Fã Fic – 3 Irmãos. Um amigo, um cupido e um anjo. (Capítulos 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 30)

***

Fico atrás de alguns seguranças na frente do palco. Pego alguns presentes para os rapazes quando fãs pedem que eu os entregue. Volto ao camarim para deixar alguns ursos de pelúcia e cartas quando se tornam muitos e difíceis de carregar. Meu trabalho não é esse, mas acabo por fazê-lo também.
Nunca consigo acompanhar mais do que duas ou três músicas completas, mas admito que sempre tento parar para assistir o solo do Ignazio, simplesmente porque não consigo fazer mais nada quando a voz dele atinge meus ouvidos e chega ao meu coração.
Na maioria das vezes fico até tarde, depois dos rapazes, ajudando o staff a desmontar e guardar os materiais.
Já me acostumei a essa correria de estar em países diferentes, com cultura diferente e formas de se expressar diferentes.
Não consigo acompanhar o fuso-horário e, várias vezes, acordo assustada com as ligações de dona Caterina durante a madrugada, mas isso me deixa cada vez mais feliz, já que ela liga diariamente, como uma mãe, simplesmente para saber o que fizemos durante o dia e como está Ignazio porque não é sempre que ele está disponível, ou próximo, para atender a ligação. Mariagrazia já aprontou o mesmo, mas nunca reclamo, se tornou abito. Com Mariagrazia consigo ser cada vez mais sincera, embora todos tenham percebido o quanto mudei, não me estreso mais com tanta facilidade e consigo confiar nos rapazes, sem precisar criar os meus chiliques de antigamente cada vez que alguém mente para mim, mas as minhas regras básicas de convivência com Ignazio se mantêm a mesma e agora que ele se acostumou se tornou mais fácil para nós dois.
A cada dia, semana, mês, que se passa o casamento de Piero se aproxima e não sei como ele consegue esconder o nervosismo, sei que ele está nervoso já que eu, como madrinha, tendo que acompanhar tudo de longe por vídeos e transmissões, estou impaciente porque não consigo lidar com o meu perfeccionismo de longe. Mariagrazia e Eleonora tem me ajudado nesse quesito, mas, mesmo assim, não é fácil e tenho medo de querer mudar toda a organização quando olhar tudo de perto. Quero fazer o melhor, porque o Piero merece, e luto comigo mesma tentando me convencer de que tudo está ótimo e não mudarei de ideia quando voltar a Itália e acompanhar tudo de perto com a Suelen e a Mariagrazia.
Os meses passam, e são raros os dias que consigo ficar a sós com Ignazio.
Passamos mais tempo juntos quando estamos a caminho dos aeroportos e durante os vôos, depois disso nossa vida se resume em estar no mesmo lugar mas ter que ligar para conseguir falar um com o outro. Não reclamo, porque não sei se conseguiria ficar parada no hotel enquanto ele percorre o mundo por meses sem mim. Talvez seja o ciúme, que aprendi que existe, se tornando cada vez mais presente em minha vida, mas quanto mais perto dele eu estiver, melhor.

Estamos a 2 países de voltar para a Itália e ter a nossa férias de fim de ano.
Estou exausta, passei a noite em claro e não consegui descansar um segundo.
Depois do concerto, voltamos ao hotel e deixo que Ignazio carregue minha mochila, coisa que não costumo fazer por saber que ele está tão cansado quanto eu.
Sempre que possível evito ficar com Ignazio para que ele descanse já que costumo chegar e passar mais algumas horas acordada falando no telefone com Maria, Caterina, as vezes é a mãe do Gian quem liga ou a Suelen faz chamada por vídeo com a Mariagrazia para conversarmos sobre o casamento, mas hoje não faço isso, estou cansada demais para tentar resistir ao charme do Ignazio me abraçando pedindo para que eu passe a noite com ele.
Enquanto Ignazio toma banho, Caterina liga e converso com ela até que Ignazio saia do banheiro. Já me acostumei a vê-lo apenas de calção, as tatuagens não me surpreendem mais como antes, aprendi a gostar delas também. Deixo Ignazio conversando com a mãe enquanto tomo banho. Como sempre, uso short e regata para dormir, costume que não consigo abandonar.
Deito e fico escutando ele conversar com a mãe enquanto quase dorme em pé.
Não consigo contar o tempo, mas demora até que ele termine a ligação, desligue o celular e se deite ao meu lado.
Desperto quando ele coloca o braço embaixo da minha cabeça. Olho para ele e, sorrindo, ele acaricia meu rosto.

— Ela está morrendo de saudades, não é? —pergunto, de olhos fechados, mas ainda meio sonolenta.
— Está. Mas falta pouco agora. E você? Está sendo como você imaginou?
— Eu sempre estive certa de que nunca seria fácil.

Ele beija minha testa e sinto a barba dele me arranhar, mas já é costume e aprendi, também, a gostar da sensação.

— Eu te amo.
— Eu também te amo, seu fofo —digo apertando o nariz dele para o fazer rir.

Adormeço com o toque suave da mão dele deslizando pelo meu cabelo.

***

Já começa a anoitecer quando voltamos ao hotel, estávamos com o dia livre e Ignazio insistiu para sairmos para tomar sorvete. Piero e Gianluca optaram por ficar descansando no hotel.
Avistamos, antes do táxi estacionar, quatro meninas na portaria do hotel com Piero e Gianluca.

— Ignazio, amor, você vai. Não estou muito animada para isso hoje. Fico esperando aqui, quando elas saírem, eu entro.

O cansaço tem sido um sentimento bem presente nos meus dias e tento, o máximo possível, descansar. Não é sempre que consigo, então quero aproveitar esse dia livre até o final.

— Tudo bem, vou tentar não demorar, prometo.
— Não liga pra isso.
— Eu te amo.

O observo atravessar a rua enquanto vejo uma das meninas correr em sua direção. O sorriso dele aparece e ele abre os braços para abraça-la. A forma mais simples, e ao mesmo tempo complexa, de demonstrar a gratidão e o carinho que eles sentem por cada uma delas é expressada assim: através de abraços, fotos, sorrisos, noites sem dormir e cansaço, mas sempre, sempre, é, de longe, a melhor sensação que alguém pode sentir. Saber que em algum lugar do mundo sempre vai ter alguém esperando pelo seu sorriso é um presente de Deus.
Tudo acontece muito rápido. Ela coloca as mãos no rosto dele e em seguida o beija.
Fico sem reação vendo aquela cena e demora um pouco até meu coração voltar a bombear sangue para as minhas veias.
Meus olhos embaçam, mas não são lágrimas, e demora até que eu consiga enxergar Piero e Gianluca me olhando, parados, tal como eu.
Saio do carro pensando no que fazer. Isso nunca havia acontecido, mas entendo os sentimentos da garota, e é isso o que me deixa irritada.
É Piero quem toma a primeira atitude. Acena para mim, de longe, pedindo que eu o espere e começa a caminhar na minha direção, mas faço sinal de que está tudo bem. Aponto para o gramado, do lado do hotel, onde algumas crianças brincam, tentando dizer que vou pra lá e depois volto. Ele compreende e diz que depois nos vemos.

