Fã Fic – Per Te Ci Sarò (Capítulo 10)

— Salve. Buongiorno. Quero dois ingressos para o concerto do Il Volo, no sábado —falei a atendente.
— Estou dizendo, Lia, você é louca — Antonella, sussurrou ao meu lado.
— Loucura faz parte.
— Você vai gastar todo o dinheiro que você recebeu essa semana só com isso. Você não tem outras prioridades?
— Não no momento.
— E se você tiver outro ataque de asma? Lia, pelo amor de Deus, compra o remédio. Deixa esse ingresso pra outro dia!
— E se não houver outro dia, Antonella? Não vou deixar minha irmã perder mais essa oportunidade.
— São 300 $ — Falou a atendente.
— Santo Cristo! O que é isso? Eles vão busca-las em casa também? Por esse preço o jantar com eles também está incluído, só pode — gritou a Antonella, boquiaberta. Quase morri de vergonha.
— Tudo bem. — Falei, sorrindo para a atendente. — Ela é exagerada. Vou querer os dois ingressos, por favor.

Acordei cedo, antes de minha irmã poder acordar e me encher de perguntas sobre o Il Volo, deixei tudo pronto para o café dos meus pais quando eles acordarem e fui com Antonella até a casa do Natucci. Não foi difícil convencê-lo a me adiantar o salário do mês inteiro porque me ofereci para trabalhar na sorveteria daqui de Bologna por quatro domingos. Ele precisava de alguém para trabalhar de domingo e eu precisava do dinheiro, unimos o útil ao necessário.
Foi preciso muita, muita paciência para conseguir fazer uma pesquisa no site do Il Volo, antes de sair de casa, e descobrir que esse concerto de sábado, em Bologna, será o penúltimo da tour desse ano. Ou seja, se não for nesse sábado, não será mais em dia nenhum desse ano. Então pedi o adiantamento ao Natucci para poder levar a Leah ao concerto.
Até que recebi um salário aceitável. Metade dele se foi com os ingressos. Pretendo levar Leah para escolher um vestido para ir ao concerto, pagar alguma conta e comprar o remédio para asma, que não compro já vai fazer uns dois meses e desde então imploro para meus pulmões funcionarem normalmente. E não posso esquecer de deixar o dinheiro para o transporte até o ginásio onde será o concerto.

— Você não é normal, Lia. — Antonella falou pegando os ingressos da minha mão.— Deveríamos pedir ingresso para eles.
— Pelo amor de Deus, ninguém precisa saber que sou pobre, Antonella.
— Não é questão de ser pobre, é uma questão econômica financeira.
— Em outras palavras, é questão de ser pobre. Você sempre reclama que eu não saio, agora vou sair. Não te entendo, era para você estar feliz.
— Eu estou feliz. Mas ficaria muito mais se tivesse a certeza de que você consegue sobreviver à esse show sem ter outro ataque de asma, e, se tiver, queria ter a certeza de que você ainda estará viva para ir ao meu casamento.
— Ah, pode ter certeza de que não perco seu casamento por nada nesse mundo. — Falei, rindo.
— É bom mesmo. Aliás, antes que me esqueça, minha mãe viu a sua saindo daquele hospital do câncer. Acho que isso foi na quarta. Ela me pressionou até chegarmos em casa, ontem, me perguntando sobre isso. Está tudo bem, Liadan?
— Está. — Respondi, fazendo careta diante de toda essa história estranha.
— Você tem certeza?
— Até onde eu sei, está tudo normal. Mas vou falar com ela quando chegar, qualquer coisa eu te aviso e você passa para a sua mãe.

Aquilo era muito estranho, mas nem tive tempo de conversar com a minha mãe direito. Ela deve ter ido fazer aqueças visitas sociais e ajudar as enfermeiras a cuidar de algumas crianças, como ela costumava fazer antigamente.
Voltamos quase que correndo o caminho inteiro. Se já era pouco o sábado e domingo para matar a saudade que eu estava sentindo da minha família, ter que trabalhar no domingo não vai ajudar muito.
Cheguei em casa e minha irmã ainda estava dormindo, mas para minha surpresa, encontrei Scott sentado no sofá, conversando com meu pai. Ele nunca vai na minha casa, na verdade o fato dele ter entrado na minha casa ontem já me deixou surpresa. Eu não me incomodo com isso, já que não sou bem vinda na casa dele, mas meu pai não gosta muito.

