Fã Fic – Per Te Ci Sarò (Capítulo 27, 28, 29 e 30)

Eu não estava errada. Eleonora também não. A cada dia, a dor era mais intensa, mas dava para suportar e disfarçar. Gianluca e Ercole me levaram ao hospital todos os dias. Eu tentava não deixar transparecer a dor quando tinha de abaixar para preparar um sorvete ou limpar a chão da sorveteria. Antonella não percebia, o que era muito bom, e saia todas as noites com Roberto, que era melhor ainda porque eu conseguia descansar sem problema.
A dor, nos dois primeiros dias, passou com o chegar da noite, no entanto, na quarta-feira, a dor não me deixou e a dor de cabeça começou suportável. Acordei na quinta-feira, diferente dos outros dias, com o corpo dolorido, principalmente as costas, mas fui ao hospital, a dor piorou com o passar das horas e estava difícil fingir que não haviam facas cortando minhas costas todas as vezes que eu me abaixada.
No hotel, apaguei todas as luzes assim que Antonella saiu, porque a claridade me incomodava e tornava a dor na cabeça mais insuportável. Não consegui dormir rápido, como nas noites anteriores, e fiquei virando de um lado para o outro até meu telefone, em baixo do travesseiro, tocar. Me sentei para atendê-lo.

— Buona notte, bella.

Não consegui não deixar escapar um sorriso. Que bom que ninguém estava ali para me ver.

— Boa noite, Piero.
— E aí, como estão as coisas?
— Tudo bem. E as coisas por ai? — Falei sorrindo.
— Aqui todos querem te conhecer. E estou sendo o vilão por não ter te trazido antes do transplante. — Ele disse sorrindo.
— Sério?
— Digamos que você ter ido na casa do Gianluca primeiro não ajudou muito. — Dessa vez eu sorri com ele. — Então, como o transplante é na segunda, prometi pra todos que se você estivesse bem viria aqui pra casa na quarta. E inclui a Leah no pacote.
— Ah, Piero.
— Não! Você não vai negar porque meu irmão virá de Bologna com a namorada só por causa disso.
— De Bologna?
— Sim. Você mora em um lado da comune e ele do outro. Mundo pequeno.
— País pequeno. — Ele sorriu.
— Como você está, minha pequena?
— Estou bem.
— Conversei com a mãe do Gianluca e ela disse que não é tão simples como você faz parecer.
— Mas estou bem.
— Que bom. E onde dói?
— Minha coluna e minha cabeça— falei, sem perceber.
— Ainda consegue andar?
— Consigo. Mas tá ficando difícil levantar e sentar o tempo todo.
— E a dor de cabeça?
— Não me deixa dormir.
— Você quer ir no hospital?
— Não. É normal. E amanhã eu tenho que ir de qualquer jeito.
— Sua amiga está com você?
— Não. Ela saiu. E estou melhor assim.
— Quer que eu chame o Gianluca?
— Não Piero. — Sorri. — Não precisa mesmo. Eu estou bem, só não consigo dormir.
— Quer que eu vá até você?
— Não precisa, Piero. Por favor. Isso só vai fazer eu me sentir pior.
— Então eu passo o final de semana com você.
— Piero, por favor. Está tudo bem. Fica com a sua família um pouco.
— É ela? — Perguntou uma voz feminina do outro lado.
— Sim. — Respondeu Piero.
— Deixa eu falar com ela? — A dona da voz feminina perguntou.
— Minha irmã quer falar com você, Lia. Tudo bem pra você?
— E eu vou falar o quê? — Perguntei, sorrindo.
— Pode deixar que isso é com ela. — Ele disse.— Tô, mas não abusa porque ela não está bem.
— Ciao, cognata! — Disse a irmã de Piero bem animada do outro lado da linha. Forcei a mente tentando lembrar o nome dela. Era Ma… alguma coisa. — Eu sou a Mariagrazia. Posso te chamar de Lia também?

Respirei aliviada por não precisar lembrar o nome dela. Estava ficando fácil.

— Claro que pode, Mariagrazia. Todos me chamam assim.
— E quando vamos te conhecer?
— Seu irmão acabou de me falar que combinou com vocês para a semana que vem.
— Então você vem mesmo na semana que vem?

Era engraçado o jeito animado dela.

— Se tudo der certo, sim.
— Eu vi as fotos que a família do Gianluca postou. Você é muito linda.
— Obrigada. Mas a família do Gianluca é muito gentil, qualquer pessoa fica linda com eles. — Ela gargalhou.
— Meu irmão disse que seus olhos são cinza. É verdade?

Dessa vez fui eu quem gargalhei.

— Sim, é verdade.
— E como você está?
— Eu estou bem, e você?
— Eu também estou bem, mas Piero disse que você não está bem.
— É por causa das dores, Mariagrazia. Mas logo vai passar.
— Eu lamento muito pela sua mãe. E por você também.
— Está tudo bem. Estamos quase no fim. — falei sorrindo.
— E tudo vai ficar bem.
— Vai sim. — concordei com ela.
— Mudando de assunto. Você poderia me aceitar no instagram?

Não consegui não rir. E escutei a gargalhada de Piero também.

— Ela pensa que você não gosta dela — ouvi Piero gritar, rindo.
— Imagina! Que isso. Só preciso saber o seu user porque estou usando o celular agora e não dá para usar o instagram enquanto estou na ligação. Mas eu aceito sim.
— Ta bom. Meu irmão ta me batendo aqui para eu desligar para você não ficar cansada.

Não consegui não rir novamente.