Chego no parque e me deito na grama, perto de uma árvore. A lua e as estrelas já dão seus sinais de vida no céu e fico ali, contemplando cada uma delas enquanto tento colocar os pensamentos em ordem.

“Você sabia, Manuela —digo para mim mesma—. Sabia que isso ia acontecer. Sabia que ele nunca, nunca, seria apenas seu e mesmo assim optou por isso. Então, nada de chilique. Mantenha a calma e seja você mesma. Respira fundo, está tudo bem. Conta até dez e inspira. Um. Dois. Três. Está tudo bem. Quatro. Cinco. Nada de chilique. Seis. Sete. Oito. Chega de ciúme. Nove. Dez. Tudo é simples, então para de complicar.” E, como sempre, é assim que faço para manter a calma e amenizar, por menor que seja, o indício de raiva criando vida.

Abro os olhos e, entre as estrelas, observo dois balões no céu, deixo escapar um pequeno sorriso e fecho os olhos novamente.
Sinto a presença de alguém se acomodando ao meu lado, mas não me dou ao trabalho de abrir os olhos para descobrir quem é.

— Vamos conversar sobre aquilo. Amor, não foi cer… — interrompo Ignazio enquanto ele tenta completar sua frase.
— Ta tudo bem, Ignazio. Você não precisa explicar nada. — e sou sincera em cada palavra.
— Não vi quando você saiu. Você nunca faz isso. Estamos indo tão bem, eu nunca havia me sentido dessa forma e não quero, nunca, que isso mude, que você fique nervosa ou que as coisas saiam do nosso controle.
— Ignazio, eu entendo, de verdade, entendo mesmo. Está tudo bem e não consigo mais viver um dia sem olhar para o seu rosto — finalmente o encaro e vejo um pequeno sorriso se modelando, aos poucos, isso sempre acontece, mas agradeço por ter conseguido parar de corar com o tempo.— porque são seus olhos quem me contam a verdade, o que o seu coração sente. Eu sei quem você é, como você é, e é com você que quero viver a minha vida.

Ele esboça o mais lindo sorriso e coloca o braço sob o meu pescoço, como sempre. Deito no tórax dele e deixo meus dedos deslisarem pelo seu peitoral enquanto ele me abraça.

— Você mudou muito, sabia?
— E isso é bom ou ruim?
— Não sei, estou decidindo ainda.
— Bobo — o belisco, de leve, e ele ri.
— Gosto de ouvir você dizer que me ama.
— Você esfregou na minha cara que eu não tinha sentimentos quando nos conhecemos, queria que eu fizesse o quê? Me senti um E.T. de um planeta onde não existe nenhum sentimento parecido com o amor.
— Sem esquecer dos livros, livros, livros e livros. Vou comprar uma biblioteca para você se sentir mais em casa. Só deve ter isso no mundo de onde você veio, não é? — ele diz, rindo cada vez mais alto.
— Gostei da ideia da biblioteca, promete?
— E eu sou o bobo aqui? Pra você ficar me traindo com aquele Tobias do livro? Nunca mesmo!
— Nada mais justo, não acha? — sorriu para ele — Sem falar que minha ligação com o Tobias é diferente, viemos do mesmo mundo mas em facções diferentes, é inexplicável!
— Com certeza. Quero ver você fazer filhos com o livro.
— Ignazio!!! —bato nele com força enquanto ele ri— que horror!!
— Eu te amo. Fica calma. Nunca deixaria você casar com o personagem de um livro.
— Que conversa é essa? Para com isso —digo, rindo.
— E comigo?
— Com você o quê?
— Olha pra cima — ele aponta para os balões no céu— Você já andou de balão?
— Han? Claro que não.
— Então vem comigo!

***

É como se Ignazio já tivesse vindo aqui várias vezes. De início fico receosa, com medo, mas aos poucos me acostumo a ideia de passear em um balão. Sei que, com certeza, não são todos os lugares que podem realizar esse tipo de atividade à noite e chego a conclusão de que não sou a primeira pessoa que Ignazio trás aqui.
Pode ser o ciúme dando sinal de existência devido o que presenciei hoje mais cedo e tento controlá-lo.
O nosso condutor termina de me ajudar a colocar todos os acessórios necessários enquanto Ignazio se arruma sozinho.
Controla esse ciúme, Manuela.

— Vamos subir agora, tudo bem? — pergunta o homem que vai nos acompanhar no passeio me tirando do meu momento de concentração.
— Tudo bem sim. Só estava pensando demais.
— É seguro, fica tranquila.
— Tenha certeza de que isso não é o que me preocupa.

Olho para o Ignazio e um “talvez isso não passe de um simples sonho e não dê certo” passa pela minha mente, mas logo afasto esse pensamento. Demora até que eu consiga perceber que, na verdade, o que sinto não é ciúme. Está longe de ser. A palavra correta para isso é insegurança.
Monto o quebra-cabeça na minha mente enquanto saímos do chão e o balão sobe aos poucos.
Mantenho os olhos fixos em uma árvore qualquer, mas agora reconheço o medo entre meus sentimentos.
Não de altura, nunca tive problemas com isso.
Do Ignazio.
Não identifiquei ainda o porque, mas sei que em algum momento ele me causa medo.
O quanto será que realmente mudei? A insegurança está tão presente quanto antes e o medo está mais presente do que nunca.
Avisto, de longe, no chão, um casal se beijando.
Ai está o meu medo.
Ai está a minha insegurança.
Ai está Ignazio,
O amo e tenho medo dele, ao mesmo tempo. Como isso é possível?
Não! Não é do Ignazio que sinto medo. São as relações básicas necessárias para o início de uma família que me causam panico.
Respiro fundo quando estamos alto o suficiente para ser difícil enxergar os rostos das pessoas. Ignazio me envolve em um abraço por trás, fazendo com que eu sinta cada pelo do meu braço arrepiar ao encostar o rosto no meu ombro.

— Tudo bem, Amore? — ele pergunta e beija meu pescoço suavemente.
— Tudo.
— Não. Não está. Não confia em mim?
— Confio.
— O que está acontecendo?

