Fã Fic – Através dos olhos de Ignazio ( Capítulos de 14 a 18)

Ignazio.

— Desculpa te desapontar, mas você não vai me mudar. Você sabia como eu era e mesmo assim insistiu nisso. A porta está aberta, você pode ir a hora que bem entender.

Eu estava disposto a esperar o tempo dela. O tempo que fosse. Mas quem toma as decisões é ela. Sempre foi assim. Não tive forças para insistir no contrário e a deixei sozinha naquela noite. Na noite em que ela descobriu qual era o meu trabalho. Na noite em que eu falei mais do que devia. Na noite em que eu poderia perder todo o meu mundo.
Ela gritou comigo mas não tiro a razão dela. Eu deveria ter contado antes. Ela merecia saber, como todos diziam. No nervosismo, falei coisas que a magoaram. Eu estava forte e tinha o controle dos sentimentos enquanto ela chorava na minha frente. Eu pensava ter a razão e estar correto, mas bastou passar pela porta para perceber que eu deveria ter contado antes. O que eu pensava? Que poderia esconder isso a vida toda? Eu a deixei sozinha, pensando estar correto, mas quando cheguei na entrada do hotel e vi a bolsa dela no meu carro não tive forças para seguir em frente. Voltei correndo para o elevador, sem saber o que iria dizer, ou como dizer. Só queria me desculpar. Parei na porta dela, assustado com o que ouvia. Ela era totalmente diferente quando estava nervosa.
A ouvi batendo na porta, dando pequenos socos enquanto chorava e brigava consigo mesma. Não foi fácil entender todas as palavras de início porque ela usava o português, mas vinha me ensinando algumas coisas em sua língua que me ajudaram muito na compreensão.

— Você é uma idiota mesmo, Manuela. O que você pensava? Todos são iguais. Todos.

Nesse memento ela bateu mais forte na porta, quase não conseguindo falar de tanto que chorava. Não gostei de saber que eu havia causado aquilo.

— Que merda, Ignazio. — Parecia que ela sabia que eu estava ali, do outro lado da porta, ouvindo ela dizer meu nome enquanto soluçava.— Por que você fez isso comigo? Por quê? Por que me fez te amar dessa forma? Por quê?

Ela disse que me amava, soluçando por estar nervosa comigo. Ela chorava descontroladamente e eu não tinha forças para tentar bater na porta com medo de vê-la daquele jeito. Da forma que eu havia deixado. Era minha culpa e eu merecia sentir o remorso e a dor que apertava meu coração a ponto de ser difícil respirar.
Ela me disse, uma vez, que o amor é diferente para cada pessoa. Talvez fosse mesmo. Ela teve vários momentos ao meu lado, em meus braços, para dizer que me amava, mas não disse. Ela teve todas as formas possíveis para me incentivar a acreditar que daria certo, mas não fez. Talvez porque ela não soubesse toda a verdade e ainda não estivesse preparada. Bem, agora ela sabia. E queria me matar por isso. Eu demonstro amor protegendo quem amo, e tentei fazer isso com ela, mas falhei, e a dor de saber que cada lágrima que ela estava derrubando era por minha causa só fazia com que eu me sentisse pior.
Ela merecia alguém melhor.
Eu não sabia o que fazer, não sabia onde ir.
Fiquei sentado no banco do carro até conseguir respirar normalmente. Minha cabeça pensava em milhões de coisas e, ao mesmo tempo, não pensava em nada. Quando percebi já havia ligado para o Piero porque sempre parece que ele tem a solução para tudo quando o assunto é ela. Sempre.

