Fã Fic – Per Te Ci Sarò ( Capítulos de 71 a 77)

Acordei sentindo meu corpo inteiro doer. Ainda são 7h12. O sol já começa a incomodar minha visão. Olhei para Piero, dormindo como um bebê, com um dos braços sobre os olhos. Ainda estou morrendo de sono. Tirei, com cuidado, a mão dele que estava sobre as minhas costas, para não acorda-lo. Peguei o lençol no chão e usei para me cobrir. Tomei cuidado para não pisar nos cacos de vidro do que, até ontem à noite, era um vaso de flores muito bonito sobre a mesinha de centro na minha sala. Pisei na água que Piero derramou… nós derramamos, mas a culpa foi dele por ter deixado o copo com água no chão. Quem faz isso? Sequei o pé pisando na blusa dele. Fechei as três cortinas e voltei, com mais cuidado, para o sofá. Fechei os olhos para não olhar a bagunça na cozinha. Não me deitei em cima dele, como antes, deitei ao seu lado, porque tinha espaço. Pensei em ligar o ar condicionado, mas não tomei o remédio ontem e não quero ter de tomar inalação para conseguir respirar quando acordar. Piero sorriu, mas não acordou, apenas me fez usar o braço dele como travesseiro e ficar mais perto, esquecendo o calor. Amarrei o cabelo em um coque no alto para tentar ajudar e adormeci novamente.

Piero.

O braço dela escorregou para fora do sofá e me fez acordar. Dormi apenas meia hora. O tic-tac do relógio marcando 4h17 é a única coisa que faz barulho na casa. Não sei onde meus óculos foram parar e tudo está embaçado. Pensei em esfregar os olhos para tentar ajudar, mas não me movi com medo de acordá-la. Foram os melhores trinta minutos de sono que eu já tive em muito, muito tempo. Ela ainda está transpirando, mas acho que também estou, faz calor e o lençol ainda esquenta por mais fino que seja. O sofá é grande, largo e confortável, mas tenho de tomar cuidado porque ela dorme um sono tranquilo sobre o meu corpo, extremamente calma, relaxada, a respiração constante. Tic tac, inspira, tic, tac, expira. Minha visão ficou mais turva. Tic tac, inspira, tic tac, expira. Tic tac. Tic, tac. Tic, t…

Me assustei, não sei porque. Minha visão ainda está turva. Não consegui enxergar a hora, mas o sol não nasceu ainda. Ela não se mexeu, o lençol caiu. Meu braço descansava sobre a lombar dela e o usei para tatear à procura do lençol, não encontrei, mas ela começou a falar. Ela conversa enquanto dorme, é engraçado.
– O que foi? – Ela perguntou, dormindo. Comecei a rir. – Piero, o que foi?
– Nada, amor. Pode dormir tranquila. – Respondi sorrindo, me segurando para não gargalhar e acordá-la de vez.
– Tá. Não me chama de amor.
–Pode deixar, amor. – Mexi no cabelo dela, rindo.
–Piero, não vou pedir de novo. Não faz isso.
–Por quê?
–Porque você me intimida até com as palavras. Não quero ser obrigada a te chamar de amor só porque você faz isso e eu me sinto mal por não retribuir.
–Você não precisa fazer isso.
–E você também não, mas faz mesmo assim.
–Eu te amo, Liadan.
–Também amo, mas não conta pro Piero. Ele vai se achar muito se souber que não consigo esquecê-lo, por mais que eu tente.
–Você gosta dele? – Perguntei, sem rir. Ela só fala assim quando está muito cansada. Lembro de quando Leah me contou isso, “ela conversa muito quando está cansada. Bastante. Eu converso com ela porque ela responde, mas nunca lembra, e acho que ela nem sabe que fala comigo, mas quando ela não está tão cansada, dorme normal, não fala. Ela não sabe. “
–Todo mundo gosta.
–Eu não gosto. –Fui falando conforme as ideias surgiram.
–Para Tiziano. Todo mundo sabe que até você gosta dele. Não tem como não gostar. Ele é um porre, como você fala, eu sei, mas é um amor de pessoa, e você sabe também.
Ela respirou fundo e não falou mais nada. Sorri. Beijei a cabeça dela e me concentrei no tic tac do relógio até conseguir dormir.

Acordei, agora sem sono. Fiquei encarando as pequenas luzes do sol brilhando no lustre, elas brilham em dobro, embaçadas. Preciso dos meus óculos. Pensei em levantar e arrumar a bagunça que fizemos na sala, mas não quero acordá-la. Não percebi como esse sofá é espaçoso até entender que, de alguma forma, ela está ao meu lado, e não sobre o meu corpo, como antes. Ela está transpirando. Procurei o controle do ar condicionado, e acho que encontrei, na mesa atrás de nós. Me estiquei, com muito cuidado, tentando alcança-lo. Esbarrei de leve, só um toque na cintura, e ela se incomodou dormindo. Mexeu a cabeça, continuou se espreguiçando. Acho que vai acordar. Não, não, não vira. Não! Merda!

– AI! – Ela gritou, nervosa, quando caiu. – PIERO! CARAMBA! E depois eu sou a egoísta.

Não aguentei e comecei a rir. Foi engraçado, muito engraçado e, bem, ela não está vestida e o lençol ficou comigo.

–Desculpa, Lia. É que… – Meu riso virou gargalhada, e tudo estava mais engraçado ainda justamente por ela estar irritada demais.
–Nossa, muito engraçado mesmo. Espero não ter caído em cima de alguma coisa pontuda e sangrar até a morte enquanto você se diverte.