Falar com Ignazio me acalma, e esse é um assunto que o envolve, então decido contar na esperança de que tudo termine aqui, no alto, e quando voltarmos ao chão tudo fique normal.
Fico frente a frente com Ignazio, ele está tão perto que é intimidador.

— Estou com medo.
— Quer descer? Posso pedir agora.
— Estou com medo de nós, Ignazio.
— Manuela, eu quero ficar com você e vamos fazer isso. Não vai ser fácil, nós sabemos, não sabemos? Fica calma, eu também tenho medo. Tenho medo de acordar e não encontrar você, ou não ser um bom marido, um bom pai ou me tornar alguém que não tem tempo para a família. Mas vamos fazer dar certo. Vamos sentir medo juntos, e vamos superar, ta bom? Eu estarei aqui por você em todos os momentos porque eu te amo.

Sinto meu coração querendo sair pela boca e cada parte do meu corpo se acendendo quando Ignazio me beija.
Vai dar certo. Ele é perfeito. Não tem como não ser ele. Sim, vamos sentir medo juntos.
Ele não me deixa falar, nunca consigo fazer isso, mas já reparei que Piero e Gianluca fazem o mesmo e disputam falas entre eles mesmos, então nunca luto contra sua natureza básica enquanto falo uma frase e ele me devolve um livro.
Ele me abraça e mantenho minhas mãos na dele enquanto ele aponta para um lugar ou outro no céu pedindo minha atenção.
Aproveito o momento, porque é raro ficarmos a sós, é raro termos nosso momento de intimidade. Até certo limite.
É engraçado, e fofo ao mesmo tempo, ver Ignazio na sua forma mais romântica.

— Você tem medo do que, Tesoro?
— Vou ficar citando o resto da noite. Vai passar.
— Tenho tempo para ouvir. — Ele me abraça, mais forte. O vento da noite levanta a minha blusa e as mãos dele rapidamente encontram minha barriga. Estou gelada, mas não é frio, talvez o momento, e a mão dele, quente, traz uma sensação boa que não sei definir ainda.— A vida toda. Eu estou aqui —sussurra ao meu ouvido. Ele tira uma das mãos da minha barriga para arrumar meu cabelo que se transforma em uma bagunça com o vento. Ele simplesmente encosta a boca na minha, em dois simples segundos que fazem meu coração querer sair pela boca e sinto como se levasse um choque e cada parte do meu corpo tenta ceder ao desejo de se entregar à ele. Travo uma luta comigo mesma enquanto esses dois segundos se repetem por cinco vezes até eu conseguir vencer e falar alguma coisa.
— Isso, Ignazio. Isso me da medo.
— O quê? Isso? — ele me beija novamente e sinto o desejo me puxando para uma revanche.— Ou isso?

Ele põe a mão no bolso e se ajoelha na minha frente. Cerro os olhos tentando entender a situação. Começo a rir quando ele tira a mão do bolso com uma caixinha vermelha e olha para mim, rindo, quando observa a tremedeira tomando conta da minha mão.

— Manuela, conhecer você foi a atitude mais estranha que já tomei na minha vida, mas tive certeza de que nunca mais iria conseguir sair de perto de você desde o momento que você me ignorou, no primeiro dia que passamos juntos. Venho pensando na melhor forma para fazer isso há dias porque o meu coração é seu desde a nossa primeira guerra de travesseiros; ali eu te entreguei a minha vida. Sem perceber, sem querer, você simplesmente chegou e causou a maior bagunça, tirou tudo o que era certeza, trouxe dúvidas, sonhos, metas e conquistas. Trouxe alegria. Trouxe desafio. E viver com você é assim, da forma que estamos agora, é voar. As vezes alto, as vezes baixo. Nunca mais tive os meus pés no chão e nunca mais quero voltar a essa realidade. Eu não sou perfeito, também tenho medo, mas quero que superemos juntos porque estou disposto a te conquistar todos os dias se for preciso, basta você dizer que aceita se casar comigo.

Balanço a cabeça em forma positiva porque não sei aonde foi parar a minha voz. Ele pega a minha mão, tira a antiga aliança e coloca a nova. Faço o mesmo com ele, porém, com mais dificuldade por estar tremendo e ele me ajuda, rindo.

— Eu te amo. E se tem alguém com quem eu quero sentir medo nesse mundo, esse alguém é você. Porque você vira um balão e voa, mas é só colocar uma corda que da pra te trazer de volta.

Dou risada e toco seu melhor sorriso. As covinhas, ali, como sempre, fazendo meu coração derreter quando aparecem.
Ele arruma o meu cabelo e para com a mão na minha nuca me puxando para um beijo.
Não consigo pensar, e não quero. Não preciso. Pertenço a ele e ponto. Somos duas metades de um todo.

Encosto o rosto no seu corpo enquanto ele me abraça. Consegui segurar o choro até agora, mas se tornou impossível afastar as lágrimas quando aterrissamos.
Ele olha pra mim e entende cada uma delas, não sei quando ele aprendeu, mas aprendeu, e me abraça.

— Tudo bem, ta tudo bem. Eu também te amo. — ele sussurra ao meu ouvido e fica mais difícil ainda controlar a velocidade que as lágrimas percorrem meu rosto.

Ele me ajuda a sair e o homem que acompanhou nossa viajem no balão estende a mão para me ajudar quando Ignazio me solta para tirar o equipamento de segurança da minha cintura.
Olho para ele, soluçando, e sorriu em forma de agradecimento porque minha voz não deu sinal de vida ainda.

— Não precisa dizer nada, moça.

Ele me ajuda a sentar na grama enquanto Ignazio tira o próprio equipamento de segurança. Em seguida aperta sua mão.

— Obrigado, cara.
— Sou eu que agradeço, amigo. Isso nunca aconteceu aqui, foi lindo. Parabéns a vocês, espero que sejam muito felizes.

Meu coração bate tão acelerado que dói no meu peito.
Ele se senta ao meu lado e me abraça deslizando a mão pelo meu cabelo, o que só faz com que eu chore mais. Eu não tinha costume de chorar, nunca fui assim, mas desde que Ignazio chegou à minha vida tudo mudou e isso, esse sentimento, essa emoção que causa lágrimas, foi ele quem trouxe. Cada lágrima que se forma nos meus olhos só traz a certeza de que uma parte dele vive em mim, uma parte minha é dele, e isso não muda mais.