— Conversamos pelo instagram. Eu te passo meu número por dm, ta bom?
— Ta bom, cuognata. Beijos. E melhoras.
— Beijos.

E ela desligou o telefone.
Pensei em virar pro lado e tentar dormir, mas ao invés disso abri o perfil de Piero no instagram e procurei uma foto que ele estivesse acompanhado. Não demorei muito para encontrar e cliquei na descrição da foto, logo vi o nome da Mariagrazia e abri o perfil dela. Aceitei a solicitação para seguir e a segui de volta. Enviei uma mensagem direta com o meu número e virei pro lado, esperando o sono chegar.

***

Acordei com o celular vibrando embaixo do travesseiro. Dessa vez demorei muito para conseguir levantar porque as dores na costa amanheceram pior do que todos os outros dias.
Pensei em chamar Antonella e pedir ajuda para ir ao banheiro, mas seria constrangedor demais. E ela dorme como um anjo e tem o sono de pedra.
Tentei levantar mais uma vez. Minhas coluna estava, definitivamente, travada.
Consegui sentar na cama na quinta tentativa. Respirei fundo algumas vezes antes de me arrastar até o banheiro agradecendo por sempre deixar minha roupa separada em cima da cômoda no dia anterior e quase chorando por causa da dor parecida com facas atravessando minhas costas todas as vezes que eu dava um passo.
“Esta quase acabando.” Foi o que repeti para mim mesma enquanto colocava minha calça e a camiseta, como sempre, preta. Fiz careta quando tive que me sentar para colocar a bota e quase não consegui me levantar.
Meu telefone tocou e me arrastei até a mesa, onde o havia deixado. Como em todos os dias anteriores, era Gianluca, e como antes, não atendi porque era só um aviso de que ele e o pai estavam me esperando no carro em frente ao hotel.
Peguei o celular, uma blusa de frio e desci.
Eu só não esperava que minha coluna travaria por completo no terceiro degrau.
Usei a grade de apoio e respirei fundo. Desci mais um degrau, dessa vez sem conseguir dobrar o joelho e fiz careta novamente quando senti a mesma dor aguda atravessar minha coluna. Respirei fundo. Mais um degrau. E a dor. E a careta.
Respirei fundo. Outro degrau. Dor. Careta.
Respirei fundo…
Que merda! Tinhámos que ficar no terceiro andar?
Respirei fundo e mais um degrau acompanhado da dor.
Respirei fundo e mais um. Mais um e mais um.
Eu mal estava chegando no segundo andar e já havia passado quase dez minutos que Gianluca havia ligado.
Respirei fundo e olhei para baixo.
Deve faltar uns mil degraus ainda. Que isso? A escadaria de Hogwarts?
Cheguei até a metade do segundo andar.
Faltava só um andar e meio.
Já que descer de um em um estava acabando comigo, e ia doer de qualquer jeito, era melhor descer tudo correndo. Afinal, a dor deve ser a mesma, mas assim acabaria mais rápido.
Me achando o Albert Einstein da vida, respirei fundo e aceitei minha ideia. Eu não estava de todo errada. Corri até o começo das escadas do primeiro andar e parei. Eu só não contava que a dor viria bem mais forte. E travou minha coluna. O problema foi que a dor não passou, e piorou. Me inclinei para frente, tentando aliviar, mas não adiantou. Me inclinei para trás e nada.
Grande ideia de merda!
Me apoiei na grade de apoio e sentei. Minha coluna deu um tranco e me inclinei para frente. Comecei a socar meu proprio joelho de tanta raiva misturada com dor.
Me inclinei para trás e a dor continuou.
Escondi o rosto no joelho, me inclinando para frente, e comecei a chorar conforme a dor aumentava. Mas meu choro não era apenas pela dor. Era mais por me sentir inútil, sem utilidade nenhuma.

— Liadan! — Gritou Gianluca, subindo as escadas correndo. Senti inveja por ele conseguir andar normalmente e exclui esse sentimento da minha vida.

Engoli as lágrimas e passei a mão no rosto para secá-lo antes que Gianluca chegasse até mim.

— Tudo bem? — Ele perguntou colocando a mão no meu joelho para me olhar nos olhos.

Respirei fundo e levantei de uma vez. A dor quase me fez chorar novamente, mas disfarcei com um sorriso forçado.

— Tudo bem. — Respondi, e desci mais um degrau tentando não fazer careta na frente dele.
— Você quer ajuda?
— Não. Tudo bem. Eu consigo.
— Eu sei que consegue.

Eu sabia que ele não ia acreditar. Disse aquilo por mim mesma, e ele levou adiante pelo mesmo motivo. Mas mesmo assim segurou meu braço e teve paciência para me ajudar a descer todos os degraus. Eu não tinha força para descer sozinha, então aceitei a ajuda.
Demoramos um pouco para terminar de descer e Gianluca me deu um tempo para me recompor. Já era demais o que ele estava fazendo por mim. Ignorei a dor e, devagar, caminhamos até o carro, com ele me segurando pelo braço.
Me apoiei no carro e Gianluca abriu a porta. Fiquei encarando o banco, pensando na dor que me esperava quando eu fosse me abaixar e levantar.

— Você não está bem, Lia. — Ele disse, me encarando sério.
— Eu aguento. — Sorri. — Obrigado por tudo, Gianlu.

O abracei. E doeu ficar ereta para abraça-lo. Entrei no carro, tentando disfarçar a dor.
Ercole me olhava fixamente, não era o olhar de brincadeira de todos os dias, mas ele disfarçou quando Gianluca entrou no carro e deu um tapinha na perna dele.

