundo todo. -responde Ignazio,
— Você vai acompanhá-los, Manuela?
— Sim, vou. Trabalho na equipe. Eles tem que me aturar, querendo ou não -digo, e todos riem.
— Para terminar diferente, defina cada um deles em uma palavra. Do seu ponto de vista, pode ser?
— Com certeza -vai ser fácil, penso.
— Gianluca em uma palavra.
— Amigo -ele se estica, passando por Ignazio, para colocar a mão na minha perna, em forma de carinho.
— Piero em uma palavra.
— Cupido -digo, rindo, e o vejo fazendo um coração com as mãos. Tão fofo.
— Ignazio, em uma palavra.

Estava tudo indo tão simples até agora, até olhar nos olhos de Ignazio e tentar descrevê-lo em uma palavra. Sempre o elogio com palavras diferentes, mas sempre vem um elogio seguido do outro porque é impossível defini-lo em uma palavra depois de todo o bem que ele fez e faz na minha vida. Nunca tentei definir a pessoa dele em uma única palavra então olho no fundo dos seus olhos e demoro um pouco para encontrar, mas encontro.
Respiro fundo.

— Anjo.

Ele me abraça e diz que me ama tão baixo que mal consigo ouvir.

— Que lindo. Não queria interromper esse momento, mas o nosso tempo está acabando. Manuela, defina agora os três em uma palavra.
— Irmãos.

Me sinto sufocada quando Piero e Gianluca me abraçam, ao mesmo tempo, em seguida Ignazio se junta a nós e ouço, entre os “nós amamos você, Moh” e “grazie, Moh” dos rapazes, a plateia batendo palmas e, como sempre, começo a chorar.
Os rapazes se afastam e, Ignazio me abraça. Encosto a cabeça no seu peito para que ele esconda minhas lágrimas enquanto desliza a mão pelo meu cabelo.

— Gianluca, vou mudar sua frase e dizer que a Moh não é só sua irmã -Gian costuma dizer que sou a irmã que ele não teve e, as vezes, assume o papel de irmão mais velho, o que me faz sentir cada vez mais querida- e sim a nossa, de todos nós, irmã.

Choro mais, e Ignazio me aperta. Sinto uma mão no meu ombro e outra no meu braço, mas não sei definir qual é a do Piero e qual é a do Gianluca.
Me afasto, aos poucos, enquanto termino de enxugar as lágrimas.

— Eu amo vocês, rapazes. Mas elas também amam -aponto para as meninas na plateia-, por favor, tirem fotos com elas. Você também, Ignazio.

Eles, simplesmente, olham para mim e sorriem, Gianluca pisca e Ignazio beija minha testa antes de ir até elas.
Volto, ao camarim, conversando com a Bárbara e o Bruno.

— Mona, conta pra ele quantos filhos vocês vão ter.
— Não, Balbie, misericórdia -digo, rindo, mas ela ri mais que eu, sem dúvidas.
— Eu conto. Perguntei pro Ignazio quantos filhos eles queriam ter. A Moh respondeu que 2 estariam ótimos, ai Ignazio respondeu que…
— Respondi que queria ter uns 4 mais os 2 que a Moh quer, teremos 6. -Ele diz, rindo.
— Seis, Ignazio? Chega! Misericórdia.
— Imagina como vai ser fofo.
— Vocês já estão aceitando vagas para a creche? -pergunta Bruno, rindo.

Dou risada, mas é por causa da forma inusitada como Ignazio me pega no colo e gira, enquanto a Balbie e o Bruno caminham na frente.
Ele me coloca no chão aos poucos e, quando consigo sentir meus pés no chão me aproximo conforme aumenta o seu sorriso.

— Eu te amo. Só… queria que você soubesse disso -digo, baixinho
— Eu já sei há muito tempo. -ele responde rindo.
— Convencido -digo, enquanto aperto o nariz dele e, como sempre, as covinhas que me conquistaram estão lá para fazer com que eu me desmanche por dentro e sinta, a cada sorriso, que é impossível não entregar meu coração a ele e tenha a convicção de que ele é mais do que eu posso ver, do que eu posso sentir.
É um anjo.
O meu anjo.

Continua…

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