— Ela ta bem? Quer que chamemos um médico? — pergunta uma das mulheres da equipe de apoio do voo que seguiam o balão conforme o homem que estava conosco lhes dizia onde iriamos parar.
— Não precisa, ela está bem. Obrigado.
— Ela foi pedida em casamento. Foi lindo. E diferente de você, ela tem sentimentos. — diz o homem que nos acompanhou no passeio.
— Viu? Você tem sentimentos! Não se preocupa, não é feio expressá-los. — diz Ignazio, baixinho, de forma que só eu escute. Como se soubesse que me sinto a pessoa mais idiota por estar chorando nesse momento, chorando tanto a ponto de soluçar, como se fosse uma criança birrenta. Mas não me preocupo mais, não é feio expressar sentimentos.

***

Ignazio adormeceu ao meu lado. E, como sempre, uso seu braço como travesseiro.
Meu peito ainda dói e a sensação de ser a pessoa mais feliz do mundo ainda não passou.
O observo dormir.
Ainda não consegui dizer a ele o que quero, o que preciso. Penso que, se não consigo dizer olhando em seus olhos, agora é a melhor oportunidade. Já que, de certa forma, estarei dizendo a ele, de um jeito ou de outro.

— Nunca pensei que isso fosse acontecer, Ignazio. Não comigo. — digo, enquanto ele dorme, e deslizo minha mão pelo seu rosto—. Não pensei que fosse dessa forma. Nunca pensei nada porque prometi a mim mesma que jamais entregaria meu coração para homem algum, jamais entregaria minha vida a ninguém porque tinha certeza de que tudo era sofrimento, porque era o que eu via, o que sempre vi. Me tornei a pessoa com o gênio natural necessário para afastar qualquer homem. Mas não funcionou com você. Não sei o que você tem, só sei que você é imune as minha tentativas de te afastar de mim. Não Ignazio, você não me mudou. Você nunca fez isso! Você apenas quebrou o escudo que criei para fazer você se afastar e me obrigou a me mostrar da forma como sou. Me fez te mostrar o quão fraca eu sou, o quão chorona eu sou, o quão forte eu posso amar. E eu te amo, Ignazio. Não sei quando isso aconteceu. Mas eu te amo, meu corpo estremesse com o seu toque e meu coração acelera com a sua voz e é disso que tenho medo. Tenho medo de mim mesma. Não consigo mais me controlar e isso me irrita. Não quero mais as minhas regras, não consigo mais me segurar, Ignazio. O que você faz comigo é estranho, o seu poder sobre mim é avassalador e não da mais para dormir ao seu lado, todas as noites, sem deixar você me ter por completo. Porque eu te amo, Ignazio. Te amo com todas as minhas forças. Nunca pensei que fosse possível amar alguém assim, mas eu te amo tanto, tanto, que chega a doer em mim.

Termino chorando, porque essa sou eu de verdade. Me sinto aliviada por ter deixado as palavras saírem da minha boca da forma como eu as imaginava.
Fico olhando ele dormir, mas a dor não sai do meu peito.
Sinto o sono chegar e, aos poucos, me entrego.

***

— Deixa eu ver de perto! — diz Piero, pegando minha mão para ver a aliança com um sorriso tão grande no rosto que parece mais animado que eu com a notícia.— Ignazio foi fundo dessa vez hein? Eu queria ter visto! Em um balão? Ninguém nunca vai superar isso! Olha isso, Gianluca! Que lindo! Me sinto tão feliz por ter apresentado vocês dois. Parabéns, Moh.

Piero me abraça e ver que ele apoia tanto assim me deixa tão feliz.
No nervosismo de ontem, nem reparei na aliança até ver o Gianluca contando cada pedrinha branca, dividida em três fileiras, que disputam brilho entre o dourado da aliança. A do Ignazio, ao invés das pedrinhas, tem três listas em um tom mais escuro que o tom base.

— Obrigado, Piero. A culpa disso tudo é sua. — dou risada. E Gianluca me abraça.
— Parabéns, Moh. Vocês foram feitos um para o outro, e serão muito felizes. Mas.. ninguém pediu minha permissão, hein? Eu entro com você na igreja. Tenho que ter uma conversa muito séria com Ignazio antes disso! — morro de rir quando Gianluca agi como um irmão mais velho. Ele diz tanto que sou irmã dele que penso que, em algum momento, ele passou a acreditar que isso é verdade.
— Por mim tudo bem. Não tenho ninguém para me levar até o altar mesmo e seria ótimo se fosse você. — Digo, rindo, e ele põe a mão no meu rosto.
— Quem diria, hein?
— Hey, Gianluca. Menos. O Ignazio está chegando! — e Gian tira a mão do meu rosto com o aviso de Piero.— Olha só quem está amando tanto a ponto de se casar! Chegou o noivo do dia. Parabéns, Ignazio — Piero o abraça, em seguida, Gian faz o mesmo. Ele vem até mim e me cumprimenta com um beijo rápido.
— Passou da hora, né gente? — Diz Ignazio, rindo.
— As regras permanecem, Bosco? — Pergunta Gian.
— As mesmas. Nem uma alteração. 1 ano e meio, já.
— Isso é amor mesmo. — diz Piero, rindo.
— É estranho, mas gostei desse jeito.
— Vamos casar no mesmo dia?  — Diz Piero, animado.
— O quê? Nunca! É o dia da Suelen, o dia de vocês. Nunca. Falando nisso, tenho três mil coisas para arrumar e seria bom se você conversa-se com ela sobre o modelo do vestido que ela escolheu para mim, aposto que tem o dedo da sua irmã naquilo. É lindo, amei, perfeito demais, mas o Ignazio não vai gostar nada, nada.
— Como é? Tenho que ver esse vestido.
— Vou conversar com elas, Moh. Que pena. Ia ser legal. Ai o Gian pede a mão da Martina e casamos, todos, no mesmo dia.
— Não Piero, que isso? — digo, rindo.— Para com isso agora! Já tenho muito trabalho com o seu casamento, se incluir mais dois eu morro.
— Pelo que sei, o seu não tarda muito a acontecer, não é Ignazio? — Piero diz, rindo. Olho para Ignazio, assustada.
— Eu tenho que saber de alguma coisa, Nazio?

Gianluca bate as mãos e começa a gargalhar. Se senta na poltrona e Piero faz o mesmo, rindo. Olho para Ignazio que esboça um sorriso malicioso.
Cruzo os braços.

— Eu quero ver isso, já que não vimos o pedido. Quer pipoca, Gianluca? — Diz Piero.
— Estou esperando, Ignazio.
— Pensei que poderíamos nos casar agora, durante as férias. Não quero que você faça tudo sozinha, quero participar de tudo, e o momento seria esse.