— Bom dia, família. — Falei, rindo. Assim que abri a porta. Cumprimentei minha mãe, meu pai e Scott.— Você por aqui? A que devemos a honra? — Falei, sorrindo.
— Algo me diz que você não vai deixar seus pais para sair comigo, então decidi passar o dia com vocês. Acabei de me resolver com seu pai e vou levá-lo de carro no trabalho hoje, depois eu volto para incomodar você e sua mãe. — Ele sorriu e me entregou o copo de suco que estava segurando.
— A Leah vai adorar essa notícia.— respondi, bebendo um pouco do suco.

Leah adora o Scott. Na verdade, Leah adora qualquer pessoa que a pegue no colo e se disponibilize a sentar no chão e jogar jogo da memória com ela. Basta isso para receber o seu juramento de amor eterno.
Scott saiu com meu pai para levá-lo ao trabalho pouco depois que cheguei. Lavei o copo e voltei a me sentar no sofá. Minha mãe se sentou ao meu lado e me puxou para um abraço. Sempre fico constrangida nesses momentos que ela demonstra afeto.

— Comprei o ingresso. Vamos ficar na primeira fila. A senhora acha que ela consegue não gritar muito quando ver?
— Se ela não gritar agora, você terá que aguentar os gritos dela durante o concerto. — Minha mãe sorriu.
— Então é melhor aguentar agora, não é? — Perguntei, sorrindo. Minha mãe concordou e me fez deitar no sofá e apoiar a cabeça em sua perna para que ela pudesse fazer uma trança em meu cabelo.
— Posso te fazer uma pergunta, filha?
— Sim, senhora.
— O que você sente por esse rapaz é amor mesmo?

Fiquei em silêncio. Eu não sabia o que responder. Não sei muito bem o que sinto. E não consigo afirmar se é amor ou não.
Aquela era uma pergunta que eu vinha me fazendo muito ultimamente. A opinião de Antonella me deixa muito intrigada sobre esse assunto.

— Você consegue se imaginar o seguindo em cada jogo? Nem quando ele está em casa, ele realmente fica em casa. Você acha que vai conseguir dobrar os pais dele em algum momento?
— A mãe dele não me suporta, e a senhora sabe disso. O pai acha que sou um problema para o futuro dele no esporte. Preciso dizer mais alguma coisa?
— Não. Era tudo o que eu precisava saber.

Ela não disse mais nada, então também fiquei calada.
Acordei ainda deitada no sofá e encontrei Scott, Leah e minha mãe almoçando.
Assim que Leah viu que eu havia acordado, correu na minha direção e me abraçou.
Tive de aguentar mais um chilique de felicidade dela assim que entreguei o ingresso. Ela gritou, chorou, e perguntou para todo mundo se o ingresso era de verdade. Scott riu muito do desespero dela. Eu também ri. Ele se ofereceu para levar-nos até o centro para comprar o vestido dela.

Almocei e passei a tarde toda brincando com Leah, Scott e minha mãe.
Decidimos ir comprar o vestido da Leah um pouco mais cedo, porque assim passaríamos na empresa que meu pai trabalha para levá-lo para casa conosco.

Eu já não aguentava mais ouvir sobre os rapazes do Il Volo, ou rever o vídeo que eles gravaram para ela, mas Scott parecia uma criança dando corda à cada ideia maluca de Leah, como ir no hotel deles, ou ir na casa deles, ou se casar com um deles. Eu ria porque era muita loucura para um dia só.

Na loja, Leah provou sete vestidos, mas não gostou de nenhum. Scott se cansou no quarto vestido e decidiu ir na loja esportiva enquanto Leah decidia qual vestido levar. Ela provou um rosa rodado, um azul com alça preta, um verde com pedrinhas brancas, um preto com detalhes dourado que eu achei lindo, mas ela não gostou, um florido que eu detestei mas ela parecia ter aceitado e um vermelho com bolinhas brancas que ambas detestamos.
Já estávamos quase que indo finalizar a compra quando Leah olhou o vestido no manequim e quase teve um pequeno ataque querendo vesti-lo. Ele, realmente, era lindo. O busto era presto, bem justo, com detalhes douradas, a saia era rodada e com três camadas de pano, duas vermelha e uma de renda rosa claro que deixava o vermelho mais escondido. Só amei o vestido porque era longo. Parecia aqueles vestidos dos filmes antigos.