— Ela já sabe. — Foi a única coisa que consegui dizer, antes mesmo de Piero falar qualquer palavra.
— Sabe o quê?
— Quem somos, Piero.
— Até que enfim. Você finalmente contou? E como ela reagiu?
— Não contei. Ela descobriu sozinha.
— Ah, não. E como foi isso?
— Ela viu um comercial na televisão.
— O quão nervosa ela está? — era possível perceber o medo na voz dele também.
— Eu acabei com ela, Piero. Você não tem noção do que eu ouvi. Das coisas que ela falou. Eu não devia ter feito isso.
— Não adianta ficar chorando pelo leite derramado agora, Ignazio. Já foi.
— Não sei o que fazer, Piero. Ela vai embora em quantos dias? Três? Como vou pedir ela em namoro agora? Como vou pedir pra ela ficar?
— Vai dar tudo certo, Ignazio.
— Não vai, Piero. Não vai.
— Calma. Me da um tempo pra pensar em alguma coisa. Eu falo com ela amanhã e a convido para ir no concerto. Ela não vai negar., nunca nega. Não adianta mais ficar fingindo. Parte logo para o que te interessa, Ignazio. Não a deixe ir sem ter certeza de que ela irá voltar. Não faça isso porque você nunca vai encontrar alguém como ela.

Eu tinha outra opção? Não. Não tinha. Então simplesmente aceitei a solução de Piero.
Eu não conseguiria dormir. Fiquei sentado no banco do carro uma boa parte da noite, esperando o dia amanhecer para poder falar com ela.
Era isso que eu pretendia, pelo menos.
Acordei, assustando, com Piero batendo na janela do carro. Rindo.
Senti, de imediato, a dor de ter dormido sentado, apoiando a cabeça no volante, e tive dificuldade em sair do carro.

— Você deveria descansar. Esqueceu que temos concerto hoje e você tem que estar 100%?
— Esqueci de muitas coisa. Falando nisso, que horas são?
— Nove e pouco. Quase dez. Vem, vamos tomar um café ali, você está precisando.

Concordei e segui Piero para dentro de uma padaria que poderia ser um bar algumas horas depois.
Cruzei as mãos na frente do rosto.

— Tenho apenas cinco minutos. Vou ser bem rápido. — Ele disse, deslizando a xícara de café até mim.— Ela só está esperando você ir falar com ela, apenas isso. Vai, Ignazio. E chega de mentiras. Chega.

Concordei com Piero e ele saiu logo em seguida. Concerto hoje e a chegada da quase namorada consumiria todo o seu dia. Fiquei ali, refletindo, o máximo que pude. Sem conseguir dizer para ele que estava pronto para deixa-la ir embora. Não sei como isso aconteceu, mas amanheci assim.
Minha cabeça era um tremendo vazio. Não conseguia me focar em pensamento nenhum. Eles simplesmente fugiam de mim e cansei de tentar fazer eles ficarem.
Passar a mão no cabelo a cada dez segundos já estava me irritando e, com certeza, irritando o balconista que não parava de me olhar com raiva cada vez que eu erguia o braço para mexer no cabelo. Talvez fosse preocupação. Talvez fosse medo. Não. Não era medo. Não era insegurança. Não era nada. Era apenas um vazio, imenso e sem fim.
Ignorei mais um olhar feio do balconista e me obriguei a prestar atenção na música que ele havia colocado para tocar, talvez para se distrair e não olhar mais para mim quando meu gesto o irritava. Nem a música estava me ajudando. As palavras vinham e iam mas não faziam sentido algum. E ficou assim, sem sentido, como se tudo tivesse parado ao meu redor, até aquela música invadir a minha mente. Até aquelas frases fazerem o silêncio se tornar incômodo.
“Você não sabe que eu ainda estou aqui ao seu lado?
Agarre o nosso sonho de ser um só.
Porque eu estou me sentindo sozinho, sozinho.”
Era essa a palavra correta. Sozinho. Era assim que eu estava me sentindo e não gostava nada daquilo.
“Não. Você sabe que eu não sou legal como você. Eu não sou verdadeiro como você. Limpe seus olhos, você sabe que não está sozinho.”
Como aquilo era possível? Eu ia deixá-la ir embora e em questão de segundos tudo mudou. Eu não poderia deixa-la. Nunca poderia fazer isso. Não tinha forças. Não tinha forças nem para imaginar uma vida sem ela, de solidão e tristeza. Não. Ela é minha. E estava me esperando, como Piero havia dito.
Eu não ia deixa-la esperar para sempre.
Parei na porta dela, rindo por ouvi-la cantar em seu idioma, sempre se empolgando quando o assunto é o Brasil. Eu ainda não havia aprendido a decorar os nomes, ou as músicas dos cantores que ela mais ouvia, mas reconheceria o ritmo de longe. Era exatamente como ela: contagiante.
Ela desligou o som quando bati na porta, fazendo a música do bar voltar mais intensa em minha mente.
Respire fundo. Se concentre. Isso.
Ela abriu a porta e bastou olha-la para perder todo o controle que eu havia conquistado. E lá se vão as palavras novamente. Lá se vai o controle.
Não queria beijá-la da forma como beijei, pelo menos uma parte de mim. Ela era doce, era frágil. Era certa demais. Era, agora, o chão que eu pisava, o ar que eu respirava e a paisagem que existia no meu mundo. Era tudo.
E tudo voltou ao normal entre nós. Era assim com ela. Como viver alterando entre o fogo e o gelo ao mesmo tempo. Eu gostava disso. E, ao que parece, ela também. Ainda lembro da cara de espanto dela quando viu minhas tatuagens e fez todo aquele discurso sobre o corpo ser algo sagrado quando perguntei porque ela não fazia uma. Mas ela vivia contornando os desenhos no meu braço, sempre que podia. Eu via o brilho nos olhos dela em cada linha, cada contorno. Às vezes, eu poderia jurar, que havia um pequeno sorriso em seu rosto, tentando entender porque ela lutava tanto contra algo que ela gostava, queria.
A marca que ela deixou em mim, desde o primeiro dia que a vi, foi como uma tatuagem: impossível apagar, tirar ou esquecer. Era mais do que parte de uma vida. Era parte de um corpo. Acabava virando uma coisa só.
Nós viramos um só.