Não achei a ideia ruim. Na verdade, achei a ideia perfeita.
Não tem sido fácil manter os pensamentos no lugar e não é tão fácil ganhar as brigas que travo contra mim mesma toda vez que vejo Ignazio sem blusa, de terno, de óculos… enfim. Não é mais tão fácil viver com Ignazio e não pertencer a ele.
Gosto da ideia. Serão quatro meses em casa e da pra resolver tudo sem muito problema, mas decido não demonstrar à ele que estou ansiosa por isso.

— Até que é uma ideia aceitável. Mas…
— Mas o que, Amor? Não coloque termos complicados!
— Mas… vou para o casamento do Piero com o vestido que a Suelen escolheu e você não vai dar chilique.
— Ótimo. Pode ser. — ele beija minha boca, como se para selar uma promessa. E não consigo não rir quando Piero começa a bater palmas entre as gargalhadas dele e do Gian.
— Ela tem você nas mãos dela de uma forma que ninguém entende. Quem diria, Ignazio?
— Fica quieto, Piero. Espera, como é esse vestido?
— É azul naval lindo. E você já concordou, Amor.

Opto por não mostrar para o Ignazio a foto do vestido.
A decoração do casamento de Suelen ficou branco e azul, simplesmente escolhemos essa cor devido o óculos que decidimos que Piero usará no dia.
Faltando tão pouco já dá para ver o nervosismo de Piero quando as mãos dele suam, quando ele para e fica encarando o nada com o pensamento em outro planeta.
Não consigo imaginar o Ignazio fazendo isso. Também não consigo me imaginar tão calma quanto a Suelen.
Mas não há o que fazer, e não quero voltar atrás.
Nunca voltarei atrás.
Cada segundo ao lado de Ignazio é único e perfeito. Se tem algo de que não me arrependo é cada segundo que passo a seu lado.

***

Voltar à Itália, para Ignazio, é festa com amigos e familiares; para mim, no entanto, é ter apenas dois dias para ser madrinha de um casamento.
Fico pouco tempo na casa de Ignazio, na verdade, só o suficiente para conversar com seus pais e ouvir a Nina e os amigos dele brincando conosco.
Em seguida sigo para Naro, com Piero, que é o local onde ele e Suelen vão morar, Piero quer continuar morando perto da família, e é aqui que acontecerá o casamento.
Deixei à Ignazio a tarefa de cuidar do Piero, que está cada dia mais ansioso, enquanto eu me preocupo com a Suelen e ajudo a Mariagrazia com o resto da organização.
Na verdade, agora que estamos aqui, meu trabalho não é muito. O difícil foi ter as idéias, mas chegar e vê-las executadas traz uma sensação de dever cumprido.
Casamento ao ar livre foi ideia do Piero, acho que só demonstra o tamanho de sua simplicidade, e se adaptar a isso não foi difícil. Restringe tudo apenas aos amigos e familiares, sem falar que a festa deles acontecerá no mesmo lugar, o que facilitou tudo para todos.
Suelen já está aqui há dois dias. Ainda não viu Piero e optou por não vê-lo antes do casamento.

— Então o seu casamento é o próximo, Moh? — Ela pergunta quando estamos a sós, tirando a presença da moça que faz as unhas dela.
— Pois é amiga, ta chegando a hora.
— Aposto que vocês vão ter filhos antes do segundo mês de casamento. — ela diz, e começa a rir.
— Que isso, Suelen? Ta andando muito com o Piero! Pode parar por ai!
— Você tem dúvidas, Moh?
— Suelen, isso não vai acontecer tão cedo. — não sei se acredito muito nisso, mas digo mesmo assim.
— Manuela, pensa comigo. Vocês estão juntos há quase dois anos, você nem deixa ele colocar a mão na sua perna com a desculpa de que só vai acontecer depois do casamento, você acha mesmo que, Ignazio sendo como é, não vai sossegar até ter o primeiro filho? — não aguento quando ela começa a rir.
— Podemos fazer sem ter filhos, sabia? Não sei como você e Piero fazem, mas a tecnologia é avançada. Já existe anticoncepcional e meios mais íntimos de evitar filhos, sabia?
— Eu? Com certeza sei! Mas quero ver você convencer o Ignazio disso. Parece até que não conhece o marido que vai ter.

Essa conversa começa a me assustar e mudo de assunto.

— Suelen, faltam poucas horas, não era para você estar apavorada?
— E quem disse que eu não estou?
— Você se importa se eu for dar um olhadinha na decoração enquanto ela termina as suas unhas? Volto para terminar de te arrumar.
— Imagina, pode ir.

Saio, um pouco preocupada com o que ela disse sobre filhos, mas logo me distraio olhando o lugar.
É lindo. Ficou tudo lindo.
As cadeiras são brancas, decoradas com pequenas fitas azuis. A banda que vai tocar já se arruma ao lado do pequeno altar onde eles entregarão suas vidas um ao outro. Todo o local está decorado com orquídeas azuis. Amo essas flores, dão um charme tão único e simples ao mesmo tempo.
As mesas, onde será a festa, são decoradas com um pano azul, cada uma com um pequeno buquê de orquídeas branca, que é uma miniatura do que será usado pela Suelen. Ao lado tem a piscina, e já imagino a farra que esses rapazes vão fazer nessa festa.
Observo duas mulheres colocarem o bolo na mesa central deles. É azul, e o bolo branco da um destaque. Imagino Piero e Suelen ali, após dizerem sim um ao outro e não consigo esconder a felicidade que sinto por eles.
Me assusto com Piero pulando nas minhas costas. Essas brincadeiras deles não tem limites.
As gargalhadas dele são tão altas e sinceras que me fazem rir.
Me desequilibro e ele desce das minhas costas, rindo.
Aceno para Ignazio, longe, ele manda beijos no ar e ergue as roupas de Piero em uma das mãos dizendo que vai guardar e concordo com a cabeça.

— Meu Deus. Você tá engordando Piero? — Pergunto, rindo.
— Tô pegando todos esses quilos que você perdeu e transformando em músculos.
— Faz-me rir.
— E ai, como ela está?
— Linda?
— Sempre. Mas ela está ansiosa? Nervosa?
— Ela está com saudade, Piero. Fica tranquilo, ela também está ansiosa. Mas vai dar tudo certo! — o abraço, porque sei que é disso que ele precisa agora. Ele me abraça tão forte que quase machuca, deve ser o nervosismo, mas não reclamo.— Eu tenho que voltar para ficar com ela, você tem que se arrumar para receber os convidados. Cadê o Gianluca?
— Ele ainda está à caminho. Está vindo com toda a família e depende de trem.
— Ignazio vai buscá-lo quando ele chegar?
— Vai. Os parentes dele já estão chegando, meu pai está trazendo, depois vai trazer minha mãe e irmãos.
— Ah, sim. Falta pouco, hein? Aguenta, tá! Vou voltar à Suelen mas se precisar de qualquer coisa é só me ligar, ta bom?