— Bom dia, Lia. — Ele disse.
— Bom dia, senhor Ercole. Tudo bem?
— Tudo ótimo.
— E Eleonora? Ernesto? Todos bem?
— Todos bem, Lia. E você, dormiu bem? — Ele sabe disfarçar e, ao mesmo tempo, perguntar o que quer. Não consigo mais mentir.
— Não muito. Minha cabeça estava me matando. — Falei, sorrindo.
— Falta pouco.
— Bem pouco. Só mais três dias.
— Mas você volta para nos visitar, não é? Gianluca disse que hoje é seu último dia de vez aqui em Abruzzo.
— Claro que volto, senhor Ercole. E prometi a dona Eleonora que traria minha irmã.
— E temos que ir a praia ainda. — Disse Gianluca.— E ao jogo de voleibol.
— Você gosta de voleibol, Lia?
— Sim, Senhor.
— E da próxima vez que vier ficará hospedada em nossa casa. Nada de hotel, viu?
— Não precisa, senhor Ercole.
— Nós sabemos, Lia, mas queremos fazer mesmo assim.
— Agradeço muito todo o carinho de vocês.
— Você vai trabalhar hoje? — Perguntou Gianluca.
— Não. Roberto está com dó de mim e me deu um dia de descanso. — O que não era de todo verdade porque eu tinha três dias para receber. Ou seja, eles ainda me deviam dois dias. Como conversei com o Roberto e expliquei para ele o que estava acontecendo, o Natucci aceitou me demitir sem reclamar muito.
— Então está tudo certo. Você fica conosco hoje. — Falou Ercole.
— Que horas você tem que estar na estação? Mamma quer saber para já se preparar para o jantar.
— No bilhete diz às 22h30. — Respondi.
— Esse horário é bom. Temos um dia inteiro pela frente. — Disse Ercole, sorrindo, animado.

No caminho do hospital passamos por um banner enorme do Tiziano Ferro anunciando o início da última tour dele, em quatro meses. Eu não gostei dessa notícia quando ela estourou no anúncio do Tiziano que deixaria de cantar. Era como se uma parte de mim mesma tivesse sido afetada. E eu jurei a mim mesma que iria em algum show antes da carreira dele terminar, ou seja, tenho de ir quando a tour chegar à Itália. O último DVD dele será gravado em Milano, daqui quatro meses, e em seguida ele terà uma tour mundial. Não sei direito por onde ela passa, mas sei que vai encerrar aqui, na Itália, passando pelo país inteiro. Então é minha obrigação estar presente em um show pelo menos.
Respirei fundo quando a sensação de vazio me visitou e voltei a olhar pro nada.
Gianluca me ajudou a sair do carro. Eu gosto de não precisar expor minhas fraquesas com palavras, como Piero me obriga a fazer insistindo para que eu diga. Gosto que Gianluca entenda sem eu precisar dizer palavra alguma.
Insisti que era desnecessário a cadeira de rodas, mas Gianluca insistiu tanto. Me senti uma criança.
Expliquei para a enfermeira sobre tudo o que estou sentindo. Mais uma vez, ela disse apenas para que eu faça repouso.
Falar é fácil.
Minha dor estava aliviando, mas eu sabia que não ia durar muito então nem me iludi.
Meia hora depois eu estava sentada à mesa na casa de Gianluca tomando café com a família dele.
Não escapei da foto de Ernesto, nem da marcação da publicação dele no instagram. Me ofereci para ir com Eleonora no supermercado depois de ajudá-la a lavar a louça e arrumar a sala, que não estava muito bagunçada. Me responsabilizei por passar o aspiradar de pó na casa também, embora ela tenha insistindo dizendo que não precisava mas era impossível ficar parada, então Gianluca me acompanhou. Não foi preciso muito esforço, a casa deles é limpa demais.
Eu ria enquanto Gianluca vinha atrás de mim contando histórias engraçadas e constrangedoras dele e dos rapazes. Como quando Piero foi pego andando sem roupa pelo hotel. Eu não me aguentei de rir.

— Depois devemos comprar sorvete. Muito sorvete. — Ele falou, rindo quando contei que eu colocava sorvete no pote de danone da Leah quando minha mãe não a deixava tomar sorvete.
— E aquele seu amigo? Nunca mais o vi.
— O Marco? Ele não mora aqui. Mora em Dubai.
— Ah é. Ele disse.
— Aliás, bem lembrado. Vamos gravar um vídeo para ele. Vem.

Ele abriu uma porta e me puxou para dentro. Observei a pequena miniatura do Frank Sinitra em cima da estante onde Gianluca pegou o celular.

— Frank Sinatra! — Falei, me abaixando para ver melhor os detalhes naquela pequena obra de arte impecável.
— Sim. Eu gosto muito.
— Foi um excelente cantor. Tinha uma voz linda, melodia perfeita e poesia sem igual.
— Você já estudou música, Lia?
— Não. Por quê?
— Você usou termos técnicos. Ninguém fala assim sem ter um pouco de estudo.
— As aulas de dança incluem isso.
— Ta explicado. — Ele disse sorrindo.
— Sua mãe não disse que o Alessio vai vir almoçar aqui?
— Sim.
— Então vamos gravar o vídeo pro Marco depois do almoço, com todos. Não é melhor?
— Ótima ideia!! Com certeza, Lia.