***

Nunca fui de controlar muito bem o meu ciúme. Transbordava e escorria mais do que eu realmente gostaria de demonstrar, mas eu sempre percebia tarde demais. Não havia um porquê. Simplesmente tinha ciúmes. Nem sempre com razão, claro. Diferente da minha intuição, que nunca falhava. Os dois trabalhavam juntos. Era algo com que eu poderia contar. Como uma luz no fim do túnel, mostrando o caminho certo.
Essa luz radiou, como o sol, quando a vi no nosso concerto. Ela era linda, sempre foi, mas ainda não a havia visto daquela forma, como as mulheres que encontramos em programas e modelos pelo mundo. Ela estava impecável, com a boca em um tom diferente do normal. Daquele dia em diante, a boca dela nunca mais ficou com a mesma cor. Eu amava aquilo. A forma como ela brincava com as cores, sempre seguindo o humor do dia, e a marca que, depois de muito tempo, começou a aparecer no meu pescoço, ou manchava as golas das minhas blusas com frequência. Isso era o meu futuro. O que eu queria. O meu tudo. Mas nada, nunca, é tão simples. Nada vem de graça. Tudo tem um porquê, uma prova. E a minha prova estava apenas começando.
Como uma chama acessa, persistindo ao vento forte, e aos poucos, consumindo tudo ao seu redor, era assim os sentimentos de Gianluca. Ele nunca percebia quando a chama dele acendia, mas sempre acendia. Sempre. É o jeito dele. É incontrolável.
Ver a Mona daquele jeito, marcando cada curva do corpo dela, sorrindo e atraindo olhares, era uma tortura para mim. E foi então que meu ciúme entrou em ação.
Eu não poderia simplesmente deixar Gianluca a ver daquela maneira. Da forma que, mesmo tendo a Martina, o atiçaria de algum jeito. Então tentei cobri-la o máximo que pude aquela noite. Pensando que o problema estava na forma que ela se vestia, mas eu estava errado. A forma como ela olhava para ele é que era diferente. Talvez ela tivesse percebido que, desde todo o sempre, a pessoa feita para ela era o Gianluca. Ninguém conseguiria negar isso porque era a verdade. A única verdade nisso tudo. E meu medo também se tornou verdade naquela noite. Eu a queria por perto, a todo instante, precisava daquilo, mas não a queria perto de ninguém que pudesse tira-la de mim. Era muito confuso.
Gianluca nunca consegue ficar sem fotos. E essa foi a primeira coisa que ele fez. Abracei a Mona, sem saber muito o que fazer, porque ele ia postar aquela foto e eu tinha que mostrar que ela era minha. Minha. E me parecia ter dado certo. Mas me isolei e os deixei conversarem, se conhecerem, porque a Mona não gostava de fazer essas coisas, de conhecer pessoas novas. E para pedir que ela ficasse comigo, que trabalhasse comigo, ela teria que aprender a fazer isso: a conhecer pessoas novas todos os dias, e não seria fácil para ela. Nada é fácil para ela. Mas, mesmo assim, ela sempre superou tudo. Sempre.