Ele concorda e segue para o lado oposto do que eu vou.

— Moh, você pode, por favor, sentar ai para que ela arrume o seu cabelo? Vamos atrasar o casamento por causa da madrinha e não da noiva, deve ser a primeira vez que isso acontece na história dos casamentos.

A Suelen já está praticamente pronta. Estão apenas terminando de arrumar o cabelo dela e a maquiagem para que ela possa colocar o vestido e esperar a hora dela.
Eu, no entanto, só fiz as unhas no dia anterior.
Deixo que duas mulheres arrumem o meu cabelo, que não é difícil, em meia horinha estou com ele pronto.
Aproveito que estou ali e me maquio da forma mais simples e elegante possível. Enfatizo um pouco o tom de bronzeado da minha pele e faço um olho preto, passo um batom mate vinho, para amenizar um pouco o brilho. Deixo tudo simples.

— Moh, ouvi o Piero rindo. Eles já chegaram?
— Sim, Suh. Ignazio já trouxe o Piero. Ele está se arrumando agora. Depois ele volta para buscar o Gianluca e a família.
— Estou nervosa.
— Eu estaria admirada se você não estivesse. Vou te dizer o mesmo que disse à ele: vai dar tudo certo. — e a abraço, exatamente como fiz com Piero.— Você está linda! Precisa de ajuda com o vestido?

Ela respira fundo e coloca o vestido. A ajudo fechando o zíper atrás e a observo enquanto ela mesma admira o seu reflexo no espelho.
Ela está linda. O vestido não é exatamente branco, e sim em um tom puxado para o amarelo, em um modelo tomara que caia , com uma faixa azul na cintura e desce, como aquelas saias longas usadas por pessoas famosas, com tanto tecido que fica rodado, até arrastar no chão.

— Você estão linda, amiga. — a abraço, tomando cuidado para não chorar.— Tenta ficar calma, vai dar tudo certo.
— Vai sim. Agora você pode ir se trocar. Vou estar aqui, esperando você, para colocar a tiara.

Sorriu e estou quase fechando a porta quando ela fala.

— Moh, o Nazio deixou você usar o vestido, sem problemas?
— Deixou Suh, ele ainda não viu. — respondo, rindo.

Entro no quarto ao lado do que a Suelen está e não demoro para colocar o vestido.
Na verdade, isso é o mais simples. O problema aparece quando paro na frente dos espelho e imagino a reação de Ignazio quando me ver. Que o ciúme dele é exagerado, todo mundo sabe. O problema é atiçar o ciúme dele, nunca resulta em algo bom.
Agradeço imensamente por estar em dia com a balança, mas quando viro de costas e vejo toda a renda transparente que desce até o final das costas e vem, até uns três dedos de cada lado, deixando pele à mostra na frente acentuando a cintura, imagino a reação de Ignazio, que, sem dúvidas, vai dar um chilique depois. Isso, sem citar o decote em “V”, mais profundo do que o necessário, mas pelo menos, é longo. na verdade, o vestido não é azul, a renda dele que é, o pano usado por baixo tem uns brilhos prateado, não arrasta no chão quando eu coloco o salto e não segue tão justo, quanto em cima, nas pernas. Coloco, por fim, um salto nude, não muito alto porque sou apenas uns 10 centímetros menor que Ignazio e volto para ajudar a Suelen.

— Moh do céu! Você está parecendo uma boneca!
— Obrigada Mari, você também está linda! Chegou quando? Não ouvi barulho nenhum.
— Faz pouco tempo.
— Cadê a Suelen? Quem está fazendo companhia pro Piero?
— Ela está no banheiro e meus pais estão com ele.
— Ai, meu Deus. Alguém precisa buscar o Gianluca, sabe se o Ignazio já foi? Os convidados estão chegando? Piero já está pronto?
— Moh, calma! Até parece que é você quem vai casar. Relaxa! O Ignazio já foi buscar o Gianluca, deve estar chegando! Meu irmão pediu para você ir lá quando puder, acho que agora é uma boa hora. Eu cuido da Suh, fica tranquila.

Agradeço Mariagria e vou, até o outro lado do sítio, ao encontro de Piero.
Bato na porta três vezes e anuncio meu nome antes de entrar e ouvir Francesco acalmando o irmão.
Piero está lindo. Veste um terno bege, o colete é da mesma cor, a blusa é branca e a gravata em um tom que lembra cinza. Os botões são azuis, da mesma cor que os óculos, que é da mesma cor que o meu vestido. Me encanto.

— Heyta, Fran! Tô vendo que está mais complicado desse lado do que do outro. Tudo bem? — digo, cumprimentando-o com um beijo no rosto. Em seguida ele pega minha mão e me gira para ver o vestido.
— Meu Deus, como você está linda!
— Obrigado, Fran. Você está perfeito! E como estão as coisas aqui?
— Está indo bem, tirando o nervosismo, normal.
— E você, Piero, como está o coração? Você está tão lindo! Olha pra você, que perfeito! — ele finalmente olha para mim, como se o tivesse trazido de um outro mundo, e arrumo a gravata dele.
— Pronto! Só o que me faltava!
— O que foi, Piero? — pergunto assustada.
— Olha pra você. Você já se viu? Você parece uma princesa! Vou perder o padrinho antes do sim e você, sem dúvidas, vai acabar ficando com ele no hospital. Francesco, você substitui o Ignazio como padrinho? A Maria…
— Piero, calma! — digo, em um tom nervoso porque falar calma com ele não adianta mais.— A Suelen está mais calma que você! Quem tem que dar chilique é a noiva! Vai dar tudo certo, você sabe. Agora vai la pra fora que os convidados estão chegando e você não vai receber ninguém se ficar trancado aqui durante o casamento.

Francesco ri e é como se cada palavra que eu disse trouxesse o Piero a realidade. Ele para um tempo e depois sorri.