— Lia, eu quero esse. Nós podemos levar? — Dei risada da cara de animada dela.
— Se você que ir em um concerto vestida de camponesa, não sou eu quem vou impedir. — Falei, rindo.— Vamos levar esse, moça. Qual o preço? — Perguntei à atendente.
— 150 euros.

Fiquei apavorada por dentro, mas sorri para Leah não perceber. Eu não pensei que fosse tão caro e tinha planos de comprar um para mim também, mas logo risquei isso da lista. Saímos da loja com Leah pulando de alegria, contando à todas as atendentes que irá no concerto do Il Volo e segurando uma sacola com o vestido em uma mão e um par de sapatilhas na outra.
Paramos na farmácia que minha mãe costuma frequentar.
Scott passou por nós e levou Leah para tomar sorvete. Me aproximei do caixa.

— Moço, eu preciso…
— Liadan, não me leva a mal. Sua mãe já passou aqui duas vezes nessa semana, enquanto ela não pagar o que deve, nós temos ordens para não vender mais nada à vocês. — Ele falou, me interrompendo.

Primeiro me deixou preocupada o fato dele saber meu nome porque não me lembro de conhecê-lo de lugar nenhum. Em seguida, um sentimento bem parecido com humilhação tomou conta de mim. Aquilo, com certeza, era humilhação. Desejei não ter entrado naquele lugar. Desejei não precisar de remédio para asma. Desejei não existir.

— Bem, é para isso que estou aqui. — Pigarreei, mentindo.— Quanto minha mãe deve? — Alguém teria de pagar essa conta mesmo. Meus pais não tem dinheiro e eu não conseguiria sair daquele lugar sem deixar essa divida quitada.
— 213 euros.

Fingi que aquilo não me deixou apavorada, peguei a carteira do bolso e entreguei 250 euros ao caixa. Esperei o troco e sorri para ele antes de guarda-lo no bolso. Aqueles 37 euros foram tudo o que me sobrou. O meu remédio para asma custa 45 euros, então não teria condições de comprá-lo.
Saí irritada da loja, com medo de passar mal e nervosa por não saber dessa dívida. Não me lembro de Leah ficar doente. E minha mãe sempre me conta tudo, como eu não sabia sobre isso?
Respirei fundo antes de entrar no carro.

— Cadê o remédio, Lia? — Perguntou Scott, olhando para minhas mãos com cara de confuso.
— Eles não têm. Deixei nosso endereço, semana que vêm entregam lá em casa. — Menti. Mas se eu contasse a verdade resultaria em uma discussão enorme com Scott e a Leah iria se sentir mal por tudo o que comprei pra ela. E não era isso o que eu queria. Eu queria que todos estivessem felizes, que nada nos faltasse e que pudéssemos ter uma vida melhor.

Paramos do outro lado da rua, de frente à entrada da empresa que meu pai trabalha.

— Tudo bem, Liadan? — Perguntou Scott, se inclinando para ficar ao meu lado e arrumar o meu cabelo atrás da orelha.
— Tudo sim. — Sorri. Ele continuou me encarando com aqueles olhos perfeitos.
— Não está não.
— Está sim. Por quê você acha isso? — Perguntei, sorrindo.
— Você não falou nada o caminho todo.
— Minha garganta está arranhando. Não aguento mais falar sobre esses rapazes com a Leah. — Sorri e ele sorriu também.
— Que bom que ela dormiu — falou e se endireitou no carro quando meu pai apareceu atravessando a rua e vindo em nossa direção.

Meu pai entrou no carro com a cara mais fechada que o normal. Percebi de início que havia algo errado, mas decidi não perguntar na frente do Scott.
Scott pegou Leah no colo e o ajudei a levá-la até meu quarto. Meu pai deixou as sacolas de compras dela na porta do nosso quarto, só as coloquei no guarda-roupa. Ele a deitou na cama com cuidado, ela nem sem mexeu. Meu coração ainda doía apertado no meu peito. Era a vontade de chorar misturada a falta de oportunidade para isso.