Ela levantou com muita dificuldade, e estava andando estranho também, então achei melhor não contar agora que tem um pequeno caco de vidro nas costas dela fazendo o sangue se misturar ao suor.

–Você não pode mais vir na minha casa. –Ela disse, caminhando com cuidado. Tem alguma coisa errada, mas não sei se devo perguntar.
–Por quê?
–Mais um pouco e você destrói toda a mobília que acabei de comprar, parte dela ainda estou pagando, sabia? Olha essa bagunça. Meu Deus. –Soltei outra gargalhada, tudo fora de controle. – Vou tomar banho, e você precisa fazer o mesmo.
–Ótimo. Vamos. – Repondi, animado. Me sentei.
–Nem ouse se aproximar de mim! – Ela apontou o dedo para mim, voltei a rir. – Tem um banheiro aqui, só vê se não destrói ele também. E tira esse sorriso malicioso da cara.
–Então para de andar desse jeito pela casa.
–Que jeito? –Ela olhou pra si mesma e ficou sem graça.

Fiquei rindo, deitado, e fingi não perceber que ela correu para o banheiro.
Demorei até conseguir erguer forças para levantar e recolher as roupas no chão, meus óculos, os objetos caídos. Encontrei uma miniatura do coliseu de Roma e fiquei admirando os pequenos detalhes perfeitos quando ela gritou do banheiro. Gritou alto demais. Me assustei, coloquei a miniatura no lugar dela, ou melhor, onde me lembro de tê-la visto e corri tentando descobrir de qual porta a voz vinha.

–Liadan? –Gritei, antes de abrir a porta.
–Entra logo! – Ela gritou.
Encontrei as malas dela encima da cama e corri para o banheiro, que estava com a porta aberta. O barulho da água caindo.

–O que foi? –Perguntei, preocupado, colocando a cabeça para dentro do banheiro, sem saber se eu deveria entrar.
–Tira esse negócio das minhas costas. Agora! Está ardendo. – Acho que ela vai chorar a qualquer momento.

O caco de vidro!
Ela estava com as mãos encostadas na parede e a água caindo sobre as costas fazia com que o sangue nem fosse perceptível. E o estrago parecia bem menor quando eu estava sem óculos. Deve ter quantos centímetros? Cinco? Seis? Meu Deus, será que entrou muito? Não posso demonstrar que estou preocupado senão ela vai chorar e deve estar doendo mesmo.

–Tudo bem. É só um pequeno caco de vidro bem no meio das suas costas. Nem está sangrando. Não se mexe, eu vou tirar.

Falei para convencer a mim mesmo, e não a ela. Não gosto de ver pessoas chorando, mas detesto ver a Liadan chorando. Eu deveria ter tomado mais cuidado. Ela se retraiu quando puxei o caco de vidro e me assustei com o sangue jorrando. Acho que a água não estava ajudando.

–Tirou? –Ela perguntou chorando.
–Sim, mas…. –Ela saiu debaixo da água e o sangue praticamente jorrou escuro, como deve ser.
–Seca a sua mão e pressiona. – Mandou, ainda chorando. Frágil demais. – A pressão para o sangramento. – Ela explicou.

Tudo estava embaçado porque tem água nos meus óculos, mas fiz o que ela pediu. Demorou um pouco, mas parou de sangrar.

– Tudo bem? – Perguntei
–Da próxima vez me lembra de deixar você cair, ta bom?
–Ninguém vai cair da próxima vez. – Respondi sorrindo. Ela disse “próxima vez”.
–Vai sim, nem que eu tenha que te derrubar.

O chuveiro ainda estava ligado e ela ainda estava chorando. A virei de frente para mim e a abracei, confortei, para ver se ela parava de chorar. Ela encostou o rosto no meu corpo e beijei a testa dela, enquanto deslizava a mão pelo seu cabelo. Foi uma eternidade, e esperei muito para viver essa eternidade novamente. Eu poderia passar o resto da vida aqui, desse jeito, sem problema nenhum. O sorriso simplesmente se nega a sair do meu rosto.

–Eu gosto muito do seu cabelo, sabia? –Falei, para ver se ela ainda estava chorando. Acho que não, mas é sempre bom confirmar.
–Ficou estranho. –Senti que ela sorriu. Meu coração acelerou. – Mas se você tem um umpa-lumpa, meu cabelo pode ser roxo.
– Você implicou com isso! – Falei, rindo. – E eu nem sei o que é um umpa-lumpa.

Ela gargalhou. Odiei não poder ver o rosto dela direito. Odiei meu problema de vista e a água nos meus óculos.

–Qualquer dia eu explico com calma. –Ela falou olhando para mim.
Sorri. Ela limpou meus óculos, mas não adiantou porque a água continuou caindo. Ri mais ainda. Do nada, ela me beijou, mas se afastou rapidamente e riu.

–O que foi? – Perguntei, preocupado. Forcei minha visão.
–Alguém mordei meu lábio ontem. Está doendo. Acho que está inchado.

Ri, mas me senti um pouco culpado. Só um pouco. Coloquei a mão no rosto dela e usei o polegar para confirmar que sim, o lábio dela está inchado. Tadinha.
Ela me surpreendeu ao me envolver em um abraço e descansar o rosto no meu ombro. Respirei fundo e fechei os olhos.

–Tudo bem? –Ela perguntou, sem se mexer. O cabelo dela faz cócegas conforme a água o molda com pequenas ondinhas sobre o meu corpo. Pequenas ondinhas coloridas. Engraçado. Sorri.
–Temos que brigar muito. – Zoei, sorrindo.
–Você garante que não vai destruir a minha casa?
–Não garanto nada.
–Que bom, porque não estou afim de passar por tudo o que passei novamente.
–Eu também não. – Beijei o ombro dela, um simples toque.
–Qual o nosso problema?
–Eu viajo, você viaja, uma distância bem grande de onde moramos, você não gosta do meu trabalho, eu detesto os homens te olhando, você quer um cachorro, eu quero um gatinho, você quer a sua independência e vou continuar insistindo que não precisa, que eu cuido de você, eu quero três, quatro filhos, e você já surta pensando em um… –Ela colocou a mão na minha boca. Sorri, mas não sei se ela vê.
–Tá bom. Entendi. É muita coisa mesmo.
–Mas você gosta do meu sorriso e eu não vivo sem as suas loucuras, nós não vivemos sem fazer aquela bagunça lá fora, sem esse momento no chuveiro, sem esse machucado na sua boca ou os arranhões nas minhas costas que estão me matando, sem brigar por ciúme desnecessário. E não consigo me imaginar esperando outra mulher, além de você, no altar e sei que você não vai aceitar casar com ninguém além de mim. Vai além de mim e você, Liadan. Nós sabemos disso.

Ela sorriu e desviou o olhar entre os meus olhos e a minha boca. Meus olhos e minha boca. Meus olhos e minha boca.

–Eu quero te beijar agora, mas é sério, está doendo mesmo. – Ela disse, sorrindo. Sorri também.
–Tudo bem. Tenho muitos lugares para explorar.

Ela sorriu quando coloquei a mão em seu pescoço e dei beijos suaves, pequenos toques, no canto da sua boca, no pescoço, fui descendo com a mão, acompanhando a boca. Sorri quando ela me fez levantar e me beijou.

– Sua boca não está doendo? – Perguntei, rindo.
–Claro que tá, mas vou fazer o quê se você está perto de mim desse jeito?

Moldei o melhor sorriso de lado que tenho, porque sei que ela ama quando faço isso.
Me concentrei em diferentes toques. No jeito como a mão dela desliza pela minha bochecha, pelo meu rosto, o jeito delicado como os lábios dela encostam no meu, a mão dela deslizando pela minha barriga.
O jeito suave, e constante, como nossos corpos se tocam.

***

Me sequei, mas a calça e blusa ainda estão molhadas porque a Lia decidiu lavar já que tudo estava molhado e com cheiro das flores que estavam no vaso que quebramos, então não consegui vestir mais nada além da cueca. Procurei a toalha dela dentro do guarda-roupa, mas é muito confuso, e me distrai bastante olhando as roupas íntimas nas gavetas.

–Achou? – Ela gritou, me fazendo soltar uma calcinha preta e fechar a gaveta assustado. Ri. Peguei a toalha vermelha pendurada perto da porta e levei até o banheiro.
–Quer que eu traga uma roupa também? –Perguntei, mas era apenas pretexto para ficar olhando-a mesmo.
–Não precisa. Nem sei o que vestir. –Ela sorriu. Sorri também.

Voltei ao guarda-roupa dela e procurei um vestido, algo leve, ou um short e uma regata, como ela usa sempre. Peguei um vestido vermelho, só por ser vermelho mesmo, e me distrai de novo nas gavetas.

–O que você está fazendo? –Olhei para trás assustado. Ela estava encostada na porta, enrolada na toalha, rindo.
–Eu… Procurando a sua roupa.
–Sei.

Ela balançou a cabeça negativamente e passou por mim, sorrindo. Fiquei parado na porta, de braços cruzados. Era como se eu não estivesse ali. Ela pegou um sutiã preto e fez mágica para colocá-lo sem tirar a toalha. Não vi direito a cor da calcinha, mas acho que era preta. Ela pegou o vestido vermelho que deixei sobre a gaveta aberta e olhou para mim, sorrindo. Fiquei com vergonha, mas continuei, como se fosse tudo normal.

–Você vai ficar aí muito tempo?
–A vista daqui é excelente, mas se você tirar essa toalha… vou até aí.

Ela sorriu, balançou a cabeça novamente e vestiu o vestido por cima da toalha, depois a tirou, sem problema nenhum. Fiquei bem surpreso, mas escolhi o vestido certo, sem dúvida nenhuma. Gostei do decote -grande-, gostei do cumprimento -curto-.

–Imaginei isso de outro jeito. –Falei, ainda de braços cruzados.

Ela virou para o lado do espelho e pegou um potinho de creme, como os que a minha irmã tem, e exatamente como ela, tem aos montes, deve dar para abrir uma loja. Observei enquanto ela abria o produto e passava na pele. No rosto, no braço, ela mexeu no cabelo, arrumou jogando ele de um lado só. Sorri quando ela levantou, um pouco, o vestido para passar o creme branco na pele. O cheiro de livro novo, campo e chocolate tomavam conta do local.

–Que foi? –Ela perguntou. Acho que estou encarando-a por tempo demais. – Você deveria parar de me olhar, sabia?
–Eu devia mesmo… mas não vou fazer isso. Não depois de passar meses esperando por esse dia. Não vou desperdiçar esse momento olhando para qualquer coisa que não seja você, ou que não seja você tirando a roupa, ou colocando a roupa, ou assim, do jeito que você está. Incrivelmente linda e incrivelmente sexy… Pupa.

Sorri porque sei que ela ama quando falo essa palavra.
A observei guardar o creme e pegar algo na primeira gaveta.

–O que aconteceu com você? –Ela perguntou, sorrindo, caminhando na minha direção. Segurei ela pela cintura. A beijei de leve, rápido. Ela sorria olhando nos meus olhos.
–Vamos ali naquela cama que eu te conto. –Ela gargalhou.
–Um. –Ergueu um dedo. – Abaixa esse fogo. Dois. –Ergueu outro dedo. – A cama está ocupada e três, você não cansa?
–Se eu canso disso? –Beijei a boca dela, lentamente. – Disso? – Deslizei a mão pela cintura dela. – Ou disso? –Levantei o vestido dela, pela parte de trás. Ela riu e bateu na minha mão.
–De tudo. Vou comprar alguma coisa para comermos. Você prepara o café. E vai vestir uma roupa.
–Você não tem comida? –Perguntei só para irritar, porque já sei a resposta. Caminhei atrás dela, rindo da forma como o vestido balança quando ela anda, não foi só para irritá-la porque ela olhou para trás e cruzou as mãos, estragando tudo. Eu ri.
–Vou embora em dois dias. É claro que não tem comida. Não pode ter comida. Algum pedido? Pão? Bolo?
–Você.
–Vou trazer pão e bolo. –Respondeu rindo. – E vou passar na farmácia para comprar band-aid, ou algo para fazer curativo nisso aqui atrás.
–Posso ser médico, se você quiser. –Ela me olhou de cima à baixo, mas meu sorriso de lado com certeza me entregou.
–Não mesmo, obrigada. Só, não destrói a casa, tá bom? E é sério, coloca uma roupa.

Antes dela passar pela porta a gritei, ela voltou até ocorredor, para conseguir me ver. Apoiei o cotovelo no balcão e descansei o rosto sobre as mãos.

–Ninguém acreditava que isso poderia acontecer, sabia? O mundo inteiro.

Ela sorriu.

–Então lembra ao mundo como nós éramos… – Ela gritou. – E que podemos voltar. – Ouvi-la rir e fechar a porta.

Gostei do que ela disse. Na verdade, eu precisava do que ela disse. É a única parte que faltava.
Preciso ligar para o Tiziano. Preciso ligar para ele agora.

***

Liadan.

Liguei para Antonella. Optei por ela primeiro, tendo também Mariagrazia e Tiziano como escolha. Me encostei na parede do elevador. O corte nas minhas costas arde desde que a água caiu sobre ele. Andar está mais fácil, embora ainda doa, bem menos que antes, e mais suportável que a dor nas costas. Ela atendeu no quarto toque, o que me surpreendeu porque pensei que ela não fosse atender por estar trabalhando.

–Bianca Neve! –Atendeu, animada. – O que aconteceu? Você ainda vem no domingo, né?
–Claro que vou, Antyh. Já está com saudade, é?
–Claro que estou. Mas me diga, qual a novidade?
–Piero dormiu aqui em casa. –Esperei ela gritar que sou louca que tenho algum problema, mas ao invés disso ela gargalhou e parecia bem feliz.
–Até que enfim, Lia! Aquele Deus Grego deve estar desfilando só de cueca na sua casa agora. –Eu ri, a porta do elevador abriu, continuei rindo. – NÃO ACREDITO! Ele está assim mesmo?
–Uhum. – Sussurrei porque passei pelo porteiro, na entrada do edifício.
–E onde você está? Por que não está come ele? Que horas ele chegou?
–Uma pergunta por vez, Anty. Estou indo comprar alguma coisa para comer e vou passar na farmácia.
–Você se machucou? Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus. Até que enfim.
–Antonella!
–Tá bom, tá bom. O que você quer?
–Ele está… diferente.
–Diferente como?
–Diferente, diferente.
–Você também está diferente, Lia. Vai por mim, tudo normal.
–Eu não estou diferente daquele jeito. Não mesmo.
–Okay, entendi o que está acontecendo. Você topou tudo que ele pediu?
–De certa forma, sim.
–Então você está igualzinha a ele.

Separei dois bolos diferentes, pedi alguns pães e suco também.

–Lia, eu vou ter que desligar porque tem gente entrando aqui. Tenho de trabalhar.
–Tudo bem, obrigada Anty.
–Lia?
–Sim.
–Estou muito feliz por vocês terem voltado. Muito feliz mesmo.

Sorri e desliguei o telefone.

***

Tiziano.

Preciso dormir só mais um pouco. Só mais três horas. Se eu ignorar, a pessoa vai desistir. O toque do telefone está me irritando. Odeio ser acordado por pessoas impacientes que não entendem que férias são feitas para dormir até mais tarde e passar o resto do dia fazendo nada. Acordei nervoso e peguei o telefone, no chão, perto da cama, irritado.
Piero.
Era só o que me faltava.
Ai, Lia… o que você fez dessa vez?

–Pronto. –Falei, ao atender, tentando parecer o menos irritante possível.
–É o Piero. –Como se eu não soubesse. – Desculpa te acordar tão cedo, mas é que eu preciso de um favor.
–Você tem precisado muito de favores meus. Não sei se ficou muito claro quando eu falei da última vez, mas eu não gosto muito de você. –Ele riu e pensei que desligar era a melhor coisa a ser feita. Era o que eu queria fazer. – Cadê a Lia? O que aconteceu com ela?
–Ela está bem. Nós podemos voltar. –Soltei o ar de uma vez, eu sequer tinha percebido que o estava prendendo. Sorri. Finalmente! Jovens são muito confusos, mas engraçados.
–Acho que vocês podem sim. Você está com ela?
–Estou. Quer dizer, estou na casa dela. Ela saiu para comprar comida. –Uma pausa. Eu não tenho nada a dizer, se é o que ele pensa. – Compus uma música.

Prometi olhar a música, a letra, a melodia. Prometi fazer isso com cautela porque ele escreveu pra Lia, pensando nela, e quer que seja surpresa de alguma forma. Primeiro, achei muito estranho ele querer que eu cante, mas a música não foi feita para o estilo vocal dele. Acho que ele a escreveu para que eu a cante. Eu disse que veria depois, mas assim que ele desligou o telefone , abri o e-mail e dei uma olhada no conteúdo que ele enviou. Gostei muito e com certeza a Lia vai gostar também. Jovens são extremamente imprevisíveis, principalmente os apaixonados.
Falando em jovens…

Buongiorno, Tizi.
Buongiorno, Lia. Che c’è di nuovo? –Perguntei rindo por causa da animação dela.
–Pensei que você estivesse dormindo, sempre “dolce far niente”. – Ela riu.
–Acabei de acordar. Quero acordar cedo para ficar mais tempo sem fazer nada. –Expliquei, de certa forma não é de todo mentira. –Quer vir aqui para casa? Você morre de saudade de mim, que eu sei. –Brinquei. – Nunca imaginou que eu fosse chato dessa forma, né?
–Na verdade, nunca imaginei que teria o número do seu telefone na minha agenda. Acho que você deveria vir ver como ficou meu apartamento. Eu te amo, Tizi.
–Também te amo, Lia. Quando a tour terminar pode deixar que me mudo pra sua casa, mas diz, o que aconteceu? Estou ficando preocupado. –Não estou não, eu sei o que aconteceu e até imagino o conselho que ela quer. Me sinto com dois filhos passando pela puberdade.
–O Piero apareceu aqui em casa ontem à noite.
–Você diz que me ama e dormiu com outro homem? – Falei, rindo. Sempre fazemos esses showzinhos meio idiotas só para alegria interna mesmo.
–Aposto que você deve ter feito o mesmo. –Sorri, mas não do que ela disse e sim do refrão da música de Piero. Gostei mesmo.
–Talvez. Então, vocês conversaram?
–Também. –Agora eu ri mesmo.
–Então posso saber porque a senhorita está falando comigo enquanto o homem da sua vida está com você?
–Ele está estranho, Tizi.
–Estranho como, dona Liadan?
–Estranho do tipo… –ela fez uma pausa e começou a falar sussurrando. – …do tipo que só pensa naquilo. –Foi inevitável a minha gargalhada.
–O que você queria que ele fizesse?
–Tiziano! – Ela repreendeu. Parei de gargalhar, mas continuei rindo.
–Okay. Quantas vezes?
–Quantas vezes o quê?
–Liadan!
–Tiziano!
–Duas? Três? Você fugiu antes da terceira, né? É bem a sua cara isso. –Ela ficou muda, sinal de que acertei. Foi impossível não gargalhar novamente. – É isso que você acha estranho?
–Claro!
–Você já se viu no espelho?
–Estou como sempre estive.
–Claro que não, dona Liadan. Você mudou, e mudou muito. Sem falar que ele deve ter tudo em mente, ele teve quanto tempo para pensar nisso? Três meses?
–Ficamos separados quatro meses e um pouquinho.
–Lia, volta logo pra perto dele e aproveita. Viajamos na segunda. Não esquece que você também queria isso. Queria muito. Só… deixa seus ideais de lado e curte a sua vida.
–Mas acho que isso é errado, não é?
–Sabe o que eu acho? Acho que você ligou pra sua amiga antes de ligar pra mim e ela não brigou com você, não disse que o que você fez foi errado, então você recorreu a mim porque sabe que não gosto muito dele. Mas não, Lia. Não é errado. É a sua vida. E eu não quero mais te ver chorando.
– Tem certeza? Eu… estou tão confusa! O que eu faço?
–Okay. Calma. Presta atenção: tem vinho na sua casa? Aposto que não. Passa em um mercado, compra um vinho, mas não branco, compra tinto porque com certeza vai ficar bonito no seu corpo. Ele vai enlouquecer! Compra morango também, não sei porque, mas morango sempre termina em coisa boa. Compra chocolate, depois você derrete o chocolate….
–Tiziano! Que isso?
–Fica quieta e me escuta. Passa em alguma farmácia e compra proteção. Muita. Sou novo demais para ter um neto. Sabe o que você pode fazer?
–Não. O quê?
–Comprar brinquedos.
–Tiziano… –ela riu, eu ri também. É engraçado deixa-la constrangida. – Obrigada pela ajuda, mas acho que posso resolver sozinha daqui pra frente.
–Aquele lance da barba, ainda deixa você vermelha?

Nenhum homem pode se aproximar demais da Lia sem deixar marcas vermelhas por causa da barba, mas sempre some rápido porque todas as vezes que zoamos, e tal, a marca some rápido demais do pescoço dela. Exceto quando Justin a beijou, a marca demorou para sumir, mas sumiu e é isso que importa.

–Deixa. Acho que é alergia, não sei. Por quê?
–Suas pernas estão vermelhas? –Ela demorou para responder. Até a imagino olhando para as pernas, procurando algo errado. Com certeza, ela não entendeu. Ri. – Não tão embaixo Liadan! Mais em cima! Onde ele andou esfregando o rosto.

A ouvi bufando e caí na gargalhada.

–Nos vemos na segunda. Quero muitos detalhes.
–Vou te dar detalhe nenhum.
–Compra os brinquedos.
–Vou comprar uma casa no ártico.
–É sério, compra os brinquedos.
–É sério, vou sair da Itália.
–Não vai, não.
–Conversamos na segunda.

Continuei gargalhando, mesmo depois de ter desligado o telefone.
Essa menina me faz bem até quando fica constrangida. Foi a melhor opção que fiz, seguir o conselho de Justin. Ela realmente erradia luz por onde passa. Espero que Piero entenda isso de uma vez por todas.
Continuei rindo, olhando para a tela do notebook.
“Potremmo Ritornare”.
Esses dois.

***

Liadan.

Estou demorando, com certeza, mas o corte nas minhas costas simplesmente inventou de sangrar na frente do médico da farmácia e tive de deixa-lo fazer um curativo. Band-aid não ia resolver. Comprei gaze, esparadrapo e pomada para não ficar marcado, porque, segundo o médico, não foi tão pequeno quanto Piero disse. Eu segurava quatro sacolas, duas da padaria, uma da farmácia e outra do mercado onde comprei vinho. Uma mulher me acompanha desde que passamos pela entrada. Ela é loura, bonita, mas não loura do tipo cabelo quase branco, loura do tipo ‘dourado’, deve ter, no máximo, uns 28 anos.

– Oi. – Ela sorriu, sorri de volta. Entramos no mesmo elevador. – Décimo andar.
– Você mora no décimo também? – Perguntei para puxar assunto, ela parece legal. – Não me lembro de ver você por aqui.
–Meu ex mora no décimo. Vim fazer uma visita. –Ela sorriu constrangida.
–Ah, sim. Reconciliações são ótimas. –Desde quando virei psicóloga?
–E bem trabalhosas também. –Ela sorriu. – Você se mudou há pouco tempo?
–Quatro meses.
–É um ótimo lugar. Todos são muito legais, compreensivos.
–É. São sim. –Concordei, mas não conheço muitas pessoas, quase nem vivo aqui.
–Nós terminamos porque eu pedi um tempo para pensar. Ele queria casar e me senti sufocada. Pensei que seria fácil ficar sem ele mas não foi tão fácil quanto eu pensei. Liguei hoje, ele foi muito atencioso, sempre é. Falei que viria, mas acho que ele pode estar gostando de alguém, é que eu sinto, entende? Minha mãe ama ele. Coisa de quem é da marinha, sabe? Consegue ser amado por todo mundo.
–Você é namorada do Ian? –Perguntei, sorrindo. Ian nunca me falou dela, mas com certeza teria falado se tivéssemos tido a oportunidade.
–Sou. Você conhece ele?

O elevador abriu e saímos. Parei em frente a minha porta. Ela sorriu.

–Conheço. Ele é bem gentil, me ajudou muito na mudança.
–Ele é assim.
–Se serve de ajuda, nunca o vi falando com nenhuma mulher. Nunca o vi andando com nenhuma mulher e ele nunca falou sequer sobre amigas. –Ela sorriu. Deu para ver a esperança nos olhos dela. Com certeza alguém vai casar em breve. – Você está linda. Amei os sapatos. – Não amei tanto assim não, falei mais para encorajá-la. Ela sorriu e agradeceu.

E não tem ninguém para me encorajar. Tudo bem, me viro sozinha com Piero mesmo. Abri a porta e me assustei quando encontrei a sala totalmente organizada. Toca alguma coisa que acho que é ópera, baixo, calmo.

–Piero? Demorei porque o corte nas minhas costas…. AH MEU DEUS! Onde você achou isso? – perguntei, rindo.

Ele usava um avental preto, não sei mesmo onde o encontrou, me olhou sorrindo. Mandou um beijo ar. “Eu beijo melhor que cozinho” estampado bem grande no avental. Eu não mereço certas coisas.

–Gostou? –Perguntou, rindo. Coloquei as sacolas no balcão e parei, massageando as têmporas. Meu Deus, ele é um adolescente, só pode.
–Preciso de café. Me diz que você fez o café. –Falei, de olhos fechados.
–Claro que eu fiz. Demorei quase vinte minutos para encontrar as capsulas, mas fiz.
–Nossa, você demorou vinte minutos para encontrar as capsulas ao lado da cafeteira? – Perguntei, abismada.
–Claro. Você acha que eu entendo disso? Só vejo no comercial. “Nespresso” –Ele imitou o rapaz do comercial. Eu ri. – Na minha casa não é assim, na do Ignazio é, mas é sempre ele quem faz. –Ele começou a esvaziar as sacolas. Sentei no chão mesmo, porque não aguento olhar para ele com aquele avental e não rir. O balcão tapa a visão à minha frente. – Estive pensando e nós temos que sair hoje.
–Temos, é?
–Claro. Você pagou o jantar ontem, hoje é minha vez.
–Não sei não. Onde você quer ir?
–Tem um restaurante que faz sushi mara…
–Não como sushi. – Falei, rindo. Me sentei de costas pra ele, na sala, mas antes abri as cortinas e liguei o ar condicionado para não morrermos de calor.
–Claro que come, todo o mundo come sushi.
–Eu não como. – Falei, rindo. Ele não estava acreditando.
–Desde quando?
–Desde sempre.
–Mas como…?
–Eu não vou comer nada cru, Piero. Que nojo! Só de pensar já me sinto nadando em um rio, pescando um peixe com a mão e o comendo sem sair da água. Aiii. –Me deu agonia. Ele gargalhou.
–Não é bem assim. E os orientais comem, sem problema.
–Tudo bem. Deus sabe muito bem o que faz. Eu não sou oriental, moro bem longe deles e não vou comer nada cru. Ai, que horror! Já pensou comer aqueles peixinhos bem pequeninos, vivos, e eles procriarem no seu estômago? Vou vomitar! Transformar o estômago em um aquário ambulante.

Ele gargalhou muito, mas eu estava falando sério. Não como sushi e ponto. Ele tenta recuperar o fôlego, mas volta a rir. Não é tão engraçado assim, é?
Comi pão, pães. Bebi café. Tudo distante de Piero. Ele me encarava rindo, encostado na pia. Não aquele sorriso de lado, mas sim aquele sorriso malicioso.
Acho que gosto desse sorriso.
Deitei no sofá e coloquei o braço sobre os olhos. Tudo preto. Apenas o som de violino e piano ao fundo, o som de Piero abrindo alguma coisa, talvez o vinho. Relaxo. O corte nas minhas costas começa a arder, sento novamente, apoio a cabeça no sofá e continuo de olhos fechados. Senti a presença dele se aproximando, o calor que erradia do seu corpo. Não abri os olhos. Ele colocou uma taça sobre a minha perna, mas a mão ficou parada sobre a minha coxa, aperta um pouco, solta, aperta um pouco, solta. Senti os dedos dele mexendo no meu cabelo, massageando meus ombros. Demorei a entender que, na verdade, o calor erradia do meu corpo e não do dele. A mão dele, o toque dele é gelado.
Não me importo com as besteiras que ele fala, e se tornaram muitas, com as baixarias, com as idiotices. Com tudo o que ele diz, baixo, suave, ao meu ouvido, sussurra coisas que vai fazer, e depois faz. Não me importo mesmo. Por mim, tudo bem. Eu gosto disso, é claro que eu gosto. Aquela voz grave, ameaçando fazer besteira, leva qualquer pessoa ao delírio. Eu posso conviver com isso. Não! Eu quero conviver com isso: com a casa bagunçada, descobrir outros móveis que podem substituir a cama como o sofá, a minha estante, aquela bancada gelada da cozinha, aquela cadeira confortável, o chão gelado… Eu quero isso, é claro que eu quero. Quem não iria querer? Só não vou falar isso em voz alta.
Sorri absorta em meus pensamentos nada exemplares.
Mais um pouco e eu durmo, só mais um pouco.
A mão dele tocou meu queixo suavemente. Deslizando o dedo, acho que é o polegar, pelo meus lábios. Não sorria, Lia. Não sorria! Tarde demais. Sorri.
A respiração dele, quente, perto da minha boca fez um arrepio percorrer meu corpo. Tenho certeza de que aquele sorriso de sempre está moldado na boca dele. Não vou abrir os olhos.
Um toque suave sobre os meus lábios. Outro toque, um pouco mais demorado. Outro. Outro. Outro. Beijos, toques e tudo de novo.

***

Piero.

Ela está sentada ao meu lado, mas a envolvo em meus braços e ela descansa a cabeça em meu ombro. Assistimos qualquer filme na televisão. Alguma coisa com Hugo Cabret, eu acho. Ela disse que gostou dos olhos do menino, bem azuis. A história é estranha, mas porque não estou prestando atenção direito. O vinho, ela, a comida, ela. Tudo é mais importante. Ela. Sempre ela.

– Sabe no que eu estou pensando? –Falei, durante o comercial.
–Não. No quê?
–A Maria vai ter um ataque. –Falei, sorrindo. Imagino os gritos de felicidade dela.
–É capaz de soltar fogos. –Ela riu. Meu coração bateu acelerado, como fez durante o dia todo.
–Devíamos avisá-la.
–Devíamos deixar ela descobrir sozinha.

Meu celular tocou, em algum lugar da casa. Não nos importamos em atende-lo. Mas tocou novamente e novamente. Lia foi atrás dele, fiquei sentado à observando. Ela o encontrou no chão, embaixo da cadeira na cozinha. Voltou rindo.
–Maria. – Ela disse entregando o celular na minha mão. Voltou a deitar o rosto no meu ombro e a envolvi em um abraço. Atendi.
–Mamãe quer saber se você vai vir pra casa no final de semana ou ela pode sair com o papai?

Olhei para Lia, deitada, concentrada. Tenho dois dias, não vou sair daqui.

–Volto na segunda. Vocês podem sair, sem problema.
–Você não está com aquela chata da Rebecca, né Piero? Se você estiver com ela, eu nunca mais vou falar com você. Nunca mais! Ninguém suporta aquela mulher, ela é falsa e você devia saber disso. – Comecei a rir, Lia ficou me encarando, sem entender nada. – Reclama do Alessio mas me aparece com a Rebecca? Pelo amor de Deus! E só pra você saber, voltei com o Alessio! A Lia me aconselhou, falou com ele também, nós conversamos e voltamos. Já faz quase duas semanas. Então, quando você o vir, se lembre da Rebecca, se lembre que ninguém gosta dela e todos gostam do Alessio. Não quero mais ver você implicando com ele. Deixa a gente errar, deixa a gente aprender igual a você, tá bem?
–Sim, senhora. – Respondi rindo e me perguntando como ela teve fôlego para falar tudo isso de uma vez só. Com certeza ela ensaiou muito antes de me ligar. Conheço aquela mimada. – Ensaiou muito bem o seu discurso.
–Só isso? Cadê aquele monte de xingamento, como da primeira vez?
–Se é o que você quer, por mim tudo bem. Não dá para ficar sem falar com você, mimada. –Ela riu.
–Não. Tem alguma coisa errada. O que aconteceu? – Lia começou a rir. Comecei a rir também. Entreguei o telefone a ela.
–Ai, pega isso. Explica pra ela. – Falei, ela pegou o telefone, ainda rindo.
–O que ele quer dizer, Mari, é que ela vai se desculpar com o Alessio, vai levar vocês para jantar. Vai sim, fica quieto. –Ela falou para mim, quando eu fiz careta e disse que não ia fazer isso. – E não vai dar chilique. – Uma pausa breve.– É claro que sou eu. Não reconhece a minha voz?
–Coloca no viva voz. –Pedi, mas ela já estava colocando.

Não entendi muita coisa. Só um “meu Deus, vocês voltaram. Mãe, a Lia e o Piero voltaram. Voltaram” e muitos, muitos gritos. Gritos agudos que doem ao ouvido. Meu Deus.

–Maria, se acalma. – Falei preocupado.
–É Mari, se controla amore. – Disse Lia. Estávamos os dois sentados, olhando um para a cara do outro, com o celular no sofá, entre nós.
–Me controlar? –Ela gritou, eufórica. A Lia olhou para mim rindo. Sorri para ela, sorri dela. Não aguentei e a beijei– como eu vou me controlar? Meu Deus! Finalmente! Vocês estão juntos! Eu preparo o casamento, Lia, fica tranquila. Você tem apenas que ficar grávida, cuidar das crianças e manter o Piero na linha. Eu resolvo o resto tudo. Meu Deus, vocês voltaram. Vocês voltaram.

Tudo bem, estava ficando vergonhoso. Mas a Lia ria tanto e acho que nunca ouvi tanta felicidade assim com uma notícia.

–Ta bom, Mari, se controla. –Falou a Lia, sorrindo.
–Só vou me controlar quando Piero colocar um bebê na sua barriga. Quando aparecer fotos de vocês casados nas capas de revistas. Não! Quando vocês tiverem uma menina e colocarem o nome dela de Mariagrazia. Eu mereço isso depois de tudo que aguentei. Vocês acham que foi fácil esse término? Lógico que não foi. Eu mereço uma homenagem!
–Mas não foi nós quem terminamos? –Perguntei, rindo, mas só para pirraçar mesmo.
–E quem dependia desse relacionamento? A Mariagrazia que você vai colocar na barriga da Lia, a minha sobrinha, o meu sobrinho. Vocês criaram um mundo lindo de esperança e finais felizes, depois destruíram. Agora reconstruíram de novo. Eu amo vocês. – Essa última frase foi gritada e a ligação caiu.
–Ela é doidinha. – Falei, rindo.

Dessa vez foi ela quem me beijou.

–E nós amamos a loucura dela.
–Nossa filha poderia ser como ela. –Falei, rindo para provocar novamente.
–Seria uma honra bem grande, fácil de criar, mas uma dor de cabeça bem grande quando começar a atrair os namoradinhos. E eu não falo por mim. – Ela sorriu e pegou a almofada que havia caído no chão.
–Pensando bem, ela pode parecer com você.
–Se você acha que ajuda.

A olhei de cima a baixo. Com certeza não é a melhor ideia.

–Acho que não precisamos de filhas.

Ela gargalhou e colocou um CD qualquer para tocar. Praticamente corri e a peguei no colo, as pernas dela envolveram minha cintura. Ela ria, claro.

– Tem certeza? Porque parece que você está caminhando na direção errada.

A coloquei no chão, mas os braços continuaram ao redor do meu pescoço. Tão linda. Ela sorri com os olhos. Lindos, olhos cinza. Arrumei o cabelo dela atrás da orelha.

–Eu? Você que estava caminhando pelo lugar errado. Me pergunto onde você estaria se eu não estive aqui, o tempo todo, te mostrando onde pisar, qual caminho seguir.

Beijei a boca dela. Sorri.
Onde ela estaria?

Continua…
Fic revisada em 2023..

12 comentários em “Fã Fic – Per Te Ci Sarò ( Capítulos de 71 a 77)

  1. Quando Píero disse: você gosta do meu sorriso e eu não vivo sem as suas loucuras, nós não vivemos sem fazer aquela bagunça lá fora e eu esperei muito para viver essa eternidade novamente.
    Nossaaaaaaa! Que homem e esse, meu Deus!
    Já curiosa para saber como será a viagem da Liadan longe de Píero. Será que vai desistir da viagem? Imagina durante a viagem Píero fazendo uma loucura de amor.
    Aiaiaiai! Vai ser muito emocionante. Adorei o chilique da Maria, ela e mesmo uma doidinha muito engraçada. Aguardando ansiosamente o próximo capitulo

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  2. com certeza este capitulo fez seus eleitores arrepiar. Como e lindo o amor ,a reconciliação. Estes dois ainda vão surpreender muito, acredito que vamos ler ,ver muitas surpresas de amor do Píero ou da Liadan nesse tour que a lia vai fazer. Vamos que vamos,aguardando o próximo capitulo.

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  3. Que capítulo lindo !! Tá um amor essa nova fase deles. E esse avental do Piero ???? Preciso de um desse, de preferencia com um Piero de brinde! kkkkkkkkk
    Esse capítulo tava muito gostoso de ler, super bem escrito, romantico e ousado. Tá cada vez melhor ❤ ❤ ❤

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  4. Nem preciso falar q eu tô amando tudo isso
    Como senti falta desses dois
    O Piero cheio de fogo kkkkk quem agüenta?
    Eu tô amando essa nova fase dos dois
    Só a Maria mesmo pra fazer escândalo
    Fiquei preocupada com a namorada do Ian
    Será q dará merda? A Lia falou q ele nunca esteve com nenhuma menina mais esqueceu de se incluir na contagem
    Amei o cap
    Já quero mais e mais
    Amo esse dois e amo vc

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