— Vai Piero, pensa que ela é um anjo, é?
— Obrigada, Moh. Eu precisava disso mesmo.
— Até que enfim! Cadê seus pais?
— Foram ver a Suelen.
— Ah, então vou voltar. Agora você se mantenha calmo e seja o noivo perfeito que você vai ser, entendeu? Qualquer coisa me chama, Fran, que a gente resolve isso rapidinho!
— Pode deixar Moh. Grazie.
— Moh — Piero diz, antes que eu saia.— Você está linda, de verdade.
— Obrigado Piero. Vamos esperar para ver o surto do Ignazio.
— Fica tranquila, conversei com ele. Vai dar tudo certo com você também — ele pisca, rindo.
— Piero… é bom você não ter aprontado nada!
— Moooh, parabéns pelo noivado — diz o Fran —. Conversei com o Ignazio e ele está tão animado, fico muito feliz por vocês.
— Obrigado Fran. Agora eu tenho que ir. Está quase na hora. Nos vemos daqui a pouco.

Aceno para os pais de Piero quando passo por eles de longe.
Quando volto encontro a mãe de Gianluca e o irmão dele, Erny, junto com a Suelen e a Mariagrazia.
Os cumprimento com um beijo no rosto. Suelen já está pronta e da janela podemos ver os convidados chegando.

— Moh, como está o Piero?
— Olha Suh, desculpa, mas quase dei um soco nele para ele parar com o nervosismo. — ela ri — Depois ele quase me pediu em casamento por você ter escolhido um vestido tão ousado assim.
— Vou contar isso pro Ignazio e você vai ver — ela diz rindo, e todos acabam rindo também.

Batem à porta enquanto olho pela janela, vendo Piero receber os convidados. Olho rápido para ver quem é: Ignazio trazendo Gianluca e Martina. Volto meu olhar para o Piero. Estou preocupada com ele, parece que vai explodir a qualquer momento. Ignazio acena para a Suelen e diz que ela está linda, olha para mim, mas não no meu rosto, e simplesmente me ignora, pede licença e fecha a porta.
Faço cara de confusa pra Suelen enquanto ela ri.

— Suelen, você está linda! Está uma princesa! — diz Gianluca — Passei por Piero, ele está tão nervoso que demonstra no olhar, tadinho.
— Obrigado, Gianluca. Vocês estão tão lindos!
— Moh?
— Eu mesma. — digo, rindo, ao ver a cara de espanto do Gianluca.
— Meu Deus, você está impecável! Nem te reconheci. Não acredito que é você!
— Que horror — dou risada — quer dizer, obrigado. O que aconteceu com o Ignazio?
— Está te procurando. Se eu não te reconheci, aposto que ele também não.

Quando Gian termina de falar, Ignazio abre a porta.

— Você viram a Manuela por ai?
— Serve essa, Ignazio? — pergunta Suelen, apontando o dedo para mim.

Vejo os olhos de Ignazio formarem uma expressão de espanto, ele me olha de cima a baixo, aos poucos, parando os olhos em lugares estratégicos.
Sinto o rosto arder de vergonha.
Ele abre a porta por completo para poder ver melhor e então, quem se espanta sou eu.
Ignazio veste uma calça social cinza, com sapato da mesma cor, blusa branca e colete cinza com a gravata, lisa, azul.
Sinto a luta contra o desejo começar e imploro para ganhar, mais uma vez.
Ele arruma o óculos preto nos olhos.

— Manuela. Precisamos conversar. Estou esperando você no quarto ao lado.

E fecha a porta.

***

— Heyta, alguém vai ouvir. — diz a Suelen, rindo.
— Não ri não, Suelen. Isso é tudo culpa sua! Deixa eu ir enfrentar a fera.
— Amansar a fera, né? — diz Gianluca, rimos.

Uns três minutos depois paro na frente da porta do quarto com meu nome. Respiro fundo. Penso em tudo o que vou ouvir e planejo algumas frases táticas culpando a Suelen por tudo. Dou risada. Bato na porta apenas uma vez antes que Ignazio a abra e me puxe para dentro.
Os meus olhos estão na altura dos dele, o que dificulta tudo para mim. Não consigo vê-lo assim e manter o controle dos pensamentos ao mesmo tempo.
Ele me empurra contra a porta e a fecha com uma das mãos enquanto a outra fica parada um pouco acima da minha cabeça, o que me deixa intimidada.
Ele se aproxima de mim. O nariz dele encosta no meu.

— Aonde a senhora pensa que vai vestida assim? — ele pergunta, mas a voz não soa, nem de longe, nervosa.
— Para o mesmo lugar que o senhor vai vestido assim. — respondo com a voz mais sedutora possível.

O que você está fazendo? pergunta o anjinho no meu ombro, mas o afasto. Não sei o que estou fazendo, apenas estou fazendo, e não quero voltar atrás.

— Com essa voz, isso não vai ter um resultado muito bom para a senhora. — ele diz, imitando a minha voz.
— E com esse óculos o resultado não vai ser muito bom para o senhor. — respondo, mantendo a mesma voz. O vejo esconder um arrepio. Tento tirar o óculos dele, é isso o que acaba comigo, e talvez tudo volte ao normal quando ele tirar, mas a mão dele aperta a minha quando encosto o dedo nele e meu sacrifício para pensar em alguma coisa foi em vão.
— Deixa. Quero ver qual vai ser o resultado que a senhora falou.

Sinto o tom de desafio em sua voz e não faço sacrifício nenhum para pensar. Deixo o corpo agir pelo impulso que tem existido há tempos e o beijo, mas não como sempre, é diferente.
Não me arrepio, dessa vez, talvez porque seja eu quem tenha tomado a primeira atitude, mas sinto acontecer com Ignazio. Sinto os pelos em sua nuca arrepiando. A sensação eu já conheço de cór, mas não sei se ele à decorou da mesma forma que eu.
Sinto as mãos dele mexendo no meu cabelo, demora até que ele consiga juntar todos os fios em uma mão só.
Não sei exatamente o que sinto, só sei que não quero que pare. Não agora.
Ele se afasta, mas sinto a relutância no tom de voz dele. A boca dele ainda encosta na minha enquanto ele fala.

— O que você está fazendo? Não posso fazer isso!
— Não é tão fácil quando se está do outro lado, não é?

E essa é a verdade. Estar do lado que provoca, do lado do Ignazio, é o lado mais fácil.
Ele tenta se afastar, ainda com a mão no meu cabelo, mas o puxo pela gravata.
Ele, por um momento, se entrega e me beija.
O sinto lutar contra ele mesmo quando a mão dele para no meu braço. Primeiro ele tenta me afastar, depois desiste. Coloco a mão dele na minha cintura. Ele aperta para manter ela ali, mas não consegue.
Você não é tão forte, assim, Ignazio. penso quando vejo que ele não consegue vencer a luta travada com ele mesmo.
Sedendo, rapidamente a mão dele desce pela minha perna.
Deslizo a mão pelo colete dele e paro com elas no começo do bolso da calça.
Ele se afasta e encosta o rosto no meu ombro. Dou risada quando ele respira fundo.