— Liadan, precisamos conversar — falou Scott. Logo abandonei meus sentimentos para me concentrar na conversa com ele.
— Pode falar.
— Não quero conversar aqui. Podemos ir lá fora?

Concorde. Ele se despediu dos meus pais antes de sairmos de casa. Parei encostada no carro do pai dele, que ele usou o dia inteiro.

— Sobre o que vamos conversar? — Perguntei, curiosa.
— Eu vou para a faculdade, Liadan. — Ele falou, passando a mão no queixo.
— Que bom. — Respondi, sorrindo. E corri para abraçá-lo, animada. — Finalmente decidiu o que quer fazer! Estou tão feliz por você, Scott.
— Liadan, eu vou para Stanford — Falou, sem expressão no rosto.
— Stanford? No exterior? Como é? — Me afastei aos poucos.
— Meus pais decidiram assim. Nos mudamos essa semana — me olhou nos olhos. Lutei ao máximo para não deixar as lágrimas se acumularem neles.
— Seus pais? Tinha de ser mesmo.

Ele tentou colocar a mão no meu rosto, mas desviei do toque dele.

— Então acho que acaba aqui. — Falei, contendo a voz de choro e as lágrimas. Ele não me olhava mais nos olhos.— É isso mesmo que você quer?
— Eu não quero deixar você, Liadan.
— Então não vai.
— Não é assim.
— É claro que é. Se você não aceitar, eles não vão insistir.
— Você conhece meus pais.
— Não. Não conheço. Mas conheço você, Scott.
— Não faz isso, Liadan.
— Isso o quê?
— Eu não posso ficar. Não posso.
— Então acaba aqui mesmo?
— Eu volto, Liadan.
— Se você entrar naquele carro para ir embora eu não quero que você volte. Se você quiser ir embora, é para ir.

Ele não me respondeu. As lágrimas começaram a se formar nos meus olhos. Tirei a aliança sutilmente do meu dedo e a coloquei na mão dele.

— Tenha uma ótima vida em Stanford, Scott.
— Liadan, por favor…

O deixei falando sozinho para poder chorar enquanto caminhava até minha casa. Fechei o portão sem olhar para trás, não queria que a última memória que ele tivesse de mim era a de uma garota fraca e chorona. Aquilo foi quase como uma facada no meu coração. Mas mantive os sentimentos guardados novamente antes de entrar em casa.
Meus pais me esperavam na sala.

— Filha, precisamos te contar algumas coisas. — Falou meu pai, assim que me viu.

Me sentei perto deles, segurando minhas lágrimas e fingindo que não havia um mundo entalado em minha garganta.

— Vamos direto ao assunto, sem enrolação, por favor. — Falei, rápido, com medo de começar a chorar.
— Seu pai está de aviso prévio. — Falou minha mãe.
— E sua mãe já vêm se tratando há algum tempo, mas está com câncer.