Gianluca desceu e voltou com dois copos e uma jarra cheia de suco de uva. Tomamos tudo em menos de meia hora.
Fui com Eleonora ao mercado e a ajudei a preparar o almoço. Ajudei Gianluca e Alessio a arrumarem a mesa no lado de fora.
Minha coluna começou a dar sinais de dor e passei a evitar ficar sentando e levantando com frequência.
Mais ri do que almocei. E continuei sentada acompanhada de Ernesto, Alessio, Gianluca e Maria, namorada de Ernesto. Eleonora e Ercole se retiraram logo que almoçaram para visitar brevemente um amigo.
Maria bateu em minha perna, rindo alto, e foi até o aparelho de som.

— Essa é para a Lia! — Gritou para se fazer ouvir.

Soltei uma gargalhada alta quando começou a tocar La Differenza Tra Me E Te, do Tiziano Ferro.
Ela apontou para mim, rindo, quando começou a cantar alto e aumentou o volume. Ernesto e Alessio a acompanharam enquanto Gianluca pegou o celular.
Maria já se sentia a minha melhor amiga, isso porque nem conversamos tanto assim. Ela sentou no meu colo, rindo, para alcançar a taça de vinho dela.
Nos empolgamos no refrão e cantamos alto. Nem percebemos Gianluca se aproximando com o celular. Ele estava gravando. E havia falado alguma coisa.

— Cosa? — Perguntei, rindo.
— Un saludo a Marco, Lia — disse, gritando enquanto ria para se fazer ouvir.
— Un baccio Marco! — Falei, e soltei um beijo no ar.
— Spero che ci vediamo presto, Marco. — Gritou Maria.— Mille baci.
— Ciao Marco. — Terminou Gianluca. Se afastando de nós para que Ernesto e Alessio conseguissem aparecer no video.
— Ciao Marco. — Falamos em unissino.
— Ciao Marco. Un saluto speciale da tutti i tuoi amici. — Terminou Gianluca.

Ele viu o vídeo enquanto esperava para publicar no instagram e começou a rir.

— A Lia cantando é o melhor! — Ele gritou, rindo.

Minha coluna começou a dar sinais de que estava piorando, então apenas fiz careta para ele, que riu mais.
Meu celular começou a tremer no bolso de trás da minha calça jeans. Com certeza era a notificação de marcação no vídeo de Gianluca. Não o peguei porque Maria ainda estava sentada em meu colo.
Tomamos sorvete que Alessio e Ernesto foram comprar, e ficamos assim até o pôr-do-sol. Rindo, brincando e cantando.
Como passei a tarde inteira sentada, não senti tanta dor, mas ela me dava sinais de que estava ali o tempo todo.
Combinamos de jantar na pizzaria, por volta das 19h, porque Gianluca e Ercole me levarão na estação. Então decidi ir para o hotel, tomar banho e arrumar minhas coisas, porque iríamos para a estação direto da pizzaria.
Gianluca me levou até o hotel e resolveu ficar me esperando. Antonella ainda não havia chegado, mas Roberto a levaria para jantar, como sempre, e depois a levaria na estação.

— Você está bem, né Lia? — Perguntou Gianluca sentando na cama enquanto eu procurava um vestido para colocar.
— Estou, Gianlu. Sinto as dores mais à noite, quando paro. E de manhã, quando acordo.

Ouvimos o barulho da porta abrindo e Antonella passou por ela, em seguida. Correu até mim e me abraçou.

— Que saudade! — Ela disse.
— Foi só um dia — Falei rindo. — Não sei se vocês se conhecem, mas esse aqui é o Gianluca. E Gianluca, essa é a Antonella, minha amiga.

Gianluca a cumprimentou com um beijo no rosto.

— Então você é o responsável pelo sequestro da minha amiga todas as noites e todas as manhãs? — Ela perguntou sorrindo. Gianluca apenas sorriu também.
— Ele e o pai irão me levar até a estação.
— Tudo bem. Ah, e eu tenho uma notícia muito boa para te dar. Mas só vou fazer isso depois do transplante porque assim garanto que você irá ressuscitar de qualquer jeito.

Gianluca soltou uma gargalhada.

— Qual notícia, Antonella?
— Depois do transplante eu te conto. E vai se preparando porque você tem que estar excelente em duas semanas.

Sorri para ela e a deixei conversando com Gianluca quando o assunto se tornou meu sumiço nas redes sociais.
Demorei no banho porque decidi lavar o cabelo. E minha coluna travou quando me abaixei para pegar o sabonete.
Demorei uns dez minutos para conseguir colocar a meia fina e a bota de cano baixo preta, sentada no chão para ver se minha coluna não doía tanto quanto o movimento de abaixar e levantar.
Hoje optei por um vestido rosa bebê que Antonella havia me dado de presente de aniversário no ano passado. Eu gosto da fita fina preta que ele tem abaixo do busto, descendo em um pano bem leve, rodado, com alguns desenhos que parecem finos raios preto. Eu amo esse vestido. Deixei o cabelo solto para secar ao vento. Meu cabelo não é liso da raiz as pontas como o da Leah, mas desce meio ondulado até a altura do ombro e faz leves cachos no resto.
Me recusei a sair sem fazer pelo menos um delineado preto no olho, bem fino.

— Lia, você tá tão fofa. — Disse Antonella, quando saí do banheiro. — Parece aquelas princesas dos filmes que você gosta.
— Elas são camponesas, Anty. E obrigada. — Falei, sorrindo.

Peguei um laço de pano em cetim preto com minúsculos fios rosa que quase não aparecem e coloquei no cabelo, deixando todo para trás para não cair nos olhos. Odeio coisa molhada, que não seja chuva, no meu rosto. Não desapeguei da minha jaqueta preta que amo justamente por ter alguns bolsos na parte interna onde consigo guardar meu celular e meus documentos sem problema.