Eu pensei que estava dando certo. Ela havia me deixado em solo firme antes do concerto, dizendo que me amava e me puxando para um beijo. Aquilo também era difícil para ela, mas incontrolável quando estava ao meu lado. Ela era perfeita. Não nasceu para sofrer, ou chorar. E eu odiava quando isso acontecia. Eu queria mantê-la feliz e sorrindo o tempo inteiro, mas isso era impossível. Vê-la chorar fazia com que todo o meu mundo se abalasse a ponto de tuto travar e ser difícil me concentrar em alguma coisa até ela voltar ao normal. Até tudo estar resolvido.
E foi isso o que senti quando voltei do estacionamento e a encontrei com lágrimas nos olhos, soluçando, chorando encostada no meu peito. Deixando as lágrimas ali, na minha blusa, quando pediu para voltar sozinha pro hotel, que não era longe. E a deixei chorar as lágrimas dela sozinha, porque me sinto fracassado quando vejo cada lágrima percorrer aquele rosto.
A deixei ir e fiquei na sala com Piero, Gianluca, suas namoradas e a Barbara. Eu sabia o que havia acontecido, mas fiquei em silêncio assim que a Mona saiu. Ignorei todos os olhares. Nada fazia sentido sem ela. Até mesmo uma briga, uma pequena discussão. Eu havia pedido para Piero que deixasse o acontecido da noite anterior passar, em claro, como se não houvesse existido, e pedi para Gianluca não se aproximar tanto. Eles concordaram, mas nenhum deles agiu como havia prometido. E não seria eu quem iria jogar isso na cara de ninguém.
O silêncio é a pior resposta que alguém pode ter, descobrimos com o tempo.
Peguei o sobretudo da Mona e dobrei, em silêncio, enquanto arrumava todas as coisas dentro da bolsa dela, inclusive o celular. Talvez ela fosse a única mulher no mundo que não se importava em deixar tudo para trás.

— Ignazio, desculpa. Acho que peguei pesado com a Mona, mas ela merecia ouvir.
— Chega, Piero. Já basta o que você fez com ela. — Gianluca estava nervoso.
— Eu acho que está bom para os dois. — disse a Barbara.
— É melhor você ir atrás dela, Ignazio. Você não vai?
— Não, Piero. Não vou. Ela toma as decisões dela. Sempre foi assim e sempre vai ser. Se ela quiser ir, ela vai. Se ela quiser ficar, ela fica. Não vou impedi-la de fazer as coisas, mas vou estar presente em todos os momentos que ela quiser. Pra mim chega. Estou indo pra casa. Você vai querer carona Gianluca? Martina já está com as coisas prontas? Podemos ir?

Antes que Gianluca responde-se, a Mona abriu a porta, surpreendendo a todos, como se nada tivesse acontecido, pedindo para que fossemos ao encontro de algumas fãs.
Como negar um pedido dela? Ninguém conseguia fazer isso. Fingi não notar os olhares do Gianluca e me mantive o mais próximo dela. O mais próximo possível. Ela era minha e ponto.
Eu não fui o único a perceber que ela era um anjo. A menina que ela nos fez conhecer, naquela noite, também descobriu isso. “Não são só balões que voam, Ignazio”, foi o que ela disse. Nunca esqueci isso. Nunca. Essas palavras ecoaram até depois do final.