Eles continuaram, mas minha visão ficou turva demais e eu não entendi mais nada do que eles falaram. Quando percebi, já estava lutando para conseguir respirar enquanto chorava.
Existem pessoas que nascem com sorte, sorte até demais. Tem felicidade, amigos, família, saúde, sorte, muita sorte, inteligência, beleza e uma renda incrivelmente perfeita. Como Scott. Ou como os rapazes do grupo que Leah gosta. Mas para cada pessoa com sorte, nasce trinta mil que não terão felicidade, saúde, família e amigos. É esse o equilíbrio da vida. Para que pessoas como Scott tenham tudo o que sonham, pessoas como eu têm de sofrer dia após dia. Tem de chorar. Tem de sentir o coração ser arrancado do peito a cada segundo para tornar a dor mais constante. Tem de ver a lua cobrir o sol e transformar tudo em noite, em escuridão e em um céu escuro sem estrela.
Minha mãe gritava alguma coisa do meu lado, batendo de leve nas minhas costas.
A lembrança de Piero me ajudando a voltar a respirar invadiu minha mente, mas não refiz o passo-a-passo daquele dia. Eu não queria voltar a respirar. Eu queria não precisar mais fazer isso. Eu, de fato, não queria mais existir. Doía tentar respirar. Meu coração doía batendo descompensado para tentar ajudar o ar a chegar ao meus pulmões. Minhas costas doíam de tanto que minha mãe batia nelas. Era uma amostra de como seriam meus dias daqui para frente.
Me joguei no chão e fechei os olhos. Eu queria, implorei, para a morte me visitar naquele momento. Tudo doía. Tudo. Era evidente que meu pai, com a idade que tem, será impossível conseguir um novo emprego. E como eu iria manter nossas vidas? Como?
Solucei mais do que o necessário e comecei a tossir. Quando abri os olhos, Leah me olhava meio embaçada, turva. As mãos dela me balançavam para frente e para trás. Levantei apavorada e peguei a primeira cadeira que vi. Abri a porta, coloquei a cadeira do lado de fora e me sentei, apoiei a cabeça entre as pernas e respirei mais devagar.
Inspira. Conta até cinco. Expira. Conta até cinco. Inspira. Mais cinco. Expira. Diminui para três. Inspira. Mais três. Expira. Inspira. Expira.
Aos poucos a voz da minha irmã foi ficando normal

— Lia, Lia. Lia. Liadan.
— Leah, para de gritar. — Falei, quando cansei de ouvi-la gritando meu nome. Ela me entregou um copo de água. Aceitei.
— O que foi?
— Eu estou sem o remédio. — Falei, sorrindo para ela.— Vou na casa da Antonella pegar e já volto.
— Você não vai na Antonella agora, Liadan. — Falou meu pai.
— Ela vai sim. Se ela quiser, ela vai. — Respondeu minha mãe.
— Eu vou com você, Lia.
— Não, não vai. Leah. Sua irmã vai voltar logo. — Disse minha mãe, vindo até mim, beijando minha testa e falando ao meu ouvido.— Me desculpe por isso. Me desculpe por tudo.
— Está tudo bem. Vou dar um jeito. Vai dar tudo certo.

Mentir não é algo bom. E eu já havia feito isso quatro vezes naquele dia.
Peguei meu telefone e uma blusa de frio e corri para fora de casa. Fechei o portão e fiquei encostada nele por alguns segundos. Meu coração, batendo descompensado, fazia doer tudo ao redor.
É incrível como as coisas funcionam. Acordei de manhã feliz e com a impressão de que um dia tudo poderia melhorar, e vou me deitar tendo a certeza de que, se eu não passar a trabalhar dia e noite, teremos problemas bem maiores em minha casa.
Eu já havia passado pelos quatro quarteirões, estava no meio da praça quando começou a chover, e haviam mais sete quarteirões para chegar na rua da casa da Antonella.
Tive a impressão de ouvir passos atrás de mim, e a sensação de ter alguém me seguindo. Acelerei o passo, mas fiquei com medo de olhar para trás, então acelerei o passo mais ainda. Peguei o celular no meu bolso e cliquei na última chamada recebida. Não olhei o número porque criei coragem para olhar para trás e confirmar que haviam duas pessoas a pouca distância de mim. Era só o que me faltava mesmo: ser assaltada agora para completar o fim do poço. O celular tocou cinco vezes antes dela atender.

— Preciso conversar com você. Estou à caminho da sua casa, saindo da praça agora, entrando na Marcelo Rossi. Pelo amor de Deus, pega o carro do teu pai e vem me encontrar. Acabei de descobrir que minha mãe tem câncer, quase morri com outro ataque de asma e tenho certeza de que tem dois homens me seguindo. Consegue chegar aqui em quanto tempo? — Falei, começando a correr quando percebi que os homens estavam bem mais perto de mim.
— Liadan? Como é? Tem alguém te seguindo? — perguntou a voz masculina do outro lado da linha.
— Antonella? — Perguntei, ofegante, virando a esquina e acelerando o passo.
— Não. É o Piero, lembra? Te liguei há pouco. Está tudo bem?
— Qual Piero? Desculpa moço, liguei errado.