— Agora você parece uma camponesa se preparando para o show do Ultimo  — ela disse, sorrindo.— Mas não deixa de estar impecável. Não é Gianluca?
— Gosto muito do estilo dela. Muito mesmo. Meio vintage, meio atual. Você está linda, Lia.
— Grazie, Gianluca. Nos vemos no trem daqui a pouco, Anty. Diz pro Roberto que deixei um abraço para ele. E bolo em cima da mesa.
— Pode deixar.

Gianluca se despediu de Antonella com um beijo no rosto e não se livrou de uma foto com ela. Pegou minha mochila e minha mala e ainda me ajudou a descer os degraus um a um sem perguntar nada ou ficar sem paciência devido a minha demora.
Graças a mim, demoramos para chegar no portão da casa dele. Eu já não conseguia andar quando ele fechou o portão atrás de nós e percebi que eu tinha de subir aquelas escadas novamente.

— Eu não consigo — admiti, sorrindo ao encostar na paredepara tentar controlar a dor.
— Está tudo bem, queridos? — Perguntou Eleonora, ao nos avistar pela janela.
— Eu já volto — Gianluca subiu correndo. Falou alguma coisa com Eleonora que a deixou preocupada. Com certeza foi sobre mim. Logo entrou e saiu acompanhado de Ernesto.
— Sei que você nunca me deixaria te carregar até lá em cima — disse, sorrindo.
— Mas é só uma ajudinha — completou Ernesto.

Ele e Gianluca se posicionaram cada um ao meu lado e meus braços foram colocados em volta do pescoço deles. Senti a mão deles na minha cintura e em seguida fui erguida, degrau por degrau, até a porta de entrada, onde Eleonora nos aguardava ainda preocupada e fez com que eles só me soltassem sentada no sofá da sala.

— Agora você fica paradinha aí que eu vou me arrumar e já desço para irmos — disse Gianluca, em tom doce.
Eleonora se sentou ao meu lado com a mesma expressão de preocupação no olhar.

— Você não está bem, Lia. — Ela afirmou penetrando meu olhar o mais fundo possível. Fiz sinal negativo com a cabeça, rindo, quando senti que se formavam poças nos meus olhos. — Você fica assim o dia todo?
— Não, senhora. Pioro à noite, quando paro. Ai trava tudo. Andar em linha reta não dói tanto, mas escada é muito complicado.
— E como você vai fazer quando chegar em Bologna?
— Eu viajo com a minha amiga, Antonella. Ela também trabalha na sorveteria. E o pai dela irá nos buscar na estação.
— Você tem meu número. Se precisar pode ligar em qualquer hora, tá bom? — ela disse, com ternura.
— Obrigado. — Respondi sorrindo.

Ela me abraçou e me puxou. Encostei a cabeça no ombro dela e ela ficou brincando com o meu cabelo. Exatamente como minha mãe gosta de fazer comigo. Meu coração apertou no peito.
Gianluca não demorou muito. Ele insistiu que me ajudava a descer com Ernesto, mas eu consegui descer sem muita ajuda. Apenas me apoie nele de vez em quando.
Ernesto foi na frente com Ercole e fiquei mais atrás com Eleonora e Gianluca porque eu não andava tão rápido.
Alessio e Maria já nos esperavam na pizzaria. Dessa vez não dancei com ninguém, mas ri como nunca.
Por volta das 21h30, Ercole avisou que era bom irmos, então me despedi de todos. E, como já esperado, tive que parar para tirar foto. Todos juntos para a foto da Eleonora, biquinho para a foto com a Maria e o Alessio e sorriso para a foto de Ernesto.
Prometi a Eleonora que manteria contato e voltaria o mais breve possível.
Gianluca me ajudou a entrar no carro, que já estava com minha mochila e mala. Ele parou para tirar foto com um grupo de fãs e fomos.
Ercole disse que me buscava em Bologna, caso eu quisesse ir visitá-los acompanhada de minha irmã.
Me despedi dele e o agradeci por tudo, principalmente por ter aberto as portas da casa dele para mim e por todo o carinho.
Gianluca me acompanhou até o meu lugar, dentro do trem, onde Antonella já me esperava.

— Ciao, Lia. Grazie di cuore, amore.
— Eu que agradeço, Gianlu.
— Espero que dê tudo certo no transplante. E se precisar de qualquer coisa, o que for, pode ligar.
— Grazie.. — Respondi sorrindo e o abracei.— Bem, não costumo fazer isso, mas agora sou eu quem peço uma foto.

Ele soltou uma gargalhada e me abraçou ainda rindo. Fiz biquinho quando ele beijou minha bochecha olhando para o celular na mão da Antonella, que tirava a foto para nós.

— Obrigado mais uma vez, Gianlu. E até a próxima.

O abracei novamente. Ele se despediu de Antonella e saiu.
O trem tomou seu rumo nos levando para casa.

— Para que a foto? — Perguntou Antonella, rindo.
— Você está certa. Preciso atualizar minhas redes sociais.

Fiz uma montagem com todas as fotos da semana que Gianluca, a família e amigos me marcaram, e publiquei no instagram agradecendo a todos pela ajuda e pela companhia. Em seguida, publiquei a que tirei com Gianluca agradecendo a ele por cada minuto de ajuda, compreensão e risos.
Coloquei como foto de perfil a que Piero havia publicado no aniversário de Leah onde tínhamos nós três.
Para ser bem sincera comigo mesma, eu não queria atualizar as redes sociais. Eu apenas queria deixar eternizado e me fazer lembrar dos dias de alegria que tive.
Se Leah tinha um motivo para amá-los, seja qual fosse, eu tenho um motivo muito maior para agradecê-los todos os dias.