***

Gianluca.

Meus sentimentos são complicados até para mim. É muito fácil transformar uma simples amizade em algo maior. Mas não acontece porque eu quero. É como o nascer e o pôr-do-sol, que não acontece porque queremos, mas é necessário para os nossos dias.
Como o oxigênio. Precisamos dele, e mesmo sem ser possível enxergá-lo, sabemos que ele está ali, preenchendo nossos pulmões e dando vida ao nosso corpo. O amor, para mim, é dessa forma. Começa imperceptível, como o respirar e expirar, mas eu sei que está acontecendo, porque sempre chega o ponto que começa a doer, como se o ar faltasse e fosse impossível respirar. É sempre assim. Foi assim que aconteceu para que eu iniciasse um relacionamento com a Martina, que era a pessoa mais doce, simples, delicada e linda que eu conhecia. Mas a vida gosta de brincar conosco, de trazer desafios e testar nossa força. Foi isso que a Manuela veio fazer, não só na minha vida, mas na vida de todos.
É muito fácil entregar seu coração a uma pessoa que sabe ouvir, conversar, aconselhar, que tem um coração tão doce e simples, que não sabe o que é egoísmo, que cora diante do mais simples elogio, que sabe brincar, sabe rir e sabe fazer cada dia ser uma nova aventura, ser diferente, ser único. Que é, no fundo, uma criança inocente escondida no corpo de uma mulher forte.
Como controlar os sentimentos que ela causava em mim? No início era fácil. Era apenas uma amizade. Demorou para começar a doer, a faltar o ar. Mas aconteceu.
Não é fácil manter algo assim em segredo. Mas eu não estragaria tudo para Ignazio, um de meus melhores amigo. Ele já não conseguia existir sem ela.
Só por tê-la ao meu lado, sabendo que ela me considerava um irmão, já me bastava. Eu dizia a ela que sentia o mesmo, que ela era como minha irmã mais nova, minha melhor amiga, porque não iria suportar ficar longe dela.
As coisas são como devem ser, e acontecem como devem acontecer. Não adianta tentar interferir. Não adianta tentar dizer não. Não adianta tentar tomar decisões sobre o que vai acontecer. Acontece e só podemos decidir o caminho que tomamos, que deixamos ir, e arcar com as consequências. Sempre foi, é, e será desse jeito.

***

Piero.

Se meu irmão perdeu a cabeça, não ia demorar muito para o Gianluca fazer o mesmo. Ele sempre consegue se apaixonar perdidamente. Ninguém aguentaria a época da Belinda novamente. A Martina chegou e mudou muito nosso amigo, mas a Mona era diferente, como eu sempre dizia. Francesco e Gianluca sentiam o mesmo, mas meu irmão era mais forte porque se mantinha longe dela, já Gianluca ficou tão próximo que sabia de todos os seus segredos. Talvez soubesse mais do que Ignazio.

Estar no meio de uma guerra, entre dois amigos queridos, é complicado.
Percebi os sentimentos de Gianluca antes de Ignazio. Eu sempre percebia essas coisas antes de todo mundo.
Quando Ignazio foi atrás da Mona, no Brasil, Gianluca começou a perguntar demais sobre ela, dando sinais do que estava acontecendo em seu mundo de romantismo.
Ainda me lembro do Gian dando as ideias pro Ignazio de como pedi-la em namoro antes da viajem. Achei estranho o Ignazio aceitar, não era o estilo dele. Mas fez e foi único. Nenhum de nós se aproximou de algo parecido. E a Mona, com certeza, guardou aquilo para sempre. Era o jeito dela.
Um pouco antes da Mona e do Ignazio voltarem, eu estava com Gianluca em Milano e tomei as rédeas, mais uma vez, de toda a situação que envolvia meus dois melhores amigos, meu irmão e minha irmã por opção do destino.

— Então, Gianluca. Já está preparado para falar sobre o que está acontecendo?
— Sobre o quê?
— Não sou cego, Gianluca. E a Martina também não é. Logo ela vai perceber também.
— Você está falando do que, Piero?
— Você não precisa fingir pra mim, Gianluca. Nunca precisou. Eu vejo a forma como você olha pra Manuela. Seus olhos brilham como quando você olhava pra Martina antes da Mona aparecer. Esse brilho só aparece quando você olha pra ela, agora.

Gianluca não esperava que eu fosse falar sobre isso. Acho que ele nem pensava que eu havia percebido. Mas eu reparo em todos os sinais de sentimentos das pessoas. Minha namorada também é assim.
Gianluca não respondeu minha pergunta de imediato. E fiquei em silêncio, observando ele andar com as mãos no bolso, encarando o chão, até entrarmos na lanchonete e nos sentarmos no lugar mais reservado possível.

— Já da pra perceber?
— Eu diria que não. Só percebi porque, bem, você me conhece. Eu sempre percebo.
— Pode ficar tranquilo. Não vou quebrar a regra. Somos amigos, apenas isso.
— Eu sei que você nunca faria isso, mas vai precisar ser muito forte. Eles não vão se separar nunca. É impossível.
— Eu sei. E não quero que eles se separem. Ela está criando um novo Ignazio. E não quero, não vou… — ele suspirou, como se fosse difícil respirar, e fez uma pequena pausa. — Não quero falar sobre isso, Piero.
— Tudo bem, amigo. — coloquei a mão em seu ombro, em sinal de encorajamento, de amizade.— Quando quiser falar eu estarei aqui.

Ele ainda não estava preparado para falar, embora nem precisasse, mas quando estivesse, já saberia que poderia contar comigo. Era assim que fazíamos.

***

Ignazio.

Quando você diz “Eu Te Amo” tem que estar disposto a quatro coisas: entregar a sua vida, se adaptar a mudanças, aprender a dividir e querer envelhecer ao lado de alguém, sem se importar com a mudança física pela qual ela passe. Parece simples. Tão simples quanto dizer “eu te amo”, tão simples quanto andar ou respirar. Mas não é. Você tem que esperar estar disposto a tudo para poder dizer essas palavras.

— Posso fazer uma pergunta? — ela perguntou enquanto deitava no meu braço e eu deslizava minha mão no seus cabelos. Não lembro em qual cidade estávamos.
— Você sempre pode, amor. — Beijei sua testa e mantive os olhos fechados.
— Era assim que você imaginava?
— Assim como?
— Essa correria toda, meu sotaque estranho, quase não nos vermos e ao mesmo tempo estarmos tão perto, tão ligados. Como você imaginava que fosse? — Nunca entendi a insegurança dela.
— Eu sempre me imaginei sabendo tudo sobre a mulher que estivesse vivendo sua vida comigo. — Ela não me olhava, mas eu continuava mexendo no seu cabelo.— Por exemplo, o jeito como ela fica sem graça quando erra uma palavra, ou as músicas que ela canta na língua dela quando está sozinha, os seus livros preferidos, as roupas que ela nunca usaria ou o jeito dela de brincar com o meu cabelo. Acho que estou no caminho certo. Progredindo. O que você acha?

Ela olhou para mim, rindo. Eu sabia tudo e, ao mesmo tempo, não sabia quase nada nada. Mas sabia que a amava e aquilo já me bastava.

— Você é bobo.
— Você que é.
— Eu te amo, seu chato. Agora vamos dormir porque se você não amanhecer bem, a Balbie nos mata.

Ela beijou a ponta do meu nariz e sorriu antes de voltar a deitar no meu braço para que pudesse voltar a mexer no seu cabelo.

— Amor?
— Sim.
— E como está sendo pra você?
— Sua pergunta é um tanto vazia, Nazio.
— Ha-ha. Estou falando sério. Como você sonhava?
— Quando eu era criança — ela disse, quando eu pensava que já não iria responder.— sempre imaginei minha mãe comigo. Poder ligar e pedir ajuda. Igual a você com sua mãe. Mas a vida me tirou ela, Ignazio. Me tirou meus sonhos. Eu não tenho planos. É você quem dita as regras do que vai ou não acontecer. Mas eu não tenho quem me ajude, quem me diga se estou, ou não, fazendo a coisa certa. Não tenho quem me ajude a aprender a resolver os problemas de um relacionamento. Não tenho nem alguém para você visitar ou conhecer, alguém que se alegre com sua chegada se preocupando em deixar tudo organizado para te receber e cobrar um casamento de você. Eu não tenho essas coisas, Ignazio. E peço desculpas por não ter isso. Você iria gostar da minha mãe. Ela era doce e simpática, meiga e engraçada como você.
— Desculpa, Mona. Eu não queria te magoar.
— Você não me magoou. Está tudo bem. Agora chega. Boa noite, amor.
— Boa noite.

A Mona não falava da família dela, a não ser da mãe. E eu percebia o quanto aquilo doía nela, o quão era difícil. Então, como em todas as noites, cantei baixinho para ela dormir enquanto acariciava seu cabelo, parando só quando seus olhos estavam fechados.

— Ignazio.
— Hum.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, minha pequena. Agora dorme. Eu estou aqui. Sempre vou estar.

Beijei a testa dela, como eu sempre fazia.

Então você pode me guardar no bolso do seu jeans rasgado. me abraçando até nossos olhos se encontrarem. Você nunca estará sozinha. Me espere para voltar pra casa.

E assim ela dormiu, como sempre.
Quando você está pronto para dizer “eu te amo”, está pronto para qualquer coisa, exceto esperar. Então pra que esperar?

Continua…

8 comentários em “Fã Fic – Através dos olhos de Ignazio ( Capítulos de 14 a 18)

  1. Há tempo que vejo as histórias sendo postadas, mas nunca tinha tempo de ler. Só agora é que tive um tempinho, li 18 capítulos direto… Eu amo os meninos, uma pena eles não fazerem shows em BH, e uma pena eu não poder ir para SP ver os shows 😦
    Enfim, estou amando as histórias… me pego criando histórias sobre eles também. Acho que todos os fans são assim, né?! Estou amando!!! ❤

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    1. Oi Ana Paula, tudo bem? Esses textos são Fã Fics, que fazem parte do nosso “Espaço Para os Fãs.” Fã Fics são contos, histórias, escritas pelo fã tendo o ídolo como personagem. No meu caso, tendo Ignazio, Piero e Gianluca como personagens principais. São histórias fictícias, como um livro escrito por um fã em homenagem ao ídolo.

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  2. Nem preciso dizer que vc demorou pr apostar e eu ja estava ficando louca aqui
    Li o cap assim que vc postou mas soto podendo comentar hj
    preciso dizer: Tadinho do Gian, mas admiro a atitude dele
    Nazio é muito mais ciumento do que eu imaginava e eu amei esse cap
    posta mais logo
    bjo

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    1. Maria, amore, você sempre por aqui :”) Fico muito feliz por isso. Sempre amo os seus comentários, a sua empolgação, amo ler seus pensamentos sobre a história, o que você acha dos personagens e suas cobranças para os capítulos serem postados no dia certo -ou até antes- kkkkkkkkkkkk fico muito feliz com tudo isso, de verdade. Agradeço muito seus comentários, por você estar sempre, aqui, lendo essa história que criei com medo de ninguém gostar kkkk
      Milhões e milhões de beijokas.
      Ah, e o capítulo de segunda-feira será postado na segunda, viu?? õ/

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      1. Eu amo sua fic seria impossivel não amar, estou amando essa versão da historia e morro quando um cpap não é postado no dia pq fico imaginando oq vc esta preparando pra gente.
        Tenha certeza de que sua história é boa e que você é uma ótima escritora
        Sinto falta de ler fics dos meninos e te achei e lerei todas as que vc escrever daqui pra sempre.
        Bjos e to esperando o proximo

        Curtido por 1 pessoa

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