Desliguei o telefone e procurei o número da Antonella na agenda. Antes que eu pudesse iniciar a ligação, senti uma mão estranha tocar meu ombro e fui puxada para trás com tanta força que caí no chão. Minha perna doeu com o impacto e minha roupa ficou molhada por causa da chuva.

— Pensei que você nunca mais fosse voltar — falou um deles, me ajudando a levantar.
— E que aquele cara nunca fosse te deixar. Parecia uma fortaleza ao seu redor, que saco! Está assustada, Tesoro? — disse, se aproximando demais de mim.

Realmente haviam dois. Mas ambos eram do mesmo tamanho e pareciam ter o mesmo porte físico. A chuva também não me ajudava.
Assustada é pouco.

— O que vocês querem? — consegui perguntar, ofegante.
— Calma, Liadan. Não vamos te machucar. — Disse um deles.
— A não ser que você queira. — Pedi para parar de respirar naquele momento. Mais uma vez, não aconteceu.
— Queremos te oferecer um emprego.
— Que tipo de emprego?
— Tem uma casa noturna, do outro lado da praça. Aquele lado que você evita. Nós ajudamos as garotas. Falta uma brasileira na casa, nós te indicamos. Se você se sair bem, tudo pode melhorar.
— Agradeço a indicação, mas ainda tenho um pouco de dignidade. Grazie. — me levantei com dificuldade e comecei a andar, sem olhar para trás.
— O telefone está no bolso da sua calça. Se for, avisa.
— Me poupe dessa palhaçada — gritei, virando a esquina.

Comecei a correr e liguei para Antonella novamente.

— Está em casa? — Perguntei assim que ela atendeu.
— Estou. Você está aonde? Está correndo?
— Consegue vir me encontrar? Tipo, para ontem?
— Onde você tá? Estou indo!

Antonella não veio me encontrar, mas o pai dela sim. O encontrei a duas quadras da casa deles. Ele não perguntou nada e caminhou ao meu lado, devagar, enquanto eu tentava respirar.
Assim que Antonella saiu e me abraçou, quando chegamos na varanda dela, percebi o quão dolorida e molhada eu estava.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, me trazendo uma toalha. Sentei no chão e ela se sentou ao meu lado, preocupada.
— Você quer os acontecimentos na ordem?
— Pode ser. O que foi? Você nunca sai à noite.
— Scott vai pro exterior, minha mãe tem câncer, meu pai foi demitido. Ah, já ia esquecendo, fui seguida por dois homens no caminho até aqui.

Ela ficou, no início, sem reação.
Acho que ela pensava que era brincadeira minha, mas logo me abraçou.

— Oh, Liadan. Tudo tem que acontecer com você, hein. Vai dar tudo certo.
— Não. Não vai, não.

Respondi e comecei a chorar novamente.

Continua…
Fic atualizada em 2023

10 comentários em “Fã Fic – Per Te Ci Sarò (Capítulo 10)

  1. Eu tenho a ligeira imprenssão de que você quer me matar….
    Você me posta só 1 capitulo (e que cap senhorita) e termina ele assim
    Vc arrancou um pedaço dele e pisou em cima com esse cap
    que peninha que eu estou do Lia meu deus
    E eu fico me perguntando como ela não soube quem era o Piero depois de tudo que aconteceu,
    mas entendo que ela estava em choque
    Eu quase morri desesperada por esse cap e vou ficar desesperado pelos proximos
    Não demora postar PFVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
    Bjo…. estou amando

    Curtido por 1 pessoa

    1. Ahhhh Maria, vc é sempre tão fofa, até quando quer me dar um “esporro” kkkkkkkk
      Fico muitooo feliz com todo o seu entusiasmo com a história, por todas as história. E tenho muito a agradecer por vc acompanhar todas :”) ❤
      Obrigada por tudo, amore.
      E talvez saia capítulo mais cedo esse final de semana õ/ kkk
      Bjks

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    1. Oiiii Milene \õ/
      Sim amore, as coisas vão melhorar na vida da Lia. Ela vai descobrir, aos poucos, que “a vida é bela” \õ/
      Olha eu soltando spoiler D: kkkkkkkkk
      espero que vc continue gostando.
      Obrigada pelo seu comentário.
      Milhões de beijinhos :*

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