***

Antonella me ajudou a descer os degraus do trem e a entrar no carro. O pai dela ficou com nossas malas.
Eu planejava ir diretamente para o hospital, mas agora, pensando melhor, decidi que a Leah merece saber toda a verdade. E por mais que ninguém queira, vou contar. Ela confia em mim e sou a âncora dela. Tenho de ser sincera o tempo inteiro, senão estarei sendo injusta.
Já passava das 05h quando Antonella me ajudava a subir a escada da minha casa. O pai dela subiu com minha mochila e minha mala.

— Se precisar de carona, ou qualquer coisa, é só avisar, Liadan — disse, sorrindo, antes de descer. O agradeci.
— Vai contar mesmo, Lia? — Perguntou Antonella quando ficamos à sós.
— Vou. Assim que ela acordar.
— Você está certa. Ela merece saber.
— Com certeza.
— Mudando de assunto. Gostei dos seus amigos. De verdade. São de pessoas assim que você precisa. Só não esqueça que eu sou sua melhor amiga, hein? — Não consegui segurar o riso.
— Mas é claro que não, Antyh.
— Piero vem pra cá final de semana?
— Não. Mas semana que vem, depois do transplante, irei conhecer a família dele.
— As coisas estão ficando sérias. Hmm. — Ela disse sorrindo.
— Para de ser boba! Vou conhecer a família de um amigo —Antonella gargalhou muito alto.
— Eu vi que você está seguindo o mundo inteiro no Instagram.
— E a bobeira continua.
— Vocês formam um casal lindo, amiga. Deixam a Angelina e o Bred no chão.
— Chega. Está virando loucura já.

O pai dela buzinou no lado de fora.

— Meu sinal de recolher. Te visito no hospital à noite. E boa sorte com a minion. — Era assim que chamávamos minha irmã as vezes.

Assim que Antonella saiu me preocupei em preparar o café. Subi até o quarto e desfiz minha mala. Leah não acordou. Por volta das 7h30 decidi acordá-la.
Para minha surpresa, ela entendeu muito bem o que estava acontecendo. Não teve nenhum ataque nem nada do tipo. Talvez por eu ter passado confiança ao falar com ela.
Tomamos café juntas e a arrumei para ir comigo ao hospital. Fomos o caminho inteiro falando sobre o Il Volo e tive que contar cada detalhe sobre a semana com Gianluca e a família dele.
Meu pai estranhou quando a viu, mas decidiu não criar uma confusão comigo no hospital. Talvez minha cara de sono e dor tenha ajudado nisso.
Leah entrou com meu pai para visitar minha mãe enquanto as coisas para minha internação eram preparadas.
Meia hora depois, lá estava eu deitada em um quarto branco com uma televisão, um balcão para colocar minhas coisas que eu trouxe na mochila e uma vista para as árvores do estacionamento pela janela.
Que tédio!
Leah torrou a paciência da enfermeira até que ela a deixou se despedir de mim. Foi o abraço mais forte da minha vida.

— Obrigado por acreditar e confiar em mim, Lia. Já falei pro papai e ele disse que não vai brigar com você.

Sorri para ela.

— Você é tão forte, minha pequena! — Falei.
— Minha força vem de você. Se você me acha forte, imagina só a força que você tem.

Sorri e chorei enquanto a abraçava. Eu a amo muito.

***

Almocei pontualmente às 12h. Passei a tarde toda assistindo série na televisão. Tive café às 15h, jantar às 18h e a enfermeira voltou com chá e bolachas às 22h depois que acabou o horário de visita e Antonella foi embora.
Não consegui dormir cedo porque minha coluna doía e o colchão duro do hospital não me ajudava. Usei o cobertor do hospital para forrar o colchão e deixá-lo mais macio e usei minha jaqueta para me proteger do frio que não fazia.
Fui acordada às 06h para tomar café e voltei a dormir. Fui acordada novamente às 12h para o almoço.
Um bilhete de Leah me esperava em cima da balcão com o desenho de duas meninas, que reconheci de imediato que era eu e ela pelos olhos que ela costuma desenhar (o meu de lápis cinza e o dela de verde), acompanhadas de três rapazes, que identifiquei como Piero, Ignazio e Gianluca; e um deles, Piero, por causa dos óculos vermelho, estava de mãos dadas comigo; ainda havia um homem e uma mulher mais ao fundo que logo percebi que eram nossos pais com a escrita: “Você é a melhor irmã do mundo. Te amo.”

Sorri e chorei novamente.

— Ela passou o horário de visita inteiro mexendo no seu cabelo. Você tem uma irmã muito fofa — disse a enfermeira que veio conferir minha pressão.
— Com certeza tenho.

Passei a tarde assistindo séries na televisão novamente. Os horários do café, almoço e jantar se repetiram, tal como a visita de Antonella à noite.
Uma enfermeira ia e vinha de vez em quando para confirmar que o tédio daquele lugar não havia me levado ao desespero extremo a ponto de me fazer pular da janela.
Tomei banho com dificuldade, como nas noites anteriores, e o mesmo se repetiu para o quesito “dormir”.
Fui acordada às 06h pelo meu pai me avisando que as enfermeiras já viriam para dar início as preparações para o transplante.
O medo, agora, me congelou.
Odiei aquela roupa aberta atrás e odiei também ter que colocar touca. Odiei tudo.
Quando eu estava pronta, Francesco apareceu empurrando uma cadeira de rodas.

— Buongirno, bella. Preparada?
— Sim, senhor.

Eu estava feliz por não o ter encontrado em momento algum durante minha internação, mas sei que ele é o responsável pelo transplante da minha mãe, então cedo ou tarde ia acabar vendo aquele sorriso e covinhas perfeitas novamente.

— Alguma dor? — Ele perguntou estacionando aquela cadeira ao lado da minha cama.
— Nenhuma hoje.
— Isso é bom — deu pequenos tapinhas na cadeira me avisando que era para sentar ali.
— Isso é mesmo necessário? — Perguntei irritada. Me levantei. — Eu consigo caminhar até a sala de transplante.
— Tem certeza que consegue? Estamos no segundo andar e a sala é no final do quarto andar. — Ele respondeu com um sorriso doce no rosto. Sentei nervosa na cadeira por ele ter razão: eu não ia conseguir ir sozinha.
— LIA! — Gritou Leah quando passamos pela porta do meu quarto com Francesco me empurrando na cadeira de rodas.

Ela correu em nossa direção e se jogou no meu colo. A cadeira deu um tranco para trás e senti a mão de Francesco no meu ombro.

— Tudo bem? — Ele perguntou, assustado.
— Sim. Tudo bem. — Respondi sorrindo. Leah me olhava sorrindo depois de me abraçar. Apertou minhas bochechas. Sorri também. — Você não pode fazer isso, Leah. E se você se machuca?
— O papai disse que eu não podia te ver, mas eu precisava te contar uma coisa.
— Então conta.
— Piero ligou hoje bem cedinho lá em casa e falou com o papai.
— Falou o quê?
— Não sei. Mas ele queria estar aqui antes do médico te operar. Alguma coisa deu errado na hora. Acho que ele pensava que era de tarde, mas ele mandou dizer que vai estar aqui quando você acordar — sorri com ela. — Você ama ele igual ele te ama, Lia?
— Você promete guardar segredo? — Perguntei abaixando o tom de voz. Ela sorriu e aproximou o ouvido de mim para que ninguém mais escutasse o que eu iria dizer. Sorri mais ainda. — Acho que eu amo.
— E por que é segredo? — Ela perguntou baixinho, sorrindo.
— Porque eu não consigo dizer “eu amo” em voz alta. E não conta para ninguém.

Na verdade, tenho medo de dizer que o amo e ele ir embora. Talvez, se isso acontecer, o fato de nunca ter dito em voz alta que o amo ajude a superar. E ele pode estar mais seguro sem essas palavras ditas em voz alta. Digo à minha mãe que a amo e ela fica com câncer, digo ao meu pai que o amo e ele fica desempregado. É melhor manter esse sentimento guardado do que expor e perdê-lo antes mesmo de tê-lo ganho.
Leah me deixou à força. Ela insistiu para ficar comigo o tempo inteiro e foi bem difícil convencê-la do contrário.

— Como você o conheceu? — Perguntou Francesco quando ficamos à sós no elevador.
— Quem?
— O seu namorado. Piero Barone.
— Por acaso. Em uma pizzaria em Abruzzo.
— Há muito tempo?
— Não. Pouco mais de dois meses.

A porta do elevador abriu quando chegamos no quarto andar.

— Já parou para pensar que não pode ser amor em tão pouco tempo? Não me entenda mal. Você é linda. Muito linda. E ele é homem. — Olhei estranho para ele. — Ele pode só estar interessado nisso. E você pode estar confundindo amor com segurança, estabilidade.
— Está insinuando que estou interessada no dinheiro dele? — Perguntei nervosa
— Estou insinuando que você pode estar confundindo amor com a sensação de segurança pessoal que a presença dele causa em você. Você está em um momento frágil da sua vida e precisa de apoio. Ele chegou do nada e se tornou esse apoio. É meio estranho.
— O senhor é formado em qual área da medicina?
— Por quê?
— Psicologia?
— Não.
— Bola de cristal?
— Como assim?
— Você não me viu mais do que três vezes, em conversas que não duraram mais de cinco minutos, e chegou à conclusão de que Piero está interessado em dormir comigo e eu interessada no dinheiro dele e por isso mantemos um início de relacionamento, enganando um ao outro. Se você não é formado em psicologia e me tratando como mais uma pessoa que precisa de conselhos para resolver os próprios problemas e seguir com a própria vida, você deve ter uma bola de cristal e já viu o meu passado e futuro através dela. Como você praticamente já disse que não é psicólogo, presumo que tenha se formado em Hogwarts. Quando Severo era professor? Ou antes da morte do Dumbledore?

Ele sorriu. Eu estava nervosa. Nervosa até demais. E ele não parecia incomodado com isso. Parecia estar se divertindo.

— Isso quer dizer que estou certo?
— Isso quer dizer que é impossível você ter tido um professor de adivinhação bom.

Ele sorriu. Fiquei calada.

— São poucas pessoas que conseguem ficar ainda mais lindas quando ficam nervosa, sabia?
— Posso saber o que o senhor está fazendo?

Ele sorriu para mim quando parou a cadeira perto da sala de cirurgia para se preparar para entrar.

— Tentando ter certeza de que não tenho chance nenhuma.
— Chance?
— Não sou um cantor mundialmente conhecido, mas já percebi que tenho uma chance. E não vou desperdiça-la. — Ele piscou para mim. — Candy, você prepara a senhorita Bertizzolo para o transplante? — Ele disse para a enfermeira que se aproximou de nós.

Não gostei nem um pouco das sugestões de Francesco mas se o que ele queria era plantar dúvida, conseguiu.
Sequer reparei na dor da agulha atravessando minha coluna enquanto eu pensava se o que ele falou poderia ser verdade. Não da parte sobre o Piero, mas sobre mim. Será que era isso que parecia? Talvez seja por isso que as fãs dele tanto me xingam nas fotos que ele posta. Talvez seja por isso que a família dele queira me conhecer: para ter certeza de que não estou apenas interessada no dinheiro dele.
Será que é isso que eles pensam sobre mim? Não. Não pode ser. Gianluca e a família dele foram tão sinceros e legais. Será que aquilo era algo tipo de teste? Se foi, não teve a menor graça.
Não fui eu quem corri atrás dele. Foi ele quem insistiu em ir na minha casa, em ficar comigo, em me ajudar. Foi tudo ele. Será que ele está apenas interessado em me levar para algum quarto, como Scott, e depois me descartar como qualquer objeto sem uso? Será que, no fundo, Francesco está certo?
Não gosto dessa ideia pinicando meus pensamentos. Não gosto de pensar que, no fundo, possa ser tudo uma brincadeira.
Talvez eu já esteja paranoica demais. E o veneno de Francesco já esteja me infectando.
Não!
Não vou deixar isso acontecer!
Eu não sou assim e Piero não é assim e é tudo coisa da cabeça dele. Não vou deixar isso me afetar.
Dormi enquanto a enfermeira me levava, na maca, de volta ao meu quarto depois do transplante.
Acordei por volta das 16h45, e não me sinto bem. Me sinto cansada e dolorida. Passava as mesmas séries do final de semana na televisão e foi a primeira coisa que vi e me manteve acordada e atenta por alguns segundos até uma enfermeira entrar super contente no quarto.

— Enfim você acordou! Já estávamos ficando preocupados. Você simplesmente dormiu e não acordou mais. — Ela pegou meu prontuário e anotou alguma coisa depois de olhar as informações na tela que informa meus batimentos e tudo o mais.— Você está bem. Deve estar muito cansada e com fome. Vou pedir para trazerem almoço para você, tudo bem?
— Obrigado. — Falei com dificuldade.— Água.
— Vou pegar. Já volto.

Ela logo voltou com um copo de água. Me ajudou a sentar na cama, ainda com dificuldade, mas acho que dessa vez foi por ficar muito tempo sentada. Já me senti melhor quando bebi a água. Eu me sentia desidratada e com fome.

— Todos gostaram das flores que o seu namorado trouxe. Deram um ar diferente ao quarto. Os balões também. Você é uma mulher de sorte. E ele é um homem bem sortudo também.

Eu não havia reparado nos balões de ar coloridos amarrados na grade da maca, nem nas rosas vermelhas e brancas que estavam no balcão. Eram lindas. Sequer reparei em Piero dormindo sentado ao lado da cama, como um bebê em um sono profundo.
Almocei e me deitei virada para ele, para o observar dormindo. Calmo, relaxado, sincero.
Francesco não estava certo! Não estou interessada no dinheiro dele e ele não está interessado em me levar para cama, caso contrario já teria tentado fazer isso ha muito tempo e não teria atravessado o país para dormir sentado em uma cadeira de hospital.
Se essa é a tática de Francesco para tentar mudar meus sentimentos por Piero, ele irá perder o jogo. Não é assim que as coisas funcionam comigo. Não é assim que as coisas funcionam com Piero. Não com o Piero que dorme sentado na cadeira de um hospital, que atravessa o país para ficar ao meu lado, que brinca no chão com minha irmã e a carrega no colo enquanto ela dorme e não encontra problema algum em dormir no sofá e no chão da minha casa. É esse Piero, sincero e engraçado, que canta enquanto eu durmo, que chegou do nada e se tornou tudo. É esse Piero e ponto.

Dormi, ainda o observando dormir, muito tempo depois.

Continua…
Fic revisada em 2023.

4 comentários em “Fã Fic – Per Te Ci Sarò (Capítulo 27, 28, 29 e 30)

  1. Ai ai ai ai ai May
    só eu que acho q esse médico vai infernizar a vida dela?
    E aposto que at´eo scott volta, pq vc é má e gosta de fazer ela sofrer e assim a gente sofre juntoooooo
    Já vi q postou cap novo amanha eu leio pq ja são 1:15 da manhãaaaaaaaaaaaaa
    Quero mais desse ship
    e pelo amor de deus ta na hora dela para de sofrer um pouco
    bjo

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  2. Quando vi a quantidade de capítulos fiquei revendo para ver se era verdade o que eu estava vendo…ahsuahsaias enfim May, essa fic virou meu xodó ,não consigo parar de ler ,cada capítulo me deixa ainda mais curiosa e apaixonada pela fic ao mesmo tempo,é claro que o anterior vc quase me deu um susto pelo sonho da Liadan mas eu perdoo…kkkkk Essa amizade com o GG to curtindo muito e to sentindo falta do Igna,espero que ele apareça nos próximos capítulos e espero que a Liadan não acredite nas coisas que esse doutor fala , aja paciencia com esse ser…kkkk e Piero dormindo moça fiquei imaginando aqui e olha deve ser uma lindeza demais…kkkkk ♥ Ansiosa para a continuação !! bjs

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  3. Ahhh… a cada dia amo mais essa fan fic. A amizade do Gianlu com ela é linda, ele é muito prestativo. E esse doutor é safado, viu… Estou sentindo falta do Ignazio, por onde aquela coisa fofa anda? A cada capítulo acho que realmente o Piero e a Lia merecem ficar juntos, eles se completam. Ansiosa pelos próximos… 😉
    Ciao… ci vediamo presto. Baci.

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