— Não faz isso comigo. -Sussura, com voz de choro.
— Então não me provoca mais. Vem, vamos limpar essa bagunça no seu rosto e deixar você apresentável de novo.

Eu seguro em sua mão e o levo para o banheiro. Ele me segue como uma criança após levar uma bronca.
Pego alguns pedaços de papel e limpo as manchas de batom no rosto dele. O tempo todo ele mantem os olhos fechados.
Me viro para molhar um pouco a toalha e vejo, de relance, no espelho, ele olhando.

— Engraçado você conseguir olhar a minha bunda e não conseguir olhar nos meus olhos. Está pensando no que, Ignazio?
— Em quase dois anos, é a primeira vez que você agi assim.
— Estou no meu limite, Ignazio! — digo enquanto continuo limpando a boca dele —O que você não conseguiu aguentar hoje é o que estou aguentando há, como você disse? Quase dois anos. Vai por mim, não é fácil. Cheguei no meu limite e não tenho mais força para tentar te evitar. Pronto. Você está apresentável novamente. Agora vá ao encontro do seu amigo e esteja ao lado dele que encontro vocês em breve.

Jogo os papéis no lixo e observo ele andar pensativo. Ele põe a mão na maçaneta, mas demora para abrir a porta.

— Moh, você está tão linda quanto uma boneca hoje. Esse vestido deixou você ainda mais linda.
— Não se preocupa Amor, eu te amo. E sou sua. — beijo a boca dele devagar — Você vai ter que aprender a lidar com isso por enquanto. — ele sorri e tira os óculos.
— Por mim, não tem problema nenhum.

O beijo e em seguida bato à porta do quarto da Suelen.
Ela está sozinha agora.

— O que aconteceu, Moh? — ela pergunta enquanto passo batom novamente.
— Se prepara porque vai ser você e o Piero que vão mobiliar o quarto do meu filho.

Ela ri.

***

Luto para não chorar ao ver a expressão de felicidade no rosto do Piero quando a Suelen aparece.
Tenho Ignazio e Gianluca, cada um de um lado, e a expressão de felicidade deles pelo amigo -ou irmão?- é tão comovente quanto ver Piero.
Uma lagrima se forma e a expulso antes que alguém a veja.
Ignazio segura a minha mão e deito a cabeça em seu obro, rapidamente. Ele olha para mim sorrindo e sussurra algo que não consegui entender. Observo a expressão de seriedade no rosto de Ignazio enquanto dura a cerimônia.
Eleonora, mãe de Piero, não segura as lágrimas.
Eles dizem sim um ao outro e, finalmente, um dos rapazes está casado.

Ignazio fica o tempo todo atrás de mim para as fotos.
Ficamos parados, em pé, aplaudindo, como todos, enquanto o Piero dança com a Suelen ao som da orquestra no fundo.
Piero faz sinal para nós, depois de fazer para Gianluca, que tira a Martina para dançar e Ignazio faz o mesmo.

— Não, nem adianta. Não vou fazer isso. — digo.
— Manuela, não vou pedir de novo.
— Tem que conquistar até para dançar, Ignazio? — grita Francesco. Mostro língua para ele, ele faz o mesmo.
— Ta bom, vai. Só hoje.
— Ai sim, Ignazio.— Piero pisca quando termina de falar.
— Meu Deus, eu mereço. — digo, rindo, quando encosto a cabeça no ombro do Ignazio.

Acompanho seus passos, lentamente.

— Sabe, a Suelen disse que não dá dois meses para que eu fique grávida após o nosso casamento.
— E o que você respondeu? — ele pergunta, espantado.
— Que ela e Piero terão que mobiliar o quarto do nosso filho. — Ignazio ri.
— Depois do que aconteceu hoje, é capaz dessa criança chegar antes do previsto.
— Por mim tudo bem. — provoco.
— Manuela…
— Eu te amo — respondo, rindo.
— Eu também te amo. Em breve seremos nós. Você é a pessoa mais linda desse lugar — essa última parte ele sussurra no meu ouvido.
— Muito obrigado, senhor Boschetto. Estranho o senhor não estar com ciúme.
— Aprendi que é legal ver as pessoas te olhando o tempo todo.
— Legal?
— Excitante.
— Ignazio!
— Enfim, — ele ri — , todos podem olhar para você, mas é para a nossa casa, no meu carro, que você volta no final da noite.
— Essa frase tem a cara do Piero. — respondo, rindo.
— Na verdade é dele e do Gian.
— Me parece algo bem inteligente.
— Eles devem ter lido em alguns dos seus livros.

Terminamos de dançar. Ignazio se senta em uma cadeira à mesa reservada para sua família e me sento em seu colo.
Ele coloca os óculos e deixa a mão descansar na minha perna.

— Posso te fazer uma pergunta, Moh?
— Pode.
— Por que óculos? — dou risada.
— Não sei, Ignazio. Sou uma pessoa que gosta de ler, gosta de informação, de ensinar, aprender… Não sei. Você parece mais inteligente com o óculos.
— Então a inteligência te atrai?
— Não. Nunca. — digo rindo.— Como foi que você disse? Ah, sim. A inteligência me excita — digo, baixinho, no ouvido dele.

Ele ri e aperta minha perna.

— Não fica brincando comigo, senhora Boschetto.
— Agora sou “senhora Boschetto”?
— Já é faz tempo, espero que você goste do nome porque será oficializado em breve.
— Senhora Boschetto parece ótimo para mim.

Ele ri e, devagar,a boca dele encontra a minha.

Continua…

2 comentários em “Fã Fic – 3 Irmãos. Um amigo, um cupido e um anjo. (Capítulos 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 30)

  1. Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, eu simplesmente tô A-M-A-N-D-O essa aí! Porque só as segundas? Nunca gostei tanto de segunda na minha vida (tá sendo até melhor que sexta ou sábado). Eu sempre tô aqui de olho nas novidades, mas é a primeira vez que comento. Sou de Minas Gerais e estou me remoendo de inveja gospel, pois os meninos vão estar em São Paulo em novembro, como eu queria ver o Piero pessoalmente, aqueles pernões gostosos dele (*———-*) , ou o Ignacio e tuuuuuudo aquilo (quase dois metros de deliciosidade) , e é claro, Gianluca, tão…. Haaaaaaaa, Gianluca! Ouvir aquelas três vozes juntas, chorei.
    Bjs e não para, per